Brics une forças para combater a tuberculose e fortalecer produção de vacinas
O 18º encontro da Rede de Pesquisa em Tuberculose do agrupamento ocorreu na última semana, em Brasília, e objetivou o fortalecimento de estudos em conjunto entre os países para desenvolver tratamentos mais rápidos e novos imunizantes para a doença

O 18º encontro da Rede de Pesquisa em Tuberculose do Brics ocorreu na última semana e reuniu, presencialmente, os cinco países fundadores do agrupamento e da rede temática — Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul — e também a Etiópia. Durante as reuniões, os pesquisadores concordaram em unir esforços para aumentar as parcerias no desenvolvimento de novas vacinas contra a doença e também desenvolver tratamentos que sejam mais rápidos.
"Grande parte dos países dos Brics são de alta carga de incidência de tuberculose. A Índia é o país com maior carga, África do Sul é um dos maiores, Brasil também é de alta carga e o novo país que entrou esse ano, a Indonésia, por exemplo, é o segundo maior. Então, a gente tem muitos desafios e essa rede visa trabalhar, em conjunto, para a gente ultrapassar os desafios. Como produto da reunião, a gente espera ter as principais estratégias para mobilizar recursos para esse grupo, elencar as principais pesquisas e quais são as prioridades de investimento, se são as vacinas, novos medicamentos", explicou Fernanda Dockhorn Costa Johansen, coordenadora-geral de Vigilância da Tuberculose, Micoses Endêmicas e Micobactérias não Tuberculosas do Ministério da Saúde. Ela coordenou o encontro entre os países membros.
"Tem uma vacina que iniciou o processo de pesquisa na Fiocruz aqui em Bio Manguinhos para tuberculose, especificamente, e está na fase bem inicial ainda de modelos animais. A gente espera conseguir ter uma vacina nacional, com uma tecnologia nova, baseada em RNA. Esperamos ter alguma novidade até 2030"
A criação de novas vacinas para combater a tuberculose está entre as prioridades definidas pela rede. Atualmente, o imunizante mais utilizado no mundo todo para prevenir os casos graves da tuberculose é a BCG — aplicada, no Brasil, em crianças ao nascer. No entanto, essa vacina enfrenta algumas limitações.
"Estamos ansiosos pelas novas vacinas, que devem iniciar já em 2029. E, claro, será um divisor de águas, porque a única vacina disponível no momento é a BCG, que tem mais de 100 anos. É claro que não é tão eficaz. Na verdade, ela protege apenas crianças pequenas do desenvolvimento de formas graves de tuberculose, como a meningite tuberculosa. E agora temos a chance de diminuir a curva de incidência da tuberculose e acelerar o progresso rumo à erradicação da doença. Isso requer vários anos de trabalho preparatório. Devemos revisar os princípios regulatórios em diferentes países. Avaliar a capacidade de introdução desses novos produtos", comentou a diretora do Programa Global de Tuberculose e Saúde Pulmonar da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tereza Kasaeva.
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A rede de tuberculose do Brics almeja participar de ensaios clínicos de novas vacinas em desenvolvimento no mundo. Uma delas, inclusive, é brasileira e está em fase de pesquisa na Fiocruz. "Tem uma vacina que iniciou o processo de pesquisa na Fiocruz aqui em Bio Manguinhos para tuberculose, especificamente, e está na fase bem inicial ainda de modelos animais. A gente espera conseguir ter uma vacina nacional, com uma tecnologia nova, baseada em RNA. Esperamos ter alguma novidade até 2030", detalhou Fernanda Johansen.
Excelência
"Os países do Brics são não só uma grande força e poder político, mas também são reconhecidos com expertise em várias áreas relacionadas à saúde global. Aqui estamos discutindo, em particular, a tuberculose. Devemos dizer que não apenas mais de 50% da carga global de tuberculose está nos países do Brics, mas todos os principais especialistas estão nos países do Brics"
A representante da OMS, Tereza Kasaeva, elogiou o pioneirismo brasileiro na tentativa de desenvolver uma vacina nacional para a tuberculose. “Este foi um movimento muito inspirador. O Brasil tomou essa decisão de renovar a fabricação de vacinas no país. E essa fabricação local é outro instrumento importante. Porque a dependência de algumas empresas fabricantes estrangeiras é um dos motivos pelo qual o acesso nem sempre é oportuno, não é equitativo e por que vacinas e outros produtos não são acessíveis para a maioria da população”, disse.
"Os países do Brics são não só uma grande força e poder político, mas também são reconhecidos com expertise em várias áreas relacionadas à saúde global. Aqui estamos discutindo, em particular, a tuberculose. Devemos dizer que não apenas mais de 50% da carga global de tuberculose está nos países do Brics, mas todos os principais especialistas estão nos países do Brics. Se observarmos o que aconteceu em termos de novas ferramentas introduzidas, novas diretrizes, novas estratégias, os representantes dos Brics desempenharam um papel central em todas essas atividades", destacou também Kasaeva.
Por fim, a representante da OMS afirmou que o Brics pode figurar como uma liderança na saúde global. “O mundo aguarda o Brics com grande expectativa, declarando sua disposição e priorizando a saúde global em sua agenda. O mundo busca essa liderança e precisa dela agora mesmo, neste momento desafiador. E esperamos que os países do Brics deixem isso claro”, disse.
Agilidade
Outro ponto ressaltado pelo agrupamento é a necessidade de um tratamento mais rápido para a tuberculose, como explica Sanjay Kumar, representante da Índia na Rede de Pesquisa em Tuberculose do Brics.
"Esperamos agora, sob a liderança do Brasil, neste ano, que tenhamos que buscar novas fontes de financiamento para manter as iniciativas de pesquisa em andamento"
"Se você observar a forma simples da tuberculose, os pacientes precisam continuar o tratamento por seis meses. Quando se trata de uma tuberculose complexa, resistente a medicamentos, a duração se torna ainda mais longa. Isso porque estamos tendo um bom tratamento com o medicamento Bipal-M. Antes disso, tínhamos uma duração de tratamento de até dois anos, três anos, com os medicamentos sendo administrados", detalhou o indiano.
O financiamento para esse tipo de pesquisa também é uma preocupação dos países membros. "Esperamos agora, sob a liderança do Brasil, neste ano, que tenhamos que buscar novas fontes de financiamento para manter as iniciativas de pesquisa em andamento. Em particular, houve uma redução considerável na pesquisa devido à dependência financeira de países de fora do agrupamento", alertou Barry Kistnasamy, comissário de compensação de saúde da África do Sul.
“Precisamos aprofundar esses intercâmbios, bem como a questão dos produtos que vêm dos diferentes países, sejam novos ensaios de vacinas ou novos medicamentos. Houve alguma colaboração em ensaios multinacionais, mas não o suficiente, então precisamos aprofundar esse processo. Precisamos começar a analisar novos mecanismos de colaboração e como financiá-los”, acrescentou o sul-africano.
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