Portarias oficializam exame para avaliar formação médica no Brasil
Notas do Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica poderão ser usadas para ingresso em programas de residência. Medidas buscam adequar as formações às novas diretrizes para a educação médica no Brasil

Foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira, 24 de abril, duas medidas do Ministério da Educação que buscam ampliar a qualidade da formação médica no Brasil. Tratam-se das Portarias MEC Nº 329/2025 e Nº 330/2025 , ambas assinadas pelo ministro da Educação, Camilo Santana.
Instituído pela Portaria MEC Nº 330/2025, o Exame Nacional de Avaliação da Formação Médica (Enamed) vai mensurar o desempenho dos estudantes de Medicina em relação às Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), avaliando competências essenciais ao exercício profissional. A participação no exame será obrigatória e sua estrutura estará integrada à matriz curricular dos cursos de graduação em medicina.
O novo exame possui relevância estratégica nacional, no escopo da avaliação da formação médica no Brasil, e seus resultados impactam diretamente o Sistema Único de Saúde (SUS) e o ingresso de novos médicos no mercado de trabalho.
O Enamed permitirá o monitoramento contínuo do progresso acadêmico dos estudantes, com a definição de níveis de desempenho. Seus resultados serão utilizados na avaliação da qualidade dos cursos em todo o país e poderão ser considerados em processos seletivos de residência médica, incluindo o Exame Nacional de Residências (Enare), instituído pela Portaria MEC Nº 330/2025.
OBJETIVOS — Integram os objetivos do Enamed a avaliação da formação médica para verificar se os concluintes dos cursos de medicina adquiriram as competências e habilidades exigidas pelas DCNs; o apoio à melhoria dos cursos para fornecer insumos que aprimorem as graduações em medicina, contribuindo para a qualidade da educação médica no Brasil; o aprimoramento da seleção para a residência médica que unifique a avaliação do Enade e a prova objetiva do Enare, otimizando o acesso à residência médica de acesso direto.
Outras duas metas abrangem o fortalecimento do SUS na garantia que os futuros médicos estejam preparados para atuar de maneira qualificada no sistema, além de buscar a unificação e transparência necessária para criar um modelo padronizado de avaliação, democratizando o ingresso nos programas de residência médica de acesso direto.
GARANTIR BOA FORMAÇÃO — O ministro da Educação, Camilo Santana, destacou que o objetivo do Enamed é garantir a qualidade da formação dos médicos no Brasil. Segundo ele, será constituído um grupo de trabalho (GT) para discutir a proposta que o Inep está apresentando para realização da prova. O GT reunirá integrantes de conselhos, entidades de classe e instituições públicas para definir o melhor formato do exame.
O médico trata de vida. A gente sabe a importância do médico, do profissional da saúde, do SUS, do atendimento da saúde da população. Nós queremos garantir, e essa é uma orientação do presidente Lula, a boa formação da qualidade dos nossos profissionais de saúde, dos nossos médicos, dos nossos enfermeiros. Eu não tenho dúvida de que, com o Enamed, nós estamos dando um passo importante para alcançar esse objetivo”
Camilo Santana, ministro da Educação
OLHAR HUMANIZADO — O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, destacou que o maior desafio do país era formar especialistas que tratassem das pessoas com um olhar humanizado. Segundo Padilha, a avaliação com foco em resultados faz parte do exercício do MEC e deve observar a formação dos profissionais da saúde, de modo a apontar os melhores caminhos para alcançar esse objetivo.
“Esse deve ser o maior foco do processo de formação médica. Eu quero saudar o ministro Camilo, porque você e sua equipe estão, exatamente, apontando os caminhos daquilo que existe de melhor na experiência internacional. Toda experiência internacional hoje aposta em duas questões fundamentais na formação médica: a avaliação deve focar o progresso do estudante, mas precisa ter um olhar sobre a instituição formadora”, falou Padilha.
