“A gente quer ter o verão com menos dengue na história”, diz Lula ao lançar plano contra arboviroses
Com investimento de R$ 1,5 bilhão entre este e o próximo ano, iniciativa prevê reduzir os impactos da dengue, chikungunya, zika e oropouche no Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou da apresentação do Plano de Ação 2024/2025 para redução dos impactos da dengue e outras arboviroses, nesta quarta-feira, 18 de setembro, no Palácio do Planalto. Com investimento de cerca de R$ 1,5 bilhão, a iniciativa busca diminuir os números de casos e óbitos por dengue, chikungunya, zika e oropouche no próximo período sazonal no Brasil.
“Todo verão somos intimados pelo crescimento da dengue e de outras doenças. Dessa vez, com a questão climática evoluindo para que o planeta fique mais aquecido, resolvemos antecipar o lançamento da campanha para que a gente tenha tempo. Não apenas do ministério, as questões científicas e a estrutura do SUS, precisamos antes preparar a sociedade, porque os mosquitos estão na casa de cada um de nós”, disse o presidente. Lula pediu que cada cidadão brasileiro cuide de sua residência para evitar a proliferação do mosquito Aedes aegypti.
“Se cada um cumprir com a sua função e não permitir que haja possibilidade de os mosquitos ficarem tirando férias no seu quintal, a gente vai ter muito mais condições de combater chikungunya, dengue e tantas outras arboviroses que existem neste país”, afirmou o presidente. “O Ministério da Saúde está se preparando, e a gente quer ver se a gente consegue antecipar e, se Deus ajudar, a gente quer ter o verão com menos dengue na história desse país.”
PREPARAÇÃO – A ministra da Saúde, Nísia Trindade, lembrou que neste ano foram notificados 6,5 milhões de casos prováveis de dengue, aumento de três vezes em relação a 2023. Já para o próximo ano, estudos indicam que a situação não será de maior gravidade, o que não reduz a necessidade de mobilização. “Queremos passar essa mensagem: a hora de cuidar é agora”, frisou.
“Nossos objetivos específicos são preparar a população para o enfrentamento, desenvolver e implementar novas tecnologias e preparar a rede de atenção à saúde”, afirmou Nísia.
A ministra apontou as regiões com maior possibilidade de ter mais casos de dengue: “A Região Sul, porque grande parte da população não teve contato histórico com o vírus, então isso torna as pessoas com mais possibilidade de ter a doença. E a Região Sudeste, muito em função da circulação do vírus do sorotipo 3”.
ELIMINAÇÃO - O Governo Federal tem um plano de eliminação da dengue, mas tal objetivo demandará tempo, ponderou a ministra. “Hoje, a dengue é um problema mundial: 200 países têm casos de dengue, em todos os continentes. Isso já entrou na pauta, por exemplo, da Organização Mundial de Saúde, com muito mais peso que tinha no passado”.
PARCERIA — O plano de ação para redução dos impactos das arboviroses foi construído com a participação de pesquisadores, gestores e técnicos dos estados e municípios, além de profissionais de saúde que atuam na ponta, em contato direto com as comunidades e que conhecem os desafios em cada região, com atenção às áreas de maior vulnerabilidade social. A iniciativa está baseada nas evidências científicas mais atualizadas, novas tecnologias e representa um pacto para o enfrentamento a essas doenças. O objetivo é apresentar ações que serão coordenadas pelo Ministério da Saúde em estreita parceria com estados e municípios e colaboração de instituições públicas e privadas, bem como de organizações sociais.
EIXOS — O programa de redução dos impactos das arboviroses trabalha em seis eixos de atuação, com foco para implementação no segundo semestre do ano — quando todas as condições climáticas são favoráveis ao aumento de casos. São eles:
• Prevenção
• Vigilância
• Controle vetorial
• Organização da rede assistencial e manejo clínico
• Preparação e resposta às emergências
• Comunicação e participação comunitária
AÇÕES PREVENTIVAS - Durante o período intersazonal, ou seja, no intervalo entre os picos de casos, serão intensificadas as ações preventivas, com retirada de criadouros do ambiente e a implementação das novas tecnologias de controle vetorial. Também será feita uma força-tarefa de sensibilização da rede de vigilância para a investigação oportuna de casos, coleta de amostras para diagnóstico laboratorial e identificação de sorotipos circulantes.
