Documentário sobre tradição indígena atinge 2 milhões de visualizações
"A Casa do Kukurro" retrata como, na cultura originária, o espírito que cuida da vai trazer força para que as plantas cresçam mais vigorosas
Um documentário produzido entre os anos 2018 e 2019 pelo pesquisador Fábio Freitas, da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (DF), atingiu recentemente a marca de 2 milhões de visualizações no YouTube. Intitulado Casa do Kukurro, o filme mostra um tradicional método de plantio da mandioca praticado por famílias da etnia Waurá, que vivem no Alto Xingu (MT).
De acordo com Freitas, para esses indígenas, Kukurro é o espírito dono da mandioca, que se materializa na forma de uma lagarta que se alimenta das folhas da planta. Para eles, quem cuida da roça é esse espírito, que vai trazer força para que as plantas cresçam mais vigorosas.
A casa do Kukurro é formada pela construção de montes diferenciados ou covas, nos quais todas as variedades manejadas pelo agricultor ficam reunidas em um tipo de “castelinho” para abrigar o espírito da mandioca.
“A crença é de que essa prática fortalece a energia das plantas cultivadas na roça. Em termos evolutivos, o agrupamento das diferentes variedades facilita a sua recombinação, aumentando a chance de novas variedades surgirem”, destaca Freitas, explicando que a casa do Kukurro funciona como um minibanco genético.
“É interessante porque a mandioca é propagada vegetativamente, ou seja, é um clone: você pega um pedaço da planta [maniva], coloca na terra e surge uma planta nova, só que geneticamente igual. Mas como você explica uma diversidade tão grande de mandioca numa planta que é propagada vegetativamente?”, questiona o pesquisador.
Para ele, a casa do Kukurro pode ser uma das explicações. “Eles reúnem ali todos os tipos de mandioca que têm. Além disso, eles reconhecem e utilizam plantas que surgem na roça a partir de sementes [algo não muito usual] e, desse modo, qualquer tipo novo que surja é avaliado e, se for interessante, essa nova variedade é integrada à coleção”, comenta.
Veja aqui a íntegra do documentário
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