MTE resgata trabalhadores em condições análogas à escravidão em Minas Gerais
Vítimas foram aliciadas por redes sociais com falsas promessas e submetidas a violência física, psicológica e jornadas exaustivas. Ação contou com apoio da PF, MPT e universidades

Entre os dias 8 e 15 de abril de 2025, uma ação coordenada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por meio da Auditoria Fiscal do Trabalho, resgatou duas pessoas submetidas a condições análogas à escravidão no município de Planura, na região do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais. A operação contou com a participação do Ministério Público do Trabalho (MPT), da Polícia Federal (PF) e do acompanhamento da Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo do Centro Universitário Presidente Antônio Carlos (UNIPAC).
A fiscalização foi desencadeada a partir de uma denúncia registrada no canal Disque 100, que apontava graves e sistemáticas violações de direitos humanos. Os relatos indicavam sinais de trabalho forçado, cárcere privado, exploração sexual e violência física e psicológica.
Durante a inspeção, a equipe de auditores identificou que as vítimas — um homem homossexual e uma mulher transgênero, ambos de nacionalidade uruguaia — foram aliciadas por meio de redes sociais. Os empregadores usavam plataformas para abordar pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica e afetiva, prometendo falsas oportunidades de trabalho, moradia e acolhimento. As abordagens exploravam principalmente membros de comunidades LGBTQIAPN+, com o objetivo de estabelecer vínculos de confiança e, posteriormente, promover situações abusivas e degradantes.
As vítimas foram traficadas para a região e submetidas a jornadas exaustivas, sem remuneração e em condições precárias de moradia. Um dos resgatados foi mantido por aproximadamente nove anos como empregado doméstico, sem registro em carteira, sofrendo diversos tipos de violência — física, sexual e psicológica. A equipe constatou que ele foi coagido a fazer uma tatuagem com as iniciais dos patrões, como símbolo de posse.
A outra vítima, uma mulher trans migrante, também foi levada ao local por meio de falsas promessas e inserida em um vínculo de trabalho doméstico informal. Ela relatou ter vivido em um ambiente opressor, sem salário adequado e sob constante intimidação. Durante o período em que esteve na casa dos empregadores, chegou a sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), possivelmente causado pelo estresse e pelas violências presenciadas.
Diante da gravidade dos fatos, a Polícia Federal efetuou a prisão em flagrante de três homens identificados como empregadores. As vítimas estão sendo acolhidas pela Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) e pela UNIPAC, que oferecem assistência médica, psicológica e jurídica.
Denuncie
Denúncias podem ser feitas de forma anônima pelo Sistema Ipê ( ipe.sit.trabalho.gov.br ) ou pelo Disque 100, com ligação gratuita e atendimento 24 horas por dia, a partir de qualquer telefone fixo ou celular.
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