Insegurança alimentar não é inevitável, afirma ministro Paulo Teixeira
1ª reunião técnica presencial do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics abordou parcerias estratégicas entre os países e a promoção da segurança alimentar

A primeira reunião técnica presencial do Grupo de Trabalho de Agricultura do Brics começou, nesta quarta-feira (12/3), em Brasília. De acordo com o ministro Paulo Teixeira, do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil, os países do Brics desempenham papel fundamental na produção agrícola mundial. O grupo responde por 42% da produção global de alimentos, 33% das terras agrícolas e 39% dos recursos hídricos do planeta. Além de ser o lar de mais de metade das 550 milhões de propriedades agrícolas familiares do mundo.
Uma realidade que impõe a responsabilidade aos países do grupo de atuar coletivamente e coordenar ações para enfrentar os desafios do século 21, como o aumento global do custo dos alimentos saudáveis que coloca bilhões de pessoas em risco de insegurança alimentar ao redor do planeta. Sendo que para os países em desenvolvimento o impacto dessa crise é ainda mais severo.
O ministro defende que a insegurança alimentar não é inevitável e ressalta que, nos últimos anos, algumas nações, incluindo países do Brics, demonstraram que políticas públicas bem desenhadas podem reverter esse quadro. E o Brasil assume a presidência do Brics com um forte compromisso com a segurança alimentar e nutricional, com o fortalecimento da agricultura familiar e com o desenvolvimento sustentável.
“A Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada pelo presidente Lula durante a presidência brasileira do G20, no ano passado, é uma iniciativa que visa justamente fortalecer a cooperação internacional, promovendo a troca de experiência sobre políticas eficazes, incluindo o fortalecimento da agricultura de pequena e média escala e garantir que as populações mais vulneráveis tenham acesso a alimentos saudáveis e diversificados”, afirmou o ministro Paulo Teixeira na abertura da reunião.
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Variações nos preços dos alimentos
A imprevisibilidade dos preços dos alimentos causa impacto na estabilidade econômica e social dos países. Além do mais, os eventos climáticos extremos, a especulação financeira e os conflitos globais amplificam as flutuações nos preços agrícolas, prejudicando tanto produtores quanto consumidores.
“Por isso, apoiamos a discussão sobre políticas de estoque estratégico, como ferramenta essencial para reduzir a vulnerabilidade a esses choques e estabilizar os preços dos alimentos. No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), vinculada ao nosso Ministério, está reconstruindo sua capacidade de fazer estoques, garantindo mais segurança alimentar para a população”, disse o ministro.
Paulo Teixeira defendeu também que, quando existir a possibilidade, esses estoques sejam compostos por alimentos adquiridos dos produtores de pequena escala, promovendo assim o desenvolvimento rural, a soberania alimentar e a inclusão produtiva.
Os estoques regionais de alimentos são instrumentos estratégicos já utilizados em diversas partes do mundo e serão debatidos em um dos painéis da reunião que está prevista para acabar na sexta-feira (14).
Parcerias e modernização
Para o vice-ministro adjunto do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, Cleber Oliveira Soares, é preciso também fortalecer o comércio intra-Brics que pode impulsionar o desenvolvimento econômico regional. Inclusive uma das pautas em debate é a implantação e aprimoramento de sistemas automatizados no campo para dar mais agilidade no fluxo comercial e na entrega de alimentos de qualidade para as pessoas.
“Os países do Brics são grandes produtores e consumidores de alimentos e derivados agrícolas. Portanto, estamos diante de uma oportunidade histórica e esta reunião deve ser um marco para avançarmos em iniciativas concretas para garantir um futuro agrícola mais justo, mais produtivo e ambientalmente equilibrado”, disse o vice-ministro Cleber Oliveira.
Ele ainda agradeceu ao que chamou de base sólida legada pela presidência da Rússia no ano passado. Segundo Cleber Oliveira, a Declaração de Kazan solidificou o compromisso com o comércio justo, com a sustentabilidade e o fortalecimento das cadeias produtivas da agricultura, da pecuária, da pesca e outras cadeias associadas.
O vice-ministro da Pesca e Aquicultura, Rivetla Édipo Araújo Cruz, concorda que é necessário estimular cada vez mais parcerias estratégicas entre os países membros do foro. Ele acredita que as diferentes potencialidades dos 11 estados membros do Brics em matéria de pesca e agricultura geram enormes oportunidades de cooperação e investimentos que podem dinamizar outros setores econômicos e as trocas comerciais intra-bloco.
“Nós queremos trabalhar com os nossos parceiros na promoção dos sistemas alimentares aquáticos por meio da cooperação na ciência, inovação, transferência de tecnologia e capacitação. Nós queremos fortalecer as organizações internacionais de conservação e de ordenamento pesqueiro, expandir e intensificar a aquicultura sustentável e promover práticas responsáveis na pesca extrativa, inclusive na prevenção e combate da pesca ilegal”, afirmou.
No final do ciclo de negociações de 2025, o grupo de trabalho planeja apresentar uma proposta de plano de ação para cooperação entre os países do agrupamento em pesca e aquicultura para o período de 2025 a 2028.
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