Histórias de superação e 98 atletas militares já classificados para as Olimpíadas de Paris
Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), coordenado pelo Ministério da Defesa, apoia esportistas brasileiros para que possam alcançar a melhor performance. Atualmente, a iniciativa conta com 533 militares
A vaga olímpica é a concretização de um sonho que envolve treinamento, suporte, abdicação de tempo, derrotas e vitórias. É por acreditar no poder transformador do esporte que o Programa Atletas de Alto Rendimento (PAAR), coordenado pelo Ministério da Defesa, apoia esportistas brasileiros para que possam alcançar a melhor performance. Atualmente, a iniciativa conta com 533 militares, dos quais 98 já estão classificados para os Jogos Olímpicos de Paris. Conheça, agora, a história de três esportistas que conquistaram a tão sonhada vaga no maior evento esportivo do mundo.
A carioca Laura Amaro está com sua primeira vaga olímpica carimbada para Paris no levantamento de peso. Com 1,63 de altura, ela garantiu o seu lugar ao levantar 253 kg em Phuket, na Tailândia. Foram 112 kg no arranco e 141 kg no arremesso. Força e determinação são as marcas da Terceiro Sargento Laura Amaro. Mas, como tudo teve início?
Do treino ao sonho olímpico - Forças Armadas e Laura Amaro são histórias que se misturam. A relação começou muito cedo, quando ela tinha apenas 13 anos. A origem de tudo foi no Programa Forças no Esporte (PROFESP), outra iniciativa da Defesa, que oferece prática de atividades esportivas e socialmente inclusivas para jovens e crianças em situação de vunerabilidade, no contraturno escolar, dentro de organizações militares. “Eu lembro, perfeitamente, do primeiro dia que eu fui ao quartel, que estavam todos os militares fazendo Treinamento Físico Militar (TFM) e eu passando com os meus pais para ir lá no levantamento de peso. E isso já me despertou”, declara. A partir daquele momento, o Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN) entrou para a família de Laura.
A rotina de atleta e de militar chamava a atenção, e fazia sentido querer integrar os dois universos. Na cabeça de criança, pensar que a atleta poderia virar militar e praticar o levantamento de peso ainda era uma brincadeira, mas com fundo de verdade. Afinal, era a primeira vez que ela tinha contato com a modalidade. A virada de chave veio quando ela foi disputar os Jogos Olímpicos de Inverno da Juventude na Noruega, em 2016. Com o resultado, a brincadeira tornou-se mais séria, e o alto rendimento passou a ser uma possibilidade.
A partir de então, começou o desafio de conciliar estudo e treinos. Laura sempre fez questão de priorizar os estudos, até depois de finalizar o ensino médio. Hoje, é formada em educação física e está à espera do fim dos Jogos Olímpicos para dar continuidade ao bacharelado. Ela também lembra que, ao entrar no Paar, aos 19 anos, a primeira coisa que fez foi investir em um carro, para ganhar tempo e aproveitar melhor o dia. “Isso mudou a minha carreira inteira. Foi um momento em que eu consegui descansar mais, consegui otimizar a minha vida para fazer faculdade. Sem a Marinha, eu, simplesmente, não conseguiria”, destaca.
Quem olha a Laura hoje, consolidando sua carreira no levantamento de peso, não imaginava que a vaga olímpica não era bem um sonho ou uma meta. Na verdade, ela sempre quis ter sucesso no esporte. Era apenas a vontade de ser cada vez melhor. Ao olhar para trás, ela consegue nominar ao que sempre quis. Os valores olímpicos agora seguem tatuados no braço: excelência, respeito e amizade.
Com o passar da jornada, a Terceiro Sargento Laura Amaro tem feito história. Em 2021, ela conquistou a medalha de prata no mundial de levantamento de peso, em Uzbequistão. Foi a primeira medalha feminina da história do Brasil no evento. Nos Jogos Pan-americanos de Santiago em 2023, conquistou o bronze na categoria 81 kg. E na Copa do Mundo de Phuket, na Tailândia, competição que garantiu sua vaga para Paris, ela chegou ao top 10 do ranking mundial em sua categoria.
