No Chile, Lula reforça relações diplomáticas e integração sul-americana
Países assinam acordos de cooperação, sinalizam nova fase nos interesses bilaterais e convergem em torno dos conceitos da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza
Em visita de Estado ao Chile nesta segunda-feira, 5 de agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfatizou a importância estratégica da renovação das relações diplomáticas entre os dois países durante declaração à imprensa no Palácio de La Moneda, em Santiago.
“Estou convencido de que nossa vinda é para dizer aos companheiros do Chile: estejam certos de que não seremos como antes. Queremos mais em benefício dos chilenos e dos brasileiros, em benefício da ciência e tecnologia do Brasil e do Chile, para a cultura brasileira e para a cultura chilena”, disse, ao lado do presidente Gabriel Boric.
>> Íntegra da declaração à imprensa do presidente Lula
Lula ressaltou a integração sul-americana como fator que faz a diferença na vida das pessoas, a exemplo de acordos e tratados assinados. “É o que demonstra o acordo de isenção de cobrança de roaming que firmamos no ano passado e o acordo de reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação que assinamos hoje”, exemplificou o presidente brasileiro.
Além disso, Lula pontuou as oportunidades de cooperação frente a desafios comuns entre os dois países, como catástrofes naturais e o crime organizado. “Os incêndios de 2023 no Chile e as enchentes deste ano no Sul do Brasil põem em xeque o negacionismo climático e reforçam a necessidade de cooperação. A proposta chilena de estabelecer um mecanismo regional de resposta a desastres conta com nosso respaldo. Sem colaboração, também não é possível combater a criminalidade. Assinamos hoje um tratado de extradição e instruímos nossas equipes a ampliarem ações de inteligência e operações conjuntas”.
O presidente do Chile afirmou que a visita com uma delegação formada por diversos ministros e secretários demonstra o valor que o Chile tem para o Brasil e que seu país valoriza essa parceria. “Essa delegação de alto nível mostra a importância que o Brasil dá ao Chile e quero dizer que isso é recíproco. Terminamos um encontro que reflete nossa excelente relação bilateral”, disse Boric.
A convergência entre nós é tamanha que o Chile foi o país convidado para o maior número de grupos de trabalho pela presidência brasileira do G20. Convidei o presidente Boric a participar da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro e recebi com muita satisfação sua disposição de integrar a…
— Lula (@LulaOficial) August 5, 2024
CLIMA – No contexto ambiental, Lula destacou a importância de Brasil e Chile no debate global sobre as mudanças climáticas. O presidente enfatizou o investimento em bioeconomia e evidenciou a conexão de ambos os países com dois biomas fundamentais para o planeta: a Amazônia e a Antártida.
“Somos atores incontornáveis no debate sobre a mudança do clima, por nossos vínculos com dois dos mais importantes biomas do planeta. O risco de que a Amazônia e a Antártida atinjam pontos de não retorno nos afeta diretamente. Ambos apostamos no potencial da bioeconomia e queremos aprofundar o já sólido histórico de colaboração entre nossas estações antárticas. No Brasil, temos uma Amazônia verde, na floresta, e outra azul, no oceano Atlântico. A diplomacia turquesa do Chile, que funde as duas cores na preocupação comum com o uso sustentável dos recursos naturais, é uma inspiração para nós”, ressaltou.
G20 – Lula e Boric também realizaram uma reunião bilateral privada e outra ampliada pela manhã. O líder brasileiro convidou o presidente chileno a participar da Cúpula do G20, em novembro, no Rio de Janeiro, e ouviu de Boric a disposição de aderir à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, principal iniciativa brasileira à frente da Presidência do G20.
Antes das bilaterais, o presidente brasileiro participou da oferenda floral no monumento do libertador general Bernardo O’Higgins, na Praça da Cidadania, em Santiago, além da cerimônia oficial de chegada ao Palácio da La Moneda. Lula foi condecorado com a Ordem de Bernardo O’Higgins, no grau de Colar, a mais alta destinada a estrangeiros, e simboliza a amizade entre os países. Ao presidente Gabriel Boric, o presidente Lula entregou a Ordem Nacional da Cruz do Sul no grau de Grande Colar.