“Essa é mais uma ação conjunta do Governo Federal para qualificar a formação médica no Brasil. Já avançamos na avaliação dos programas de residência médica e, agora, com o Enamed, poderemos acompanhar o desempenho dos estudantes ao longo do curso, propor melhorias e qualificar ainda mais as instituições formadoras”, assegurou o titular da Saúde.
INSCRIÇÕES E CALENDÁRIO PREVISTO — A inscrição no Enamed será gratuita, com critérios e prazos definidos em edital a ser publicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), vinculado ao MEC. O prazo deve iniciar em julho. O exame é obrigatório para todos os estudantes concluintes de cursos de graduação em medicina. A aplicação da prova está prevista para outubro e a divulgação dos resultados individuais para dezembro.
Para utilizar os resultados do Enamed para o Exame Nacional de Residência, é necessário se inscrever no Enare e pagar uma taxa de inscrição (exceto casos de isenção previstos em edital). Os estudantes que farão o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes e que não pretendem utilizar os resultados da prova para ingressar na residência, pelo Enare, estarão isentos da taxa.
ENARE – A Portaria Nº 329/2025 dispõe sobre o Exame Nacional de Residências (Enare), processo seletivo unificado nacional que seleciona candidatos para ingresso em Programas de Residência Médica e de Residência Multiprofissional e em Área Profissional da Saúde.
Entre os objetivos estão democratizar o acesso aos programas; ampliar a transparência e uniformidade dos critérios de seleção dos mesmos; garantir oportunidades justas e isonômicas para todos os candidatos, independentemente de origem ou condição socioeconômica e otimizar a ocupação das vagas de residências pelo país; além de reduzir custos operacionais das instituições aderentes ao processo de seleção de residentes.
O Enare será realizado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), todo ano, com aplicação descentralizada. Associado a isso, contemplará reserva de vagas para ações afirmativas, na forma estabelecida em edital da Ebserh. A adesão das instituições públicas e privadas que ofertam programas de residência reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) ao exame será voluntária e se dará mediante assinatura do respectivo termo pelo coordenador do programa.
Instituições que ingressarem no Enare deverão cumprir integralmente as regras estabelecidas no edital de adesão e demais normativas aplicáveis, sendo exclusivamente responsáveis pela execução e gestão dos programas de residência, incluindo, entre outros aspectos, o processo de matrícula dos residentes, a gestão das bolsas e quaisquer outros benefícios ou auxílios eventualmente ofertados aos residentes.
COMISSÃO — Na quarta-feira, 23 de abril, foi anunciada pelos ministros Camilo e Padilha uma Comissão Interministerial com objetivo de avaliar a qualidade da formação médica no país. A iniciativa visa discutir e propor ações para aprimorar o ensino médico, com base nos resultados do Enamed e nas novas diretrizes para a educação médica no Brasil.
A Comissão Interministerial terá como principais atribuições a análise dos resultados do exame, a avaliação da qualidade dos cursos de medicina e a atualização das diretrizes curriculares. Também será responsável por propor adequações na formação médica frente às novas demandas, como a incorporação de tecnologias – incluindo inteligência artificial – e os desafios impostos pela pós-pandemia. Um dos focos será a definição clara do que se espera dos estudantes em cada etapa da graduação.
MAIS MÉDICOS — O aprimoramento da formação médica está alinhado aos objetivos do Programa Mais Médicos, criado em 2013 para ampliar o acesso à saúde nas regiões mais vulneráveis e fortalecer a Atenção Primária à Saúde (APS). O programa oferece uma trilha formativa de quatro anos, que combina especialização e mestrado profissional com foco em Medicina de Família e Comunidade. Os médicos atuam em Unidades Básicas de Saúde (UBSs), participando de atividades práticas, ensino, pesquisa e extensão. O programa federal já conta com 24,9 mil profissionais atuando em 4,2 mil cidades brasileiras. O número representa 77% do território nacional e assistência a mais de 64 milhões de pessoas, com meta de alcançar 28 mil médicos até o fim de 2025.
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte