Cultura

Projeto cultural leva espetáculos teatrais para comunidades ribeirinhas do Norte

Com o apoio do programa Rouanet Norte, projeto une teatro de bonecos e palhaçaria para contar histórias de sonhos e reinvenção para população de áreas remotas

Agência Gov | Via Cultura
04/02/2025 13:17
Projeto cultural leva espetáculos teatrais para comunidades ribeirinhas do Norte
Reprodução/Esse Rio é Minha Rua
Espetáculo une criatividade e resiliência cultural e leva o teatro de bonecos e a palhaçaria

O trabalho surgiu de uma oficina com o mestre de bonecos, artista e pesquisador Aníbal Pacha. Um espetáculo que une criatividade e resiliência cultural e leva o teatro de bonecos e a palhaçaria - duas linguagens que se entrelaçam para contar uma história de sonhos e reinvenção à região Norte do país. O projeto Esse Rio é Minha Rua — que toma emprestado o título de uma canção do poeta Ruy Barata e do compositor Paulo André Barata —, tem cruzado rios nortistas para exibir a peça “O Menor Espetáculo da Terra” em comunidades tradicionais e ribeirinhas no arquipélago do Marajó e no estado do Amapá. A obra é fruto da expansão do Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) — a Lei Rouanet.

A turnê, que já passou pelos três municípios marajoaras de Breves, Portel e Curralinho, desembarcará em breve na capital amapaense de Macapá e, em seguida, seguirá para a cidade de Afuá.

Para o diretor, escritor e ator-palhaço Marton Maués, integrante do grupo Palhaços Trovadores e idealizador do projeto, a interação com o público é um dos momentos mais marcantes das apresentações. "As pessoas ficam encantadas. Querem tocar nos bonecos, fotografar, conversar sobre o que viram. Em muitas cidades do interior, essa experiência é completamente nova, e a resposta do público é intensa", relata o artista.

Em Breves e Portel, as apresentações aconteceram em quadras de escolas, enquanto em Curralinho o palco foi a sede de uma associação de trabalhadores rurais. "O acolhimento da população tem sido maravilhoso. As viagens são longas, mas as paisagens ribeirinhas são deslumbrantes, e isso nos energiza", afirma.

A trama do espetáculo gira em torno de cinco palhaços que, abandonados pelo patrão, decidem criar seu próprio circo usando bonecos. "Cada um projeta seus sonhos nos bonecos: um deseja ser trapezista, outro equilibrista, um almeja ser domador de leões e outra, patinadora de gelo. As malas de viagem se transformam na mesa de manipulação, e assim surge um pequeno circo, cheio de magia e poesia", explica Maués.

Resistência e longevidade com muita palhaçada

O multiartista — nascido no Amapá, mas com a carreira artistica construída há 40 anos na cidade de Belém —, também ressalta que o mecanismo de incentivo à cultura é essencial para a existência e longevidade do projeto. “Sem a Lei Rouanet, projetos como o nosso simplesmente não existiriam. Ela é vital para os artistas, tanto para os que têm estrutura maior quanto para os que, como nós, trabalham com recursos limitados”, conta.

O projeto Esse Rio é Minha Rua foi selecionado no programa Rouanet Norte, criado para descentralizar o investimento cultural no Brasil e garantir que produtores do Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins tenham acesso a um financiamento específico para fomentar a arte na região. A iniciativa segue o Decreto nº 11.453/2023, que regulamenta os mecanismos de fomento à cultura e reforça a importância de democratizar e nacionalizar os recursos, promovendo ações afirmativas e ampliando a acessibilidade no setor. Ao todo, foram R$ 24 milhões revertidos em apoio ao setor produtivo cultural da região Norte.

Há 26 anos, os Palhaços Trovadores surgiram em Belém (PA) como o primeiro grupo de palhaçaria da cidade. "Tudo começou com uma oficina que ministrei após um curso fora do estado. Desde então, nunca paramos de trabalhar", relembra Maués. O grupo mantém uma sede onde realiza ensaios, treinamentos e apresentações, além de receber artistas convidados. Sua filosofia é clara: levar a arte para os lugares mais remotos da Amazônia, especialmente no Pará.

"Nosso foco principal é a Amazônia, sobretudo a paraense. Queremos alcançar comunidades que raramente têm acesso
ao teatro e ao circo", afirma o diretor. No entanto, as longas distâncias, as dificuldades de hospedagem, alimentação e a
falta de espaços adequados para apresentações tornam esses projetos complexos e caros. "A Lei Rouanet Norte tem sido
fundamental para viabilizar nossas viagens. Sem esse apoio, seria impossível realizar algo desse porte", detalha Maués.

Agora, o grupo se prepara para a segunda etapa do projeto, que inclui apresentações em mais municípios, além de oficinas de palhaçaria e máscara. "Queremos proporcionar um encontro ainda mais intenso com o público dessas cidades. As oficinas são uma forma de deixar um legado, de inspirar novos artistas e fortalecer a cena cultural local", pontua o ator-palhaço.

Com uma trajetória marcada pela resistência e inovação, Marton Maués e os Palhaços Trovadores seguem navegando pelos rios da Amazônia, transformando desafios em oportunidades e levando cultura e alegria por onde passam. Sua história é um testemunho do poder transformador da arte e da importância de políticas públicas que garantam seu acesso a todos os cantos do país. "Estamos muito felizes com essa conquista e agradecemos imensamente pelo apoio. A arte é essencial para a vida, e nós seguiremos lutando para que ela chegue cada vez mais longe", conclui o artista, com a mesma paixão que o move há mais de duas décadas.

Link: https://www.gov.br/cultura/pt-br/assuntos/noticias/esse-rio-e-minha-rua-projeto-cultural-leva-espetaculos-teatrais-para-comunidades-ribeirinhas-da-regiao-norte
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte