INPI reconhece IG para o beiju de Sapé do Norte (ES)
Iguaria é considerada fonte de renda para os nativos e, principalmente, um símbolo de resistência e reafirmação da identidade
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) publicou nesta terça-feira (20/8) o reconhecimento da Indicação Geográfica (IG), na espécie Indicação de Procedência (IP), para a região do Sapê do Norte (ES), produtora da tradicional iguaria quilombola conhecida como beiju.
Com esse registro, o instituto chega a 128 IGs reconhecidas no Brasil, sendo 90 IPs (todas nacionais) e 38 DOs (28 nacionais e 10 estrangeiras).
Conheça a IG
O beiju, tradicional iguaria quilombola produzida a partir da goma e da massa de mandioca, é um saber-fazer que passa de geração a geração, fabricado nos núcleos familiares, sendo considerado uma fonte de renda para os nativos e, principalmente, um símbolo de resistência e reafirmação da identidade.
Segundo a documentação apresentada ao INPI, o beiju é fabricado no Sapê do Norte desde, pelo menos, o século XIX, ainda no período escravista, quando comunidades quilombolas se estabeleceram na região dos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, no Espírito Santo.
Todas as etapas do processo produtivo do beiju do Sapê do Norte são trabalhadas pelos quilombolas, desde a preparação do terreno para o plantio da mandioca até a finalização do alimento, que pode ser enriquecido com outros produtos, como coco e amendoim.
O plantio da mandioca utilizada para a produção do beiju é feito em período propício para o melhor desenvolvimento da safra, considerando as fases da lua e fatores climáticos, como chuva e umidade. Após doze meses de cultivo, é realizada a colheita da mandioca. O alimento é direcionado à casa de farinha, ou quitungo (como o espaço é chamado pelos nativos), para as etapas que consistem em descascar e ralar.
Em seguida, são realizadas as etapas referentes à extração da massa da mandioca, ao descanso para a eliminação de toxinas e à manipulação da goma e polvilho, até, finalmente, chegar ao processo de preparo do beiju. Assim, o produto é direcionado para a chapa com o recheio de preferência, depois fechado e cortado.
Festival do Beiju
Os canais de comercialização das famílias quilombolas que produzem o beiju são os comércios locais, feiras e encomendas pessoais. Ademais, são realizados eventos para alavancar as vendas do alimento e captar novos clientes, inclusive turistas.
Nesse contexto, destaca-se o Festival do Beiju, evento de suma importância por abranger os aspectos artísticos, culturais e políticos. Desde 2003, o festival é realizado anualmente, sendo reconhecido como centro de produção do famoso beiju do Sapê do Norte, território que passa a ser a 90ª Indicação de Procedência reconhecida pelo INPI.
Entendendo a Indicação Geográfica
A IG é um sinal constituído por nome geográfico (ou seu gentílico) que indica a origem geográfica de um produto ou serviço. Apenas os produtores e prestadores de serviços estabelecidos no respectivo território (geralmente organizados em entidades representativas) podem usar a IG.
A espécie de IG chamada Indicação de Procedência (IP) se refere ao nome de um país, cidade ou região conhecido como centro de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou de prestação de determinado serviço.
Já a espécie Denominação de Origem (DO) reconhece o nome de um país, cidade ou região cujo produto ou serviço tem certas características específicas graças a seu meio geográfico, incluídos fatores naturais e humanos.
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