Quando criança, a pequena Laura Amaro queria ser jogadora de futebol. O levantamento de peso não foi um amor à primeira vista. Mas quando ela sentiu a adrenalina das primeiras competições, a rota alterou completamente. Os sonhos mudaram, e ela, agora, veste a tão sonhada farda branca da Marinha. De lá para cá, o local de treinamento tem sido no CEFAN, que tem o maior Centro de Levantamento de Peso da América Latina, e ela segue na frequência de se superar a cada dia. Nessa ligação direta com as Forças Armadas desde muito cedo, o Programa Atletas de Alto Rendimento segue sendo um apoio desse legado que está só no início.
“Falar sobre o PAAR é a mesma coisa que falar sobre a minha carreira, e isso já diz tudo. Só pelo fato de eu ter ingressado no PROFESP e, agora, estar no PAAR, é algo que eu me orgulho muito. Para mim, hoje, é um motivo de orgulho e de pertencimento, de saber e fazer parte de um programa que ajuda tantas pessoas e que é motivo de representatividade para tanta gente”, evidencia.
Outra história que cativa os corações é a do Terceiro Sargento Luiz Maurício da Silva. Não faz muito tempo, dia 30 de junho, Luiz escreveu um novo capítulo da sua vida. Ele tinha nas mãos a última chance de conquistar a vga para ir aos Jogos Olímpicos de Paris, e não desperdiçou. Conquistou a medalha de ouro no lançamento de dardo masculino, bateu o recorde sul-americano e alcançou o índice olímpico.
Mas nem sempre foi assim. O esporte começou na vida do Luiz por meio de um projeto de extensão da Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2011. O intuito não era formar atletas profissionais de alto rendimento, mas cidadãos. E foi lá que ele passou por todas as provas do atletismo. Jogou futebol, handebol e também treinou natação. Ali já estava confirmada a pré-disposição ao esporte. Em 2015, o lançamento de dardo surgiu para mudar tudo. Naquele mesmo ano, ele foi campeão brasileiro mirim, e o rumo começou a mudar. Luiz percebeu que poderia dar mais de si naquela modalidade.
A virada de chave ocorreu na sua primeira competição internacional, em 2018. “Eu fui para o Mundial Sub-20 e fiz a pior competição da minha vida. O índice era para competir a 70 metros, e eu fiz 60 na competição. Fiquei quase em 8º lugar. Desde então, foi a melhor experiência do atletismo que eu tive, porque eu vi que tinha que me dedicar 100%”, recorda.
Mais do que um programa, um lar - O bom desempenho de Luiz tinha começado a tomar proporções maiores, mas a pandemia o fez perder o suporte dos treinementos. Ele não tinha técnico, patrocínio e nem lugar para treinar. Foi quando a Comissão de Desportos do Exército (CDE) descobriu o atleta, e Luiz foi incorporado à Força Terrestre em 2020, por meio do PAAR.
“Foi a primeira vez que fiquei longe de casa. Tomei essa decisão de ir para o Rio de Janeiro, arriscar a sorte. Eu não tinha treinador, e foi no Exército que o conheci também. Até eu chegar lá, não passava na minha cabeça me tornar um atleta olímpico. Mas fiz o que precisava ser feito. É uma história bem emocionante”, destaca o atleta. Nessa narrativa, o Exército não foi só lugar de treino, foi uma nova casa. Com a mudança de Estado, o atleta militar não tinha onde morar, e o Centro de Capacitação Física do Exército virou seu lar por dois anos. “Eu morava a poucos metros da pista. Era alojamento, pista e só, por muito tempo da minha vida. No primeiro ano que eu estive lá, já consegui aumentar minha marca. E, desde então, o trabalho vem trazendo resultado”, pontua.
A vaga olímpica comprova a evolução do Terceiro Sargento Luiz Maurício. De acordo com ele, no segundo ano de incorporação, já lançava acima dos 80 metros. Apenas um lançador havia feito isso no Brasil, até então. Hoje, dono do recorde sul-americano de 85,57 m, é só emoção. “É muito emocionante conseguir essa marca. O PAAR tem um peso muito grande nessa conquista. O material que eu lancei também veio das Forças Armadas. O Exército tem uma parcela muito grande nesse resultado. É, realmente, um espaço voltado para que o atleta desempenhe e alcance um resultado cada vez maior”, celebra.
