"Mais um passo para efetivar uma reparação justa", diz Márcio Macêdo sobre Caravana do Acordo do Rio Doce
Após quase 10 anos, atingidos pelo rompimento na Barragem de Mariana avançam na reparação com ações sociais e fiscalização do Governo Federal

Teve início, nesta segunda-feira, 24 de março, em Belo Horizonte (MG), a Caravana Interministerial do Acordo do Rio Doce, com o objetivo de ouvir as comunidades atingidas pelo rompimento da Barragem de Mariana, em 5 de novembro de 2015. As ações ocorrerão simultaneamente em 22 territórios de Minas Gerais e Espírito Santo.
A Caravana terá cinco equipes que percorrerão toda a área atingida: duas para atender o público geral e três para povos indígenas e quilombolas, além de trabalhadores de atividades tradicionais como faiscadores e pescadores.
"Nada paga as vidas perdidas, os empregos perdidos, a cadeia produtiva destruída e o ambiente natural agredido. Mas é necessário fazer a reparação e hoje é um passo para efetivação desse acordo para que haja uma reparação justa", pontuou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República e coordenador da caravana, Márcio Macêdo.
Nada paga as vidas perdidas, os empregos perdidos, a cadeia produtiva destruída e o ambiente natural agredido. Mas é necessário fazer a reparação e hoje é um passo para efetivação desse acordo para que haja uma reparação justa”
Márcio Macêdo,
Ministro da Secretaria-Geral da Presidência
O acordo destina R$132 bilhões para ações de reparação e compensação ao longo de 20 anos. Ele foi assinado pelas empresas Samarco (responsável pela barragem de Fundão), Vale (brasileira) e BHP Billiton (anglo-australiana) - que controlam a Samarco -, e pela Advocacia-Geral da União (AGU), além dos governadores de Minas Gerais e Espírito Santo, Procuradoria-Geral da República (PGR), Defensoria Pública da União, Ministérios Públicos de Minas Gerais e do Espírito Santo e Defensorias Públicas dos dois estados.
Desse montante, R$100 bilhões serão repassados aos entes públicos – União, estados de Minas Gerais e Espírito Santo e municípios que aderirem ao acordo – para aplicação em projetos ambientais e socioeconômicos, incluindo programas de transferência de renda. Outros R$32 bilhões serão direcionados para recuperação de áreas degradadas, remoção de sedimentos, reassentamento de comunidades e pagamento de indenizações às pessoas atingidas, que serão realizados pela Samarco.
"Esse acordo é um marco fundamental na estatização de um crime, na responsabilização dos culpados, mas, acima de tudo, em buscar uma alternativa junto com a participação social para fazer dar certo, para fazer chegar lá na ponta os programas de reparação, e mudar e recuperar a vida do povo que foi totalmente destruída com esse crime", disse Joceli Andriolli, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Na visão de Joceli, a participação do Governo Federal no acordo permite que seja alcançada a reparação definitiva das vítimas. "Com a entrada do Governo Lula nas negociações, tivemos as condições concretas para construir um acordo um pouco mais avançado do que estava sendo previsto antes e nos dar esperança, um dia, de alcançar a reparação integral", afirmou.
A CARAVANA — As equipes percorrerão toda a área atingida pelo desastre do rompimento da barragem de Fundão, desde Mariana até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, incluindo o litoral capixaba. Os municípios em que a Caravana passará são: Mariana, Acaiaca, Barra Longa, Rio Doce, Timóteo, Caratinga, Belo Oriente, Governador Valadares, Tumiritinga, Resplendor, Itueta e Aimorés, em Minas Gerais. E, também, Colatina, Linhares, Serra, Aracruz, São Mateus e Conceição da Barra, no Espírito Santo.
Quinze ministérios participam da caravana, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Anater, movimentos sociais e representantes dos atingidos. São mais de 90 técnicos em campo para ouvir a população, e mais de 20 atividades coletivas previstas, entre reuniões com as lideranças e plenárias.
"É preciso esclarecer às populações quais são os limites e os alcances dos seus direitos, para que elas possam alcançar aquilo que está previsto, de fato, no acordo", resumiu Flávio Roman, secretário-geral da Consultoria da Advocacia-Geral da União.
Roman frisou que o atual acordo amplia o reconhecimento de pessoas atingidas pela tragédia, incluindo grupos que não estavam contemplados. "Então a gente tem reparações no âmbito da assistência, com programas de renda, assistência financeira emergencial, individual, mediante programas de indenização coletivos, como as comunidades tradicionais", assegurou.
AÇÕES CONCRETAS — Com os recursos repassados em parcelas, o Governo Federal vai coordenar e implementar:
- Programa de Transferência de Renda para agricultores e pescadores;
- Programa Especial de Saúde do Rio Doce;
- Programas para a recuperação econômica da região, com eixos de fomento produtivo, fomento às cadeias agropecuárias e florestais e de educação, ciência, tecnologia e informação;
- Fundo popular para projetos da sociedade civil e movimentos sociais;
- Assessorias Técnicas Independentes (ATIs);
- Projetos e ações ambientais a serem coordenadas pela União;
- Fortalecimento da Assistência Social;
- Coordenação de Programas de Saneamento Básico;
- Melhorias na BR-262 (trecho do ES) em parceria com o governo de ES;
- Projetos para o desenvolvimento da pesca;
- Reforço às atividades de fiscalização de mineração;
- Fortalecimento da Previdência Social;
- Projetos de recuperação e compensação ambiental por meio do Fundo Ambiental, que irá gerir R$8,3 bilhões.
Para Júlia Marinho, secretária de Articulação e Monitoramento da Casa Civil, o acordo precisa do envolvimento dos estados e da colaboração dos municípios. "Ainda que alguns municípios não tenham aderido ao acordo, as ações continuarão a chegar lá na ponta, porque a população não pode ser prejudicada. A gente já tem quase 10 anos do desastre e as pessoas têm pressa", declarou.
CONTROLE DOS RECURSOS — O Governo Federal publicou, no dia 18 de março, o decreto 12.412/2025 que regulamenta a criação do Fundo Rio Doce, a ser gerido pelo BNDES, e trata da gestão dos recursos financeiros destinados às medidas reparatórias e compensatórias coletivas definidas pelo Acordo Judicial.
O decreto estabelece a governança e o controle na gestão dos recursos, com a criação do Comitê do Rio Doce, do Comitê Financeiro do Fundo Rio Doce e o estabelecimento do papel do BNDES, que deverá administrar o fundo, elaborar estatutos, aplicar recursos financeiramente e executar projetos.
O banco tem expertise na área de infraestrutura, na estruturação e acompanhamento de projetos. "Será muito importante para todo o projeto de retomada econômica que acontecerá nesse território. Ou seja, ações de saneamento, de assistência social, da saúde, do meio ambiente e também da retomada econômica", finalizou Maria Fernanda Coelho, diretora financeira do BNDES.
PARTICIPAÇÃO SOCIAL — Dentre as responsabilidades da Secretaria-Geral está a presidência do Conselho Federal de Participação Social, colegiado que irá gerir as ações necessárias para a implementação e execução do Fundo Popular da Bacia do Rio Doce.
Com regimento próprio, composto 50% por membros da sociedade civil, incluindo representantes indígenas e quilombolas, e 50% com representantes da administração pública federal, o Conselho servirá para garantir transparência e controle social dos atingidos.
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