Povos indígenas

Mulheres atuam na luta contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami

A presença de agentes mulheres na linha de frente da retirada de invasores e de demais políticas públicas fortalece o trabalho e contribui com redução de desigualdades

Agência Gov | Via Casa Civil
10/03/2025 17:13
Mulheres atuam na luta contra o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami
Fotos: Bruno Mancinelle/Casa de Governo
A 3ª sargento Gesitania Nascimento em uma ação de combate ao garimpo na Terra Indígena Yanomami

Um grupo de agentes das forças de segurança do Governo Federal avança por uma trilha de difícil acesso dentro da Amazônia, ao norte do país. O silêncio da floresta é interrompido pelo estalo de galhos sob as botas das agentes da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

A localidade da operação é na Terra Indígena Yanomami, que abrange 9.665 mil hectares da floresta. Entre elas está a 3ª sargento Gesitania Nascimento, da Polícia Militar do Estado do Acre. Ela olha para o alto, onde um helicóptero sobrevoa uma clareira de garimpo. A cena é um contraste entre o verde da floresta e as crateras de lama deixadas pelos invasores.

Gesitania fez o concurso para a Polícia Militar do Estado do Acre em 2012. Foram meses de preparação para disputar uma das oito vagas destinadas à mulheres. Quando finalmente iniciou o curso de formação, passou sete meses e meio em treinamento. No meio do processo, ouviu pela primeira vez a Canção do Expedicionário, hino da Força Nacional. Naquele momento, tomou uma decisão: "Eu disse: um dia eu vou estar lá também. Eu vou trabalhar na Força Nacional".

Essa oportunidade veio apenas em 2024, quando Gesitania fez a Instrução de Nivelamento de Conhecimento (INC) e foi convocada para atuar na desintrusão da Terra Indígena Yanomami (TIY). Hoje, ela faz parte da operação do Governo Federal coordenada pela Casa de Governo.

A ação reúne FNSP, Polícia Federal (PF), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Funai, Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e outros órgãos na missão de remover garimpeiros ilegais da maior reserva indígena do Brasil.

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Vista de uma área desmatada pelo garimpo, com clareiras abertas no meio da floresta
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A destruição deixada pela mineração ilegal é visível. O garimpo contamina rios, que mudam de coloração, devasta a floresta e expõe comunidades indígenas a doenças e violência. A resposta Federal à essa situação está em curso e começou quando o presidente Lula foi pessoalmente à Roraima para dar início às políticas de seu governo para com os yanomami. Decisão compromissada em decreto ainda em janeiro de 2023, início da atual gestão e marco da emergência yanomami. "Nós vamos fazer cumprir a lei. O que está acontecendo com os Yanomami é inaceitável", declarou Lula à época.

A 3ª sargento Camila Reis aguarda o pouso do helicóptero que tenta pousar em uma clareira de garimpo
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A 3ª sargento Camila Reis, da Polícia Militar do Estado do Amapá, lembra que a decisão de ingressar na polícia aconteceu ainda no fim do ensino médio. "Abriu concurso e as oportunidades eram poucas. Tinha para a polícia e para o Corpo de Bombeiros. Eu me identificava mais com a polícia, fiz e passei", recorda. Ela esperou mais de dez anos para integrar na FNSP. Como muitas mulheres na operação, veio de outro estado para atuar na linha de frente. Agora, atuando por regiões isoladas, participa de incursões e garante que as estruturas deixadas pelo garimpo sejam inutilizadas. "Sabemos dos desafios, mas também sabemos da importância do que estamos fazendo", afirma.

Agente do Ibama coordena operação de combate ao garimpo junto aos fuzileiros navais e Polícia Federal na Terra Indígena Yanomami
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Além da FNSP, mulheres desempenham papéis essenciais na missão. No Ibama e no ICMBio, elas fiscalizam áreas devastadas, operam maçaricos para inutilizar equipamentos e coordenam ações para impedir novas invasões. Na Funai, além do trabalho com antropólogas e servidoras que acompanham os Yanomami e garantem sua proteção, as equipes atuam diretamente dentro da TIY, também destruindo a infraestrutura do garimpo.