FLUXOS - Está prevista, ainda, a organização de fluxos da rede assistencial, revisão dos planos de contingência locais, capacitação dos profissionais de saúde para manejo clínico, gestão dos estoques de inseticidas, insumos para diagnóstico laboratorial e assistência ao doente.
CONTINGÊNCIA - Para o período sazonal, caso ocorra nova alta sensível de casos, estão previstas medidas estabelecidas no plano de contingência, focadas sobretudo no fortalecimento da rede assistencial para redução das hospitalizações e óbitos evitáveis. São prioritárias as ações relacionadas ao manejo clínico adequado, seguro e executado em tempo oportuno, além da organização dos serviços. Nesse período, as ações de vigilância devem priorizar a coleta de amostras para exames específicos com foco em casos graves e investigação oportuna de óbitos.
PERIFERIAS — O Ministério da Saúde vai expandir o uso de Estações Disseminadoras de Larvicida para controle do Aedes aegypti, transmissor da dengue, nas periferias brasileiras. A estratégia, desenvolvida e coordenada por pesquisadores da Fiocruz Amazônia, foi testada e aprovada com resultados comprovados em 14 cidades brasileiras, de diferentes regiões, nas quais foi aplicada entre 2017 e 2020. A armadilha atrai as fêmeas do mosquito que, ao pousarem no recipiente para colocar seus ovos, são impregnadas com o larvicida. Quando visitam os criadouros, os contaminam com o inseticida. O resultado final é a redução no desenvolvimento de larvas. A lista preliminar tem 17 municípios de todas as regiões do país.
ACOMPANHAMENTO — Desde o ano passado, o Ministério da Saúde está em constante acompanhamento do cenário epidemiológico das arboviroses, preparando estados e municípios para atuar nos diferentes cenários que se apresentam, emitindo alertas sobre a possibilidade de alta nos casos e liberando recursos para prevenção e controle.
INVESTIMENTOS — Em 2023, foram investidos R$ 2,7 bilhões no enfrentamento às arboviroses, incluindo repasses adicionais a estados e municípios, aquisição de inseticidas e biolarvicidas, insumos laboratoriais e custeio dos Agentes de Combate às Endemias. Em 2024, até setembro, foram executados R$ 2,4 bilhões e a previsão é superar o ano anterior.
ESTRATÉGIAS — A atual gestão expandiu o método Wolbachia, bactéria presente em cerca de 60% dos insetos. No entanto, não é encontrada naturalmente no Aedes aegypti. Quando presente no mosquito, a bactéria impede que os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela se desenvolvam, contribuindo para redução das doenças.
COMO FUNCIONA - O método funciona assim: mosquitos Aedes aegypti com Wolbachia são liberados para que se reproduzam com os Aedes aegypti locais estabelecendo, aos poucos, uma nova população dos mosquitos, todos com Wolbachia. A pasta fez o repasse de R$ 30 milhões para ampliar a tecnologia em seis municípios: Natal (RN), Uberlândia (MG), Presidente Prudente (SP), Londrina (PR), Foz do Iguaçu (PR) e Joinville (SC), além das cidades já incluídas na fase de pesquisa.
COORDENAÇÃO - O Centro de Operações de Emergência (COE) para dengue e outras arboviroses, que funcionou entre fevereiro e julho, também foi uma das estratégias para oferecer resposta coordenada e eficiente às situações epidemiológicas relacionadas a essas doenças. Atualmente, a vigilância é de responsabilidade da Sala Nacional de Arboviroses.
VACINAÇÃO - A vacinação contra a dengue segue sendo uma importante estratégia, com público e locais restritos devido ao quantitativo limitado de doses fornecidas pelo laboratório. Nesse sentido, é necessário intensificar e unir esforços de toda a sociedade e poder público para redução dos focos do mosquito e preparação dos serviços de saúde.
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