Quilombolas são aprovados para universidades públicas de Goiás
Sete estudantes foram aprovados para cursos superiores nas universidades Federal e Estadual de Goiás
A comunidade quilombola Nossa Senhora Aparecida, localizada no município de Cromínia, em Goiás, está em festa. Sete estudantes foram aprovados para cursos superiores nas Universidades Federal de Goiás (UFG) e Estadual de Goiás (UEG). Todos foram cadastrados pelo Incra/GO como quilombolas no ano passado, no local.
Os novos calouros são Bruno Augusto Silva, aprovado para Agronomia (UEG); Edma Soares Maciel, para Medicina (UFG); Gabriel Renan Gonçalves Bueno, para Economia (UFG); João Thiago Morais da Silva Filho, para Educação Física (UEG); Luana Soares de Souza, para Medicina Veterinária (UFG); Maria Antônia Lopes, para Biomedicina (UEG Goiânia) e Enfermagem (UEG Ceres); e Nathalya Vitória Morais dos Santos, para Ciências Contábeis (UFG).
De acordo com a chefe da Divisão de Territórios Quilombolas do Incra/GO, Ludmilla Carvalho, o resultado dos estudantes é mais uma prova de como é importante reforçar políticas afirmativas, como as cotas. “A aprovação deste grupo fortalece toda a comunidade, melhora a autoestima e eleva a autoconfiança para que possam conquistar cada vez mais espaços que também lhe são de direito”, afirmou a gestora. Ela considera o investimento em educação a forma mais dinâmica de transformação e de alcance da equidade para um país.
Vitória em dobro
A alegria bateu em dose dupla para Edma e Luana, mãe e filha. “Estamos todos encantados, na verdade”, disse Edma, afirmando estar maravilhada com a notícia. Segundo ela, o grupo vai persistir para concluir os cursos “com louvor”. “Às vezes falta oportunidade, mas força de vontade a gente tem”, ressaltou.
Para a futura universitária, mesmo com a existência de cotas para pessoas negras, ainda assim é difícil para um quilombola estudar. “Precisamos abrir mão de muita coisa”, ponderou. Há dez anos, ela ingressou no curso de Engenharia Elétrica, também na UFG, mas não teve condições de concluir porque estava com filhos pequenos. “Eu nunca desisti de estudar, até para meus filhos terem exemplo dentro de casa”, disse.
Edma é costureira e a filha Luana é sua ajudante. As duas estudavam nos intervalos do trabalho. Moradoras da comunidade quilombola Boa Nova, em Professor Jamil, município com cerca de 4 mil habitantes, a 12 quilômetros de Cromínia e 70 de Goiânia, pretendem mudar de cidade num futuro próximo. A princípio, porém, vão se deslocar diariamente para a capital para cursar a faculdade. “Pode parecer tarde para eu fazer Medicina, mas pela representatividade e para buscar a dignidade sempre desejada por mim para o meu povo, não tem nada que pague, é maravilhoso”, concluiu a quilombola.
Na conquista da vaga, lembrou do irmão falecido, Valdivino Alves da Silva, que lutou para alcançar o reconhecimento da comunidade como remanescente de quilombo. “Ele sempre sonhou em ver o seu povo buscando transformação pela educação”, afirmou Edma. Ela agradeceu, ainda, o apoio recebido dos presidentes das Associações das Comunidades Quilombolas Nossa Senhora Aparecida (Cromínia), Luiz Antônio Alves da Silva, e Boa Nova (Professor Jamil), Luzia do Nascimento.
Mudança de vida
Além da aprovação, os novos calouros têm em comum terem participado de aulas preparatórias de redação. O curso é oferecido, gratuitamente, pela Associação de Moradores da Comunidade Quilombola Nossa Senhora Aparecida, que costurou uma parceria com professores voluntários.
De acordo com o presidente do grupo, Luiz Antônio Alves Silva, 20 estudantes participaram no último ano, tendo podido assistir às aulas de forma presencial ou online. Ele começou com o cursinho de redação em 2023 e, na ocasião, quatro jovens da comunidade foram aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). “Quero seguir com este projeto. Lutamos muito pela educação aqui onde vivemos, que é algo que ninguém pode tirar de nós”, afirmou.
Segundo Luiz Antônio, após a conquista das vagas no Enem, é necessário estabelecer toda uma logística para que os estudantes não desistam de cursar a universidade. É quando ele entra em ação para firmar parcerias com prefeituras, universidades e outras instituições para ajudarem no custeio de transporte, alimentação e permanência em outra cidade, quando é necessário mudar de casa para poder continuar a estudar.
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