Qualidade da Educação: G20 discute ações para engajamento escola-comunidade
Modelo que busca integrar a sala de aula e os ambientes domésticos de crianças e adolescentes foi apresentado em reunião do GT de Educação do G20 em Fortaleza
Sete em cada dez crianças no mundo, aos 10 anos de idade, não conseguem ler uma frase básica e práticas de envolvimento escola-comunidade podem ajudar a reverter esse cenário. A afirmação é de Pia Rebello Britto, diretora global de Educação e Desenvolvimento Adolescente do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
A agência apresentou um documento aos técnicos do G20 com boas práticas que podem ser adotadas pelo grupo e com potencial de melhorar as condições de ensino e aprendizado, nesta terça-feira, 29/10, em Fortaleza, capital do Ceará.
“Como comunidade mundial, estamos falhando com nossas crianças. Precisamos urgentemente de soluções para lidar com essa crise de aprendizado. E ao olharmos para a gama de soluções oferecidas é como você reúne parcerias mais próximas entre escolas e comunidades. Nossas soluções precisam ser baseadas na vida diária das crianças, que estão aprendendo em todos os lugares além das paredes da sala de aula”, explicou Pia Britto.
A especialista salientou ainda que, no G20, o grupo de trabalho de Educação tem se dedicado ao tema pelo menos desde 2018, na presidência da Argentina. Ela salientou que pro estimular o relacionamento entre os ambientes da escola e onde as crianças e adolescentes vivem permite melhores condições de aprendizado. “Quando há um ambiente mais próximo e seguro em que a criança vive, a probabilidade de ela aprender é maior. Especialmente para as meninas, quando estão em um ambiente seguro, elas têm menos probabilidade de abandonar a escola”, indicou.
Reduzindo a evasão escolar
Dados do Relatório Global do Unicef de 2023 revelam que 250 milhões de crianças de 6 a 16 anos estão fora da escola. Tanto a pandemia da covid-19 como o acirramento dos conflitos pelo mundo contribuíram para o cenário. A agência das Nações Unidas analisa que o mundo está fora da rota para atingir o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 4, que trata da Educação de Qualidade. Para alcançar as metas, 1,4 milhões de crianças precisam ser matriculadas na educação infantil a cada ano, o que equivale a uma a cada dois segundos até 2030.
“Não podemos nos dar ao luxo de perder mais crianças. É muito importante que as crianças não se sintam marginalizadas ou deixadas de fora. E essas ligações entre escolas e comunidades tornam os espaços mais inclusivos. Crianças com deficiência, marginalizadas, crianças LGBTQIA, todas que estão enfrentando algum tipo de exclusão, elas se unem. Escolas que fornecem água, água potável, saneamento, todos esses elementos fazem a diferença”, salientou Pia Britto.
Colaboração para melhoria do ensino e aprendizado
A proposta de engajamento escola-comunidade tem como base garantir que os familiares dos alunos, professores, profissionais que atuam nas escolas estejam articulados para garantir um ambiente seguro e de aprendizado. Pia indicou que as principais características do método é promover parcerias colaborativas; envolvimento parental; manutenção de vínculos culturais; compartilhamento de recursos/instalações e promoção de políticas públicas intersetoriais.
Já os desafios, estão relacionados às restrições de recursos; coordenação e comunicação e sensibilidade cultural. “Como G20, estamos discutindo isso como uma dessas soluções que podemos tomar juntos que vai ajudar as crianças a aprender, a permanecer na escola”, apresentou Pia Britto.
Experiência brasileira
Em agosto, o Ministério da Educação do Brasil, anfitrião da reunião técnica do GT de Educação do G20, que acontece nesta semana em Fortaleza, capital do Ceará, lançou o Programa Escola Comunidade (Proec), que oferece financiamento para a execução de projetos de formação para garantir o fortalecimento dos vínculos entre educadores, alunos, famílias e a sociedade. Mais de 26 mil escolas pelo país poderão ser beneficiadas com a política pública.
“Esse programa tem uma relevância muito grande para todas as políticas de educação básica, principalmente para a escola em tempo integral, já que ele busca promover e fortalecer o envolvimento da comunidade nos processos escolares. Para pensar em educação e na construção dos currículos e das práticas pedagógicas, é essencial que a escola considere as dimensões que interferem na aprendizagem dos sujeitos educacionais”, a secretária de Educação Básica, Kátia Schweickardt, na ocasião do lançamento do programa.
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