Comunidades tradicionais compartilham saberes e sabores em Maceió
Comunidades de economia criativa e turismo de base comunitária dos estados de Alagoas, Pernambuco e Sergipe expuseram seus trabalhos e produtos na Feira da Rede Territórios dos Saberes e Sabores. O evento realizado na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) nesta segunda-feira (5), encantou os visitantes com uma diversidade de iguarias, artesanato e oferta de experiências turísticas diferenciadas.
Mais do que exposição de talentos, saberes e sabores tradicionais, a feira é resultado de um trabalho de organização coletiva das comunidades, que tiveram o desafio de se organizar em rede, com apoio da Ufal, para fortalecer a cooperação no sentido de valorizar cada vez mais os territórios.
Elas integram o projeto de inovação social Paisagens Alimentares, coordenado pela Embrapa Alimentos e Territórios e financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Quem passou pela feira pôde apreciar os beijus, bricelets e queijadinhas de São Cristóvão (SE), admirar as bonecas de pano representativas da cultura popular do estado, além de provar doces típicos da região de Olho D'Água do Casado (AL) e conhecer o artesanato inspirado nas pinturas rupestres.
Ainda foi possível experimentar o fermentado e a geleia de jabuticaba vindos de Palmeira dos Índios (AL), os caldinhos de sururu e marisquinho de Barra de Sirinhaém (PE), as cocadas e os pães de abóbora e inhame produzidos em Rio Formoso (PE), só pra citar alguns.
Rodas de conversas interativas facilitadas por palestrantes da Embrapa e da Ufal estimularam reflexões sobre turismo sustentável, valorização dos povos, comunidades e seus territórios, governança, cooperativismo e comunicação participativa. A programação incluiu oficinas de gastronomia, artesanato e pinturas rupestres, com várias atrações culturais de dança, coral e poesia.
O chefe-geral da Embrapa Alimentos e Territórios participou da abertura da feira e destacou a riqueza da cultura alimentar. Ele agradeceu aos participantes e parceiros que atuam no projeto, principalmente por dar visibilidade a pessoas que estão salvaguardando a riqueza alimentar do País. “Pra se conhecer um território, nada melhor do que falar dos alimentos que ele tem”, destacou.
Na visão de Aluísio Goulart, supervisor de Inovação e Tecnologia da Unidade, a organização social dos grupos envolvidos é um fator diferencial; inclusive, foi um dos critérios para que eles fossem integrados ao projeto Paisagens Alimentares. “Nós construímos esse projeto de forma participativa, com foco na valorização do território e na conexão do território com o turismo e a cultura alimentar”, informou.
O professor Carlos Everaldo da Costa, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Feac) da Ufal, coordenador da feira na Universidade, ressalta a importância das relações institucionais. “Entendemos que era importante mostrar para esses grupos as relações que eles precisam ter com outros órgãos, com o mercado e com outras comunidades, para desenvolver os seus trabalhos”, enfatiza.
Participaram do evento, de Alagoas, representantes da Cooperativa Mista de Produção e Comercialização Camponesa (Coopcam), de Palmeira dos Índios, da Associação Pegadas na Caatinga e da Associação de Cooperação Agrícola do Assentamento Lameirão (Acaal), de Olho D'Água do Casado. O grupo Saberes e Sabores de São Cristóvão representou o estado de Sergipe.
De Pernambuco estavam os grupos Saberes e Sabores de Indiaroba, Mulheres Empoderadas de Terra Caída e Associação Praia de Santo Antônio, de Indiaroba, a Associação Comunitária do Quilombo Engenheiro Siqueira (Acqes), de Rio Formoso, e a Associação das Marisqueiras de Sirinhaém (Amas), de Sirinhaém. Todos estão participando das atividades do Paisagens Alimentares desde 2022.
Jadriane de Almeida Xavier, professora do Instituto de Química e Biotecnologia da Ufal, conversou com os grupos a respeito das pesquisas relativas à atividade antioxidante, antidiabética, antiglicante e fotoprotetora dos extratos da casca e da semente da jabuticaba, que estão em desenvolvimento na universidade. “A partir daí surgiu a possibilidade de uma parceria com a Coopcam, que é uma cooperativa que vende fermentados à base de jabuticaba e algumas geleias também, mostrando a importância do papel da universidade em fortalecer essas cooperativas do estado, fortalecer a região economicamente, levando o que é feito no laboratório para enriquecer a produção desses produtores”, conta.
O produtor cultural alagoano Wagner Ferreira da Silva Júnior, que visitou a feira, destacou a multiplicidade de expressões culturais ali reunidas. “Fiquei muito feliz de poder revisitar uma série de coisas da minha infância, de comidas e doces que a gente tinha em casa com os avós”, afirmou.
“Para além disso, acho que as rodas de conversa foram muito produtivas, no sentido não apenas de trazer as experiências e as vivências de todos esses grupos, desses variados lugares e, assim, somar com as experiências dos outros grupos, mas também no sentido de trazer novas perspectivas, novos caminhos para esse universo da agricultura familiar, do turismo de base comunitária, que a gente sabe que é extremamente importante para a manutenção da cultura, dos modos de fazer, das expressões desses povos, dessas populações.”
Para Marta Angélica Santos Góes, de São Cristóvão, “o grande lado positivo dessa Rede, do projeto Paisagens Alimentares, é a gente perceber que nós não precisamos estar sozinhos e que nós construímos cultura”. “Agora a gente consegue perceber a importância de estarmos juntos”, reforçou.
Cláudio de Freitas Pageú, de Rio Formoso, também destacou que as atividades permitiram que as comunidades se unissem, fortalecendo o território e o turismo de base comunitária. “Além do nosso, a gente conhece outros fazeres, saberes e sabores de outros territórios desses três estados, unidos por uma mesma Rede.”
O presidente da Coopcam, José Hélio Pereira da Silva, acredita que a feira representa a concretização de um trabalho coletivo das comunidades e dos territórios. “Além de comercializar os nossos produtos, é o momento de celebrar, de refletir sobre o que estamos fazendo, para melhorar e para construir novos caminhos, novas parcerias e novos processos”, avalia.
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