Um dos temas tratados na reunião com o presidente Gabriel Boric foi a colaboração com o país sul-americano nas áreas de ciência e tecnologia e a necessidade de regulamentação e acesso aos benefícios de forma igualitária da inteligência artificial. A transição energética também foi ressaltada pelo presidente Lula como área promissora de parceria, com foco em hidrogênio verde, minerais críticos e veículos elétricos.
“Debatemos a necessidade de construir capacidades e regular a Inteligência Artificial, para que todos tenham acesso a seus benefícios e possam mitigar seus riscos. Também discutimos uma parceria promissora na transição energética. Ao integrar cadeias de hidrogênio verde, minerais críticos e veículos elétricos, teremos condições de agregar valor à nossa produção e ocupar posições de destaque no mercado internacional”.
PARCERIAS – A visita oficial do presidente Lula marca o lançamento de uma nova etapa da relação entre Brasil e Chile e contou com a assinatura de 17 acordos e tratativas. Entre as assinaturas está o Acordo para Reconhecimento Recíproco de Carteiras de Habilitação entre os dois países. Na área do Turismo, foi assinado o Plano de ação para implementação do acordo de turismo de 1993 e o Memorando de entendimento entre Embratur (Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo) e a Fundação Imagem do Chile (Marca Chile).
“Integração significa conexão. Foi o aumento do número de voos que permitiu que o fluxo de turistas entre nossos países quase dobrasse no ano passado. Com o plano de trabalho em turismo que firmamos hoje, o Chile tem tudo para se consolidar como um dos destinos mais procurados por brasileiros. Meu governo está empenhado em conectar toda a América do Sul por meio de cinco grandes rotas viárias, duas das quais incluem o Chile”, declarou o presidente Lula.
Os dois países assinaram outros acordos nos temas de agricultura, saúde, ciência, tecnologia e inovação, comércio, avanço da gestão pública digital, para a cooperação em cibersegurança, para cooperação em matéria de cuidados, redução da desigualdade, luta contra a fome e a pobreza, além de acordos para a colaboração entre os ministérios de mineração e energia de ambos os países.
Também foram realizados acordos entre instituições do Brasil e do Chile para a promoção comercial entre ProChile e Apex, entre a Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo e o Ministério de Obras Públicas do Chile.
RELAÇÕES BILATERAIS - As relações bilaterais entre os dois países foram estabelecidas há 180 anos, e o Brasil é o terceiro maior sócio comercial do Chile, com relação comercial de US$ 12,25 bilhões. A visita ocorre em momento de marcada convergência em temas como a retomada do processo de integração da América do Sul, o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos, o combate à pobreza e à desigualdade, e o enfrentamento da mudança do clima. Os dois países também compartilham posições similares sobre crises de paz e segurança em outras regiões e sobre o enfrentamento aos desafios do multilateralismo econômico e ambiental.
O Brasil é o principal destino dos investimentos chilenos no exterior, com quase 30% do estoque total, e é o principal investidor latino-americano no Chile. O Chile também tem se consolidado como o terceiro maior emissor de turistas para o Brasil, que, por sua vez, foi o segundo maior emissor de turistas para o Chile, em 2023.
CORREDOR BIOCEÂNICO — Brasil e Chile são sócios, juntamente com Paraguai e Argentina, do Corredor Bioceânico que ligará o Centro-Oeste brasileiro aos portos do Norte do Chile. Os países discutem, agora, como garantir que os serviços fronteiriços e logísticos sejam ágeis e modernos, assegurando a eficiência desse empreendimento, que criará importantes oportunidades para as economias exportadoras de nossos países. Os portos chilenos desempenharão parte central na logística de exportação para o Pacífico.
Por: Planalto
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