Meio ambiente

Brasileiros vão colaborar em relatório do IPCC sobre cidades e mudança do clima

Três especialistas do país vão atuar nas funções de coordenadores e autores líderes e devem evidenciar papel fundamental das cidades no enfrentamento das mudanças climáticas

Agência Gov | Via MCTI
05/02/2025 11:38
Brasileiros vão colaborar em relatório do IPCC sobre cidades e mudança do clima
Paulo Pinto/Agência Brasil

Três especialistas brasileiros integram o grupo formado por 97 especialistas de 56 países que foram selecionados pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) para colaborar como coordenadores, autores líderes e editores revisores do relatório especial sobre mudança do clima e cidades. A lista dos colaboradores selecionados foi anunciada na segunda-feira (3) pelo órgão científico da ONU.

Segundo comunicado do órgão, mais da metade dos autores selecionados são mulheres, e aproximadamente 55% são de países em desenvolvimento e economias em transição. De cada três autores, um é novo no processo do IPCC. A previsão é que o relatório esteja pronto em março de 2027. Será o primeiro relatório do Sétimo Ciclo de Avaliação (AR7).

Em setembro do ano passado, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) enviou, por meio do Ministério das Relações Exteriores, 20 candidaturas de especialistas brasileiros interessados em contribuir.


Quem são brasileiros selecionados pelo IPCC

pesquisadores brasileiros no ipcc

• Jose Antonio Puppim de Oliveira, da FGV, será um dos autores líderes do capítulo 4, sobre adequação nas cidades.

• Denise Duarte, da Faculdade de Arquitetura da USP, será autora líder no capítulo 3, sobre ações para reduzir riscos urbanos e emissões.

Sergio Franklin, Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), também será autor líder no capítulo 3.


Base científica

“A ideia do relatório é fazer uma análise sobre o que tem sido feito em termos de pesquisa e mostrar os pontos importantes para que as cidades possam trabalhar com base científica em suas ações em relação às mudanças climáticas”, explica o professor e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Jose Antonio Puppim de Oliveira.

Oliveira dividirá a coordenação dos autores líderes do capítulo quatro, que aborda como facilitar e acelerar a mudança nas cidades, com a pesquisadora Xuemei Bai da Universidade Nacional da Austrália.  

“Nosso trabalho será o de fazer a coordenação dos tópicos a partir do escopo aprovado no ano passado. Vamos coordenar os outros autores líderes para evitar sobreposições de temas, complementar, fazer com que os autores interajam entre si e com os autores dos demais capítulos”, detalhou. “Ao final, esperamos ter uma publicação coerente”, resumiu.

A expectativa do pesquisador é de muito trabalho para os próximos dois anos. “Vamos trabalhar para trazer o melhor da ciência e mostrar evidências de como as cidades podem contribuir para combater as mudanças do clima”, afirmou o pesquisador, que atua há mais de 30 anos na área acadêmica e com implementação de ações sustentáveis nas cidades.

Cidades como provedoras de soluções

Enquanto no mundo, atualmente, cerca de 57% da população vive nas cidades, no Brasil, o percentual sobe para 87,4%, de acordo com dados de 2024 do IBGE.

“Quando pensamos as ações de adaptação para pessoas, temos que levar as oportunidades de adaptação para onde as pessoas estão”, destaca a engenheira civil e professora da Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP), Denise Duarte. A pesquisadora será autora líder no capítulo três, cujo escopo envolve ações e soluções para reduzir riscos urbanos e emissões.

Segundo ela, o relatório especial sobre cidades é muito aguardado. “Nos ciclos anteriores, como no AR4 e AR5, se falava muito pouco das cidades” lembra. Duarte destaca que as cidades são complexas e demandam ações de muitas áreas do conhecimento e podem oferecer muitas oportunidades de soluções cocriadas entre o saber científico, a política pública e a sociedade. “As oportunidades de ações [climáticas] nas cidades são inúmeras”, explica.

Entre os exemplos, ela cita o planejamento urbano e a mobilidade, que pode significar menos ou mais emissões do transporte, e os edifícios, que precisam se adaptar para reduzir o consumo de energia. “Os edifícios precisam se adaptar, não apenas os novos, mas o imenso estoque existente, que já não respondem às questões extremas atuais, quanto menos na condição futura”, exemplifica.

Duarte acredita que a participação dos especialistas brasileiros contribui para imprimir a perspectiva do Sul Global sobre o tema. Segundo ela, muitas iniciativas de sucesso em outros contextos climáticos e socioeconômicos, podem ser diferentes para América Latina, África e sudeste asiático, regiões que concentram importantes parcelas da população.

Seguros e catástrofes

O analista técnico da Superintendência de Seguros Privados (Susep) e pesquisador afiliado ao Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), Sergio Franklin, também será autor líder no capítulo três.

Com experiência profissional e de pesquisa em economia de seguros e catástrofes, mudanças climáticas e ciência de dados, Franklin está na expectativa de trocar experiências, aumentar o conhecimento e contribuir para a construção de um mundo melhor e mais justo. “O aquecimento global não afeta a todos da mesma forma. O estresse térmico aumenta a desigualdade de renda entre as famílias pobres e ricas”, diz.

Ele destaca que as concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera já estão altas o suficiente para que a temperatura média global continue a subir nas próximas décadas. No entanto, pondera que, apesar de ainda ser difícil prever com precisão os impactos no PIB e outras medidas de bem-estar econômico e social, isso não deve ser razão para deixar de agir.

“O fato de não sabermos quais podem ser os custos futuros das mudanças climáticas, não significa que devemos ignorar o problema e não tomar nenhuma ação. Em vez disso, devemos agir agora, para fazer um “seguro contra a possibilidade de custos muito altos no futuro”, afirma.

Franklin acredita que o seguro é uma das ferramentas disponíveis para a adaptação às mudanças climáticas, mas não é a única. “Estima-se que a lacuna de proteção para catástrofes naturais no Brasil esteja na faixa de 90-95%”, observa.  

Lacuna de proteção é a medida que busca estimar a diferença entre as indenizações pagas pelos seguros e o total de perdas econômicas em relação a determinados riscos. “O Brasil é um país grande e diverso. Temos que estudar formas de aumentar a proteção para catástrofes naturais”, explica o analista.

Confira a lista completa de autores selecionados, segmentada por capítulo

Link: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2025/02/brasileiros-vao-colaborar-em-relatorio-do-ipcc-sobre-cidades-e-mudanca-do-clima
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