Novos métodos de planejamento reprodutivo via SUS podem mudar panorama nacional de gravidez na adolescência
Rede Ebserh oferece serviços especializados e orientações para ajudar adolescentes a tomarem decisões saudáveis e prevenirem a gravidez precoce
A Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência foi instituída pela Lei n.º 13.798/2019 e é realizada anualmente de 1º a 8 de fevereiro. Em 2025, o tema é “Prevenção da gravidez na adolescência, promovendo a saúde e garantindo direitos”. A iniciativa busca conscientizar jovens e suas famílias sobre os impactos da gravidez precoce e promover reflexões sobre escolhas e responsabilidades. Nesse contexto, a Ebserh, que gerencia 45 Hospitais Universitários Federais, por meio do Sistema Único de Saúde (SUS), oferece atendimento especializado para adolescentes, promovendo cuidado integral e ações de educação em saúde. Confira.
A adolescência, fase de transição da infância para a vida adulta, é um período de descobertas e transformações, repleto de emoções, relacionamentos e o despertar da sexualidade, mas também exige atenção. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a gravidez na adolescência, especialmente entre meninas de 10 a 15 anos, representa um desafio de saúde pública, com riscos físicos e emocionais. Dados preliminares do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) indicam que, em 2024, foram registrados 172.857 nascimentos de filhos de meninas entre 8 e 19 anos no Brasil, evidenciando a urgência de ações efetivas para enfrentar essa questão.
Além das estatísticas
Charles Rodrigues do Canto, enfermeiro obstetra desde 2013 e atuante na Maternidade Escola do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CH-UFRJ), elencou os principais fatores que contribuem para o aumento da incidência de gravidez em adolescentes e aponta caminhos para enfrentá-lo. “Na Emergência da Maternidade, observo que a maior agravante da gravidez na adolescência é a questão social e cultural. Muitas vezes, uma mãe adolescente acaba criando outra futura mãe adolescente. Isso reflete uma questão cultural e a falta de educação sexual adequada”, destacou Charles.
Além disso, o enfermeiro ressaltou a presença de complicações de saúde que afetam as adolescentes durante a gestação. “Hipertensão arterial crônica, diabetes mellitus gestacional (DMG), baixo peso e sífilis podem agravar ainda mais os desafios enfrentados pelas jovens mães”, afirmou. Segundo o especialista, a educação sexual nas escolas e em casa é uma ferramenta para conscientizar adolescentes. A prevenção não é apenas uma responsabilidade individual, mas um esforço coletivo que requer diálogo aberto, acesso à informação e suporte adequado para jovens e suas famílias.
Cuidar hoje para transformar o amanhã
“Adolescentes, previnam-se de uma gravidez antes do tempo desejado. Ela pode atrapalhar seus estudos, dificultar a realização de sonhos e, até mesmo, o convívio social. Usem sempre um método seguro para prevenir a gravidez e a camisinha para evitar doenças sexualmente transmissíveis. De preferência, procurem um ginecologista antes de começarem a ter relação sexual”, orientou a médica Zenilda Vieira Bruno, que possui 35 anos de experiência no atendimento a adolescentes na Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac), do Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Ceará (CH-UFC/Ebserh).
O Ambulatório do Adolescente da Meac é referência nacional pelo seu trabalho pioneiro, oferecendo diversos serviços voltados à saúde sexual e reprodutiva dos jovens. Entre as principais ações do serviço, coordenado por Zenilda, chefe da Divisão Médica da MEAC, estão os grupos regulares de planejamento familiar, realizados por uma equipe multiprofissional.
Durante as atividades, são apresentadas informações detalhadas sobre todos os métodos anticoncepcionais disponíveis. Além disso, o Ambulatório disponibiliza métodos contraceptivos reversíveis de longa duração (LARCs), como o implante subcutâneo de etonogestrel e o DIU hormonal. O acesso ao serviço é garantido por meio de encaminhamento das adolescentes pelos postos de saúde municipais, via SUS.
Ações e Impactos no Ceará
“Os adolescentes que procuram o Ambulatório se preocupam com métodos discretos e seguros. Desejam manter suas atividades sexuais sem ter que dizer para os familiares, e que não prejudiquem a saúde ou engordem”, salientou a coordenadora do serviço. Nesse contexto, a equipe da Meac apresenta as vantagens e desvantagens de cada método, sempre em um ambiente reservado, respeitoso e confidencial.
Essa atuação junto aos adolescentes tem impactado positivamente a redução da gravidez. Por exemplo, há dez anos, 20% dos partos no Ceará eram de adolescentes. Hoje, esse índice caiu para 12%. Em Fortaleza, a redução foi ainda mais expressiva, passando de 17% para 10%. Apesar dos avanços, a reincidência de gravidez na adolescência ainda preocupa, com taxas em torno de 27% na capital cearense.
Para isso, a Meac, em parceria com a Secretaria de Saúde de Fortaleza, passou a oferecer LARCs às adolescentes logo após o parto. “Com esse trabalho, acreditamos que conseguiremos reduzir ainda mais os casos de gravidez indesejada na adolescência no nosso município”, anunciou Zenilda.
Saiba mais
O implante de etonogestrel, semelhante a uma fina ‘haste’, é inserido sob a pele do braço, acima do cotovelo. “Ele libera progesterona continuamente por até três anos, sendo altamente seguro e eficaz. Além disso, não está associado ao risco de trombose nem ao ganho de peso, e pode ser colocado mesmo antes da primeira relação sexual, oferecendo proteção para jovens que desejam iniciar a vida sexual com segurança”, explicou Zenilda.
Já o DIU hormonal, é um dispositivo de levonorgestrel inserido no útero por um médico. Com duração de cinco anos, além de prevenir a gravidez, ele pode reduzir o fluxo menstrual em muitas mulheres, chegando a interromper a menstruação. Também não apresenta risco de trombose, mas deve ser utilizado apenas por mulheres que já tiveram atividade sexual.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Andreia Pires, com edição de Danielle Campos
Coordenadoria de Comunicação Social da Rede Ebserh
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte