BRICS Brasil debate papel estratégico das mulheres para o desenvolvimento global
Abertura da reunião nesta quinta-feira (24), em Brasília, teve participação das ministras Cida Gonçalves, Esther Dweck, Macaé Evaristo e Anielle Franco, além da primeira-dama, Janja

Debater estratégias para que a igualdade de gênero esteja no centro dos debates sobre desenvolvimento econômico e inovação sustentável. Com este objetivo, o Ministério das Mulheres promoveu a Reunião Ministerial de Mulheres do BRICS, em Brasília/DF, nesta quinta-feira (24/4). O encontro, que ocorre sob a presidência brasileira do agrupamento do Sul Global, tratou de três temas considerados prioritários e interligados: Mulheres, Desenvolvimento e Empreendedorismo; Governança Digital: Misoginia e Desinformação; e Empoderamento das Mulheres, Ação Climática e Desenvolvimento Sustentável.
A anfitriã, ministra Cida Gonçalves, fez a abertura do evento e destacou que a recente expansão do grupo aumenta as oportunidades de fortalecer a voz coletiva nos fóruns internacionais e de promover uma agenda de desenvolvimento que coloque as mulheres no centro das políticas públicas. Ela evidenciou que o intercâmbio de boas práticas e o estabelecimento de parcerias estratégicas podem acelerar o progresso em direção à igualdade de gênero em todas as suas dimensões. Além das ministras e representantes para temas de gênero dos países membros do agrupamento, participaram da abertura as ministras Esther Dweck, Macaé Evaristo e Anielle Franco, além da primeira-dama, Janja Lula da Silva.
Confira aqui o discurso da ministra das Mulheres na íntegra.
“O Brasil está comprometido em promover o diálogo construtivo entre nossos países, respeitando nossas diversidades culturais e buscando pontos de convergência que nos permitam avançar juntos. Neste contexto, as mulheres são agentes fundamentais de mudança e seu empoderamento é condição necessária para o desenvolvimento sustentável. Sabemos que o BRICS representa uma força significativa para a construção de uma nova ordem mundial multipolar, onde as vozes do Sul Global possam ser efetivamente ouvidas e nós, mulheres, temos papel fundamental nessa transformação. Digo que esta reunião expressa esse compromisso entre as nações na promoção de um mundo mais justo e igualitário”, declarou a ministra em seu discurso de abertura.
A primeira-dama do Brasil, Janja Lula da Silva, foi enfática ao dizer que é preciso investir no enfrentamento da pobreza e das mudanças climáticas a partir de políticas que incorporem - da concepção até a execução - a perspectiva de gênero. “O agravamento das crises climáticas e alimentar empurra um número ainda maior de mulheres para situações de pobreza e insegurança alimentar. Esse cenário é agravado pela dificuldade de acesso a recursos e ferramentas que poderiam promover sua recuperação financeira e aumentar sua resiliência. Muitas políticas que o Brasil constroi para o enfrentamento dessas crises estão disponíveis na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza anunciada pelo presidente Lula na presidência do G20 no ano passado”, frisou.
A ministra dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, reiterou a importância do encontro para o fortalecimento da agenda de gênero, da democracia, dos direitos humanos e do multilateralismo. Ela relatou a importância do encontro diante das incertezas globais acerca dos direitos humanos e da tentativa constante do uso de força bruta ao invés da defesa do diálogo. “É muito importante que as mulheres reiterem a importância do diálogo e do pacifismo. Devemos pensar estrategicamente com o BRICS em áreas responsáveis pelo desenvolvimento econômico, fortalecimento Sul-Sul para avançarmos com a firme presença das mulheres. Precisamos nos unir e cessar toda forma de misoginia e violência contra mulheres, meninas e crianças”, declarou a ministra.
A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, salientou que as mulheres são essenciais para as mudanças econômicas, sociais e políticas dos países no fortalecimento do desenvolvimento. “O Brasil já tem liderado pautas como cuidados com a saúde, com a comunidade, com a família, com outros seres vivos e com recursos para a sobrevivência humana em longo prazo. Então, precisamos elevar o estado das mulheres ao patamar condizente com a sua contribuição histórica na produção de bens e serviços. As estatísticas nacionais que medem as horas de trabalho das mulheres não remuneradas são capazes de evidenciar a imensa contribuição delas para nosso social, ambiental e econômico”, destacou.
A ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, enalteceu o olhar comprometido do governo com a agenda étnico/racial com a criação pasta e evidenciou que a transversalidade é ponto de partida para apresentar avanços na vida da população. “Há avanços, mas a realidade é dura para as mulheres negras, quilombolas, indígenas, de terreiro e mulheres LBTs. Somos alvos de crimes de ódio, violência doméstica e política. Somos silenciadas, assediadas e impedidas de acessar com liberdade a vida pública. Somos nós que carregamos nas costas a organização e gestão doméstica, familiar e territorial, mas infelizmente com trajetórias mais precarizadas e com acúmulo de opressões sobre nossos corpos. Então, combinar vontade política com políticas públicas, dentro de um governo que cuida das pessoas como elas merecem, faz muita diferença e traz resultados concretos”, pontuou.