Aos 24 anos, esses são os primeiros Jogos Olímpicos do Luiz. Olhar para trás é fazer memória do que foi percorrido para alcançar conquistas que pareciam tão distantes. "Passa um filme muito grande na cabeça, de que qualquer um pode chegar. No começo, eu tinha apenas um dardo. Então, o início de pode ser num terrão, não importa o lugar. O que interessa é onde ele quer chegar e o que ele faz para conquistar”.
Dentro do baú de histórias de superação do PAAR, ainda há mais uma. Viviane Lyra, atleta da marcha atlética, começou na modalidade aos 11 anos. Mas os estudos sempre foram a prioridade na vida dela, e o esporte significava algo como um passatempo saudável. Ela mal entendia o que era alto rendimento. Foi quando Viviane ganhou uma bolsa de estudos e passou a praticar corrida, já que não havia (e ainda não há) competições abertas na Marcha Atlética. Correndo, Viviane chegou a ganhar medalhas em âmbito nacional e foi a um Sul-americano Sub-23. Até do Troféu Brasil, maior competição de atletismo do país, ela participou, mas sem resultados expressivos.
Ao seguir o roteiro previsto, os estudos foram concluídos em 2015, e Viviane se tornou nutricionista. Ela já estava prestes a abandonar o esporte para poder se dedicar à profissão, quando surgiu a oportunidade de voltar a praticar marcha atlética em 2016. A partir daí, passou a dividir o tempo entre trabalho, estudos e treinamento. “Era uma jornada bem difícil, porque os treinos são muito longos, muito intensos. Eu precisava de descanso, mas eu tinha que estudar, tinha que trabalhar. Então era uma jornada tripla. O atleta precisa do descanso para poder ter uma boa performance”, comenta.
Estudo, trabalho, esporte - Foram seis anos de duras jornadas diárias, com o pensamento de se manter financeiramente e de treinar para conseguir competir. Por vezes, ocorriam campings de treinamento em que ela precisava ficar dias fora de casa. “Eu pensava: Nossa! Mas eu vou ficar um mês fora? Não vou trabalhar? Como que eu vou pagar minhas contas? Depois, eu tinha que trabalhar dobrado. Era sempre uma preocupação. Eu não conseguia, de fato, estar com a cabeça somente na minha performance”, relembra Viviane.
Depois de tanto esforço, o divisor de águas ocorreu em 2022. Ela passou a ser a Terceiro Sargento Viviane Lyra, integrante do PAAR. “É totalmente diferente esses dois anos que eu integro a Força Aérea. Eu sou outra Viviane. É um apoio fundamental, não só para a preparação física mas como um todo, na vida pessoal, toda a estrutura que a força consegue proporcionar. Sou uma atleta de alto rendimento”, relembra emocionada.
Nos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2021, ela ficou de fora por uma posição. E os resultados de Viviane comprovaram a rápida evolução nos últimos dois anos. A frustração se tornou combustível para novos objetivos. Desde então, participou de diversas provas internacionais, que lhe deram experiência e amadurecimento competitivo. Em 2023, a atleta militar foi finalista no mundial, na prova dos 20 km. No mesmo ano, foi medalhista de bronze nos Jogos Pan-americanos de Santiago, em uma prova inédita (revezamento misto) em que disputou com o Caio Bonfim, também Terceiro Sargento da FAB.
Agora, Viviane Lyra, aos 30 anos, está com a vaga carimbada para o seu primeiro Jogos Olímpicos, em duas provas, 20 km individual e revezamento. “A expectativa é a gente chegar e dar o melhor que sabe fazer. Quem sabe, voltar com uma medalha, porque é bem possível. A gente quer sonhar, e acredito que há possibilidade. Então, é batalhar até o final. Brasileiro é guerreiro, vai lutar até o fim mesmo. Estou muito empolgada para fazer as duas provas”, comenta com emeoção.
Por: Ministério da Defesa
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