A Agente de Proteção Etnoambiental Katiane leite destrói um acampamento usado por garimpeiros na Terra Indígena Yanomami
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Na Frente da Proteção Etnoambiental da Funai está Katiane Leite, da etnia Macuxi. Para ela, atuar diretamente na proteção da população Yanomami é tanto uma responsabilidade quanto um motivo de orgulho. "Eu vi a resistência do povo Yanomami diante da ganância de algumas pessoas", disse Katiane. A experiência no território Yanomami a faz refletir sobre a luta dos povos indígenas contra a exploração e a importância da proteção de seus direitos. Em atuação na Funai há três anos, Katiane acredita que um dos maiores desafios é conscientizar a sociedade sobre a necessidade da preservação ambiental. "É muito difícil porque muitos nunca tiveram a oportunidade de conhecer o povo Yanomami. Mostrar essa realidade é um grande desafio", afirma.

Agente do Ibama inutiliza sacos de cassiterita durante fiscalização contra o garimpo ilegal
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A atuação feminina também se estende à Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), onde mulheres realizam o monitoramento de inteligência para antecipar ações do garimpo ilegal, e à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), responsável por fiscalizar o transporte irregular de equipamentos e produtos perigosos. A ANTT tem competência para estabelecer normas técnicas e de segurança para o transporte rodoviário de produtos perigosos, além de realizar a fiscalização desse tipo de carga em estradas e rodovias. Segundo Nathácia Fernandes, chefe do escritório regional de fiscalização da ANTT em Roraima, essa atuação é essencial para impedir que materiais usados no garimpo cheguem até a Terra Indígena. "Nosso trabalho é evitar que equipamentos e substâncias perigosas sejam transportados de forma irregular e cheguem até as áreas de garimpo dentro da Terra Indígena Yanomami", destaca Nathácia.

Além da ANTT, mulheres também desempenham papéis estratégicos na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Na ANAC, agentes fiscalizam aeronaves e pilotos suspeitos de transportar clandestinamente equipamentos e combustível para áreas de exploração ilegal. Já na ANP, mulheres monitoram e inspecionam postos e distribuidoras para evitar que combustíveis sejam desviados para abastecer a logística do garimpo.

As forças militares também integram a operação. O Comando Conjunto Catrimani II, coordenado pela Casa de Governo, atua na logística e segurança dentro da Terra Indígena Yanomami. Mulheres desempenham funções estratégicas, garantindo que as operações sejam coordenadas com precisão.

O aumento da participação feminina nas forças de segurança e no serviço militar tem sido crescente. Segundo o Exército Brasileiro, mais de 23,5 mil mulheres se alistaram para o serviço militar inicial feminino em 2024. Essa presença traz uma mudança estrutural, tanto dentro das Forças Armadas quanto nas operações civis, ampliando o papel das mulheres em missões de alto impacto, como na operação de desintrução na TIY, cujo efetivo feminino, assim como o masculino, não é um número público por questões de segurança.

Enquanto as forças de segurança avançam sobre o garimpo ilegal, outra frente da operação acontece dentro do território Yanomami. Médicas, enfermeiras e agentes de saúde da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (DSEI-Y) trabalham em campo para atender os Yanomami, Ye’kwana e Sanöma.

A gerente de projetos da Casa de Governo, Cleide de Sousa, destaca a importância dessa participação. "As mulheres trazem um olhar estratégico para a operação. Elas estão no campo, na logística, na inteligência, na administração e na coordenação, garantindo que tudo aconteça de forma exitosa".

Agente do ICMBio durante uma fiscalização na região do Trairão
Agente do ICMBio durante uma fiscalização na região do Trairão

O Governo Federal reconhece esse papel. Seja na TIY ou em outras regiões do Brasil onde há desinstrusões em curso, a presença feminina se fortalece. São mulheres na segurança, na fiscalização ambiental, na inteligência e na logística. Desde o início das operações de desintrusão, a área ocupada por garimpeiros ilegais sofreu uma redução importante.

Dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), órgão vinculado ao Ministério da Defesa, apontam que, entre março de 2024 e fevereiro de 2025, houve uma queda de 94,11% em áreas de garimpo ativo.

Em comparação com 2022, essa redução chega a 95,76%, refletindo o impacto direto das ações de fiscalização. Desde a abertura da Casa de Governo, já foram realizadas 4.163 ações de combate ao garimpo ilegal, reforçando o compromisso do Governo Federal com a preservação do território Yanomami, e as mulheres fazem parte de todo esse trabalho.

 

Link: https://www.gov.br/casacivil/pt-br/assuntos/noticias/2025/marco/mulheres-atuam-na-luta-contra-o-garimpo-ilegal-na-terra-indigena-yanomami
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