A mesa de abertura também foi composta pela embaixadora Vanessa Dolce de Farias (Alta Representante para Temas de Gênero do Itamaraty) e pela secretária-executiva do Ministério das Mulheres, Maria Helena Guarezi. O MMulheres também foi representado pela secretária Nacional de Autonomia Econômica e Política de Cuidados, Rosane Silva; pela secretária Nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política, Andreza Xavier (substituta); pela diretora de Proteção e Direitos da Secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra Mulheres, Pagu Rodrigues.
Paineis
Empreendedorismo
No painel Mulheres, Desenvolvimento e Empreendedorismo, a fundadora e CEO da Rede de Mulheres Empreendedoras, Ana Fontes, fez considerações acerca da autonomia econômica da mulher por meio do empreendedorismo - uma alternativa para quem está excluída do mercado formal de trabalho, como pontuou - e traçou o perfil da empreendedora brasileira.
“Hoje somos cerca de 10 milhões de mulheres empreendedoras. Isso significa, mais ou menos, que a metade dos empreendedores no Brasil, ou a metade dos negócios no Brasil, são liderados por mulheres. E isso é muito importante, porque elas movimentam a economia do nosso país, movimentam o país e, além de tudo, ainda trazem desenvolvimento para as suas famílias”, descreveu Ana Fontes.
“Os principais gatilhos ou motivações para essas mulheres empreenderem são a maternidade e 70% delas empreendem após terem filhos e, infelizmente, isso não é uma notícia bacana. As mulheres são empurradas a empreender, porque os ambientes corporativos ainda são ambientes extremamente hostis para essas mulheres, especialmente mulheres com filhos pequenos”, explicou a CEO.
Misoginia online e desinformação
No painel Governança Digital: Misoginia e Desinformação, a pesquisadora do NetLab, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luciane Leopoldo Belin, falou sobre a pesquisa feita em parceria com o Ministério das Mulheres “ Aprenda a evitar ‘este tipo’ de mulher: estratégias discursivas e monetização da misoginia no YouTube ”. Segundo ela, o estudo norteou olhares para uma análise mais profunda sobre os conteúdos misóginos.
“Observamos 137 canais onde foi de fato identificado conteúdo de discurso de ódio e misógino no YouTube. Esses vídeos alcançaram muita gente, são canais com média de 152 mil inscritos. Então, é uma comunidade grande que se forma em torno desses conteúdos, que têm em média 28,8 milhões de visualizações por vídeo e juntos somam mais de 4 bilhões. Eles mobilizam o público deles e geram muita discussão na internet”, explicou a pesquisadora.
Luciane também pontuou o risco com a monetização do ódio contra as mulheres nas plataformas e como isso é revelado na pesquisa. Os produtores de conteúdo misóginos geram recursos significativos vendendo livros, cursos e dando palestras para outros homens com conteúdos misóginos e quem lucra com isso também são as big techs. Luciane destacou a importância da regulação para que regras sejam impostas a fim de impedir esse tipo de negócio.
Empoderamento de mulheres
Já no painel sobre Empoderamento das mulheres, ação climática e desenvolvimento sustentável, a representante interina da ONU Mulheres, Ana Carolina Querino, destacou que as mulheres são desproporcionalmente afetadas pelas mudanças do clima e desastres ambientais e justificou a necessidade de se ter mais mulheres em espaços de decisão quando tratamos do tema. Na oportunidade, Querino falou sobre os avanços trazidos no âmbito da 69ª Sessão da Comissão sobre a Situação da Mulher (69CSW) e da revisão da Convenção e Plataforma de Pequim, que completa 30 anos em 2025 e é considerado o documento mais progressista quando se trata dos direitos das mulheres.
“Como pensar de forma inovadora a partir da certeza que o mundo está mudando a passos cada vez mais largos? Não vivenciamos as quatro estações como costumávamos e teremos que nos adaptar mais frequentemente às secas intensas, chuvas mais fortes e ondas de calor e frio extremos. Então, essencialmente a participação das mulheres, o empoderamento das mulheres no espaço de poder e decisão, violência zero, fim da pobreza e a ação climática são temas que se relacionam entre si e não conseguimos mais falar deles de forma isolada. Em uma situação de desastre climático são as mulheres que deixam de acessar serviços essenciais, que ficam expostas a diversos tipos de violência, que têm suas cargas de trabalho não remuneradas aumentadas”, pontuou a representante da ONU Mulheres.
BRICS
A presidência brasileira do BRICS em 2025 tem como lema “Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável”. O bloco composto por 11 países atua como um espaço de articulação político-diplomática para nações do Sul Global, promovendo cooperação em diversas áreas.
O agrupamento reúne, como membros originários, Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, bem como os novos membros: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã, que foram incorporados na 15ª Cúpula do BRICS, em Joanesburgo, em agosto de 2023. A Indonésia aceitou formalmente o convite para integrar o agrupamento em 2024.
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte