Cultura

"Sem justiça, reparação e igualdade racial não há democracia", afirma ministra Margareth Menezes

Inauguração da nova sede da Fundação Cultural Palmares marca os 36 anos de história e reforça o compromisso com a cultura afro-brasileira

Agência Gov | Via MinC
22/08/2024 19:10
"Sem justiça, reparação e igualdade racial não há democracia", afirma ministra Margareth Menezes
Fotos: Filipe Araujo/MinC

A Fundação Cultural Palmares (FCP), primeira instituição pública dedicada à preservação e promoção do patrimônio cultural afro-brasileiro, celebrou seus 36 anos de existência nesta quinta-feira (22/8). Na ocasião da celebração, houve a inauguração da nova sede, situada no Setor de Autarquias Sul, em Brasília (DF). O novo espaço, que antes abrigava a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), foi totalmente reformado para dar continuidade ao trabalho de valorização da influência negra na formação da sociedade brasileira.

"A nova sede é uma verdadeira vitória para o Brasil e para o povo afro-brasileiro em sua diversidade e potência. Essa é uma das razões de estarmos aqui celebrando essa inauguração. A Fundação Cultural Palmares materializa as histórias e vidas das pessoas de origem africana no Brasil como testemunha da força da coletividade e da comunidade na luta por liberdade," afirmou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, durante a cerimônia.

A ministra ainda complementou: “A Fundação Cultural Palmares está para o fortalecimento e consolidação de ideais democráticos. Sem justiça, reparação e igualdade racial não há democracia”, declarou.

Segundo João Jorge Rodrigues, presidente da Fundação, há 36 anos a Palmares se consolida como um lugar de lutas e reivindicações.

“Ao longo desse tempo, a Palmares foi, em muitos momentos, o elo entre o governo e a comunidade negra, resistindo a tentativas de enfraquecê-la. Houve épocas em que se tentou até mesmo extingui-la, e nos últimos seis anos vimos esforços negativos por parte de quem deveria proteger a comunidade negra, mas que, infelizmente, traíram esses valores fundamentais. Quando convidei pessoas para se unirem a mim nessa jornada, recordei o quanto essa luta é extraordinária e como somos chamados a resistir e fortalecer o que nos move”, explicou.

Protocolo de intenções

Com o objetivo de promover iniciativas voltadas à população negra, abrangendo áreas cruciais como cultura, educação, patrimônio, memória, ciência e tecnologia, a Fundação Cultural Palmares e a Fundação Banco do Brasil firmaram um protocolo de intenções no decorrer do evento.

A parceria representa um compromisso de ambas as instituições em corrigir distorções históricas e enfrentar os desafios do presente, fortalecendo a identidade e os direitos da comunidade afro-brasileira.

Kleytton Guimarães Morais, representante da Fundação Banco do Brasil, destacou a importância dessa aliança.

"É uma imensa alegria e responsabilidade que a Fundação Banco do Brasil se soma a essa trajetória de fortalecimento institucional. Desde sua criação em 1985, nossa missão tem sido atuar para corrigir os esquecimentos e apagamentos históricos. Com a liderança do presidente João Jorge na Fundação Palmares, queremos avançar de forma significativa. Este protocolo de intenções reflete nosso compromisso em preservar e promover o legado intelectual da Palmares e, juntos, construir um futuro mais justo para o povo preto brasileiro,” declarou.

Homenagens

Durante a cerimônia de inauguração da nova sede da Fundação Cultural Palmares, ex-presidentes da instituição foram homenageados, destacando suas contribuições ao longo dos anos. Carlos Moura, que esteve à frente da Fundação de 1988 a 1990 e de 2000 a 2002; Hilton Cobra, presidente de 2013 a 2015; Zulu Araújo, que liderou a instituição de 2007 a 2010; e Elói Ferreira, no comando de 2011 a 2013, foram saudados por suas significativas participações na promoção e preservação da cultura afro-brasileira.

Em seu discurso, o presidente João Jorge saudou os servidores e parceiros que dedicaram suas vidas à construção da Fundação.

“Quero saudar aqueles que trabalham arduamente para mostrar ao Brasil que não vivemos em uma democracia racial e que precisávamos de todos nós para criar políticas públicas afirmativas e uma instituição federal que defendesse os direitos e valores dos 102 milhões de afro-brasileiros. Inaugurar esta nova sede, que é também um templo da memória e da luta brasileira, não poderia ser mais simbólico,” afirmou emocionado.

João Jorge Rodrigues ainda complementou: “Celebramos hoje a presença dos pais fundadores da Palmares, daqueles que acertaram muito e, mesmo errando um pouco, deixaram um legado inestimável. Este é um momento de união, de reconstrução, onde honramos o passado para fortalecer o presente e vislumbrar o futuro,” disse.

Para o ex-presidente da Fundação Cultural Palmares, Carlos Alves Moura, a inauguração é a materialização de décadas de reivindicações e lutas.

“Sempre batemos às portas do Estado brasileiro, exigindo reconhecimento e respeito, e hoje, com este novo espaço, reafirmamos nossa identidade e nosso compromisso inabalável. Nós não descansamos e continuamos a mostrar à sociedade brasileira nossos valores, nossa dignidade e nossa contribuição essencial para a construção desta nação,” destacou.

Novo espaço

O novo espaço foi totalmente reformado para se adequar às novas funções da instituição, incluindo a instalação de modernas infraestruturas elétrica, hidráulica e de segurança, além de melhorias significativas no conforto térmico e na prevenção de incêndios. A nova sede oferece um ambiente mais amplo e adequado, tanto para atender a comunidade que busca conhecimento e preservação da cultura negra, quanto para os agentes públicos encarregados de promover essa cultura.

“Hoje, renascemos. Com o apoio do presidente Lula, estamos aqui para reafirmar nosso compromisso com a valorização da cultura afro-brasileira e com a construção de um futuro de justiça e igualdade para todos," declarou a ministra Margareth Menezes.

O ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, ressaltou a importância histórica da nova sede da Fundação Palmares.

“Momentos como esse têm um significado muito maior para nós que sabemos o que significa ter um chão para pisar. Esta nova sede da Fundação Cultural Palmares é também o lugar de acolhimento e proteção daquilo que a cultura afro-brasileira produz de mais relevante e que significa o cerne da cultura brasileira. Este é um ponto de não retorno em relação à dignidade do povo brasileiro, e não há dignidade sem o respeito e o cuidado com a cultura, afirmou.

Fundação Cultural Palmares

Vinculada ao Ministério da Cultura, é reconhecida como a primeira instituição pública dedicada à promoção e preservação dos valores culturais, históricos, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira. Com a nova sede, a fundação reafirma seu compromisso de continuar a ser um órgão de  valorização da cultura afro-brasileira, agora com melhores condições para desempenhar seu papel.

Estiveram presentes na cerimônia o músico, cantor, compositor e pesquisador brasileiro, Mateus Aleluia; a cantora, compositora, bailarina e produtora musical, Daniela Mercury; o secretário-Executivo do MinC, Márcio Tavares; e a presidenta da Fundação Nacional das Artes, Maria Marighella; Bruno Monteiro, secretário de Cultura da Bahia; a secretária de Cidadania e Diversidade Cultural, Márcia Rollemberg; e Roberta Eugênio, ministra interina do Ministério da Igualdade Racial; e Liz Detmeister, ministra Conselheira dos Estados Unidos.

Cerimônia de Aniversário da Fundação Palmares '''36 anos promovendo e valorizando a cultura afro-brasileira''

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