Junto com alta dos investimentos, 'Pibão' tem fôlego sem pressionar inflação
Lideranças do Governo destacam qualidade do crescimento do PIB, casado com alta dos investimentos produtivos. E defendem prudência na condução das taxas básicas de juros
O resultado do PIB no segundo trimestre, divulgado nesta terça (30) pelo IBGE, superou as expectativas e projeções de consultorias ligadas ao mercado. Entre o final do segundo trimestre de 2023 e o mesmo período deste ano, o PIB acumulou crescimento de 3,3%. Na comparação apenas com o primeiro trimestre deste ano, o crescimento no período foi de 1,4%.
Entre os dados divulgados pelo IBGE, o índice de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) cresceu 5,7% no segundo semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior. Apenas no trimestre encerrado em junho, esse crescimento foi de 2,1%. Os dados chamaram a atenção.
A FBCF refere-se a investimentos produtivos, como aquisição de máquinas e equipamentos, e sinaliza que os setores estão se preparando para aumentar a oferta de seus produtos e acompanhar o aumento da demanda. Quando o crescimento do PIB vem acompanhado desse indicador, o temor de pressão inflacionária diminui.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou esse aspecto em sua avaliação sobre o resultado do PIB, que vem sendo chamado pela imprensa comercial de "Pibão". Haddad declarou, pela manhã: "A indústria voltou forte, a formação bruta de capital fixo veio acima das projeções, o que significa mais investimento. Nós temos que olhar muito para o investimento, porque é ele que vai garantir um crescimento com baixa inflação”.
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Mais tarde, em declaração à imprensa, o ministro da Fazenda reforçou a aposta em crescimento forte da economia combinado com controle da inflação. "Se a demanda vier puxada pelo investimento daqui para frente, é tudo que a gente quer, a consistência o crescimento com o investimento maior é a garantia de equilíbrio entre oferta e demanda." Haddad disse que é preciso continuar a ampliação da capacidade instalada da indústria para sustentar uma trajetória positiva e sem inflação.
Logo após a divulgação dos dados pelo IBGE, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi breve, mas enfático, ao comentar o PIB:
“Mais uma notícia boa para a economia. O PIB cresceu 1,4% no 2º trimestre de 2024, uma alta de 3,3% em relação a um ano atrás. Crescimento que se soma ao aumento dos empregos, o consumo das famílias e melhor qualidade de vida. Sem bravata e mentiras. É isso que importa”, escreveu Lula em seu perfil no Threads.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou que a combinação de dados divulgados pelo IBGE demonstra que o crescimento econômico no atual ciclo tem consistência. “A inflação segue dentro da meta, melhoramos substancialmente as finanças públicas e, mais importante, temos o melhor volume de trabalhadores empregados desde 2012”, salientou o presidente do BNDES.
Mercadante ressaltou também a retomada do crescimento da massa salarial, o aumento real do salário mínimo e abrangência das políticas sociais “O governo do presidente Lula está reconstruindo o mercado de consumo de massas e criando condições para uma retomada do investimento e do crescimento sustentável”, destacou Aloizio Mercadante.
Na opinião dele, é preciso que os agentes econômicos tenham cautela e ousadia. Para o presidente do BNDES, os maiores desafios para o crescimento seguem sendo as restrições fiscais e a taxa de juros, que ainda é a segunda mais alta da economia mundial, apesar dos recordes no saldo da balança comercial, do aumento do acúmulo de reservas e da melhoria do ambiente macroeconômico.
“A requalificação das bases da política monetária, com medidas mais fortes e persistentes de desindexação da economia, e sua interface com a continuidade do esforço de mais qualidade na política fiscal, seguem presentes como grande desafio para a retomada acelerada do crescimento sustentável”, afirmou Mercadante.
O economista chama atenção para o patamar da Selic e para a necessidade de evitar equívocos que podem deteriorar as finanças públicas e interromper o ritmo de crescimento. “O que não pode se repetir são os equívocos do passado recente, em que houve a elevação da taxa básica interna, quando o FED nos EUA estava baixando os juros, o que promoveu uma apreciação forte do câmbio, deteriorou as finanças públicas e abortou a trajetória de crescimento”, concluiu o presidente do BNDES.
A jornalista Míriam Leitão, em coluna publicada em O Globo, fez coro com a ideia de que o crescimento vem seguro quando acompanhado por alta nos investimentos. "Se o resultado tivesse sido impulsionado apenas pelo consumo das famílias ou do governo, haveria preocupação quanto à sustentabilidade desse crescimento. No entanto, quando o investimento se expande mais do que os outros componentes, isso é um sinal muito positivo", escreveu.
Ao longo do dia, consultorias econômicas se somaram ao clima de confiança. Ouvidas pela imprensa, todas manifestaram expectativa de crescimento maior do que previsto no início do ano. Uma dessas consultorias, a Kínitro Capital, aposta em crescimento de 3% para o PIB este ano. Outras, mais modestas, apontam números de 2,5% para cima.
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