Cultura

Biblioteca Nacional doa 1,5 mil livros para unidade prisional em Resende (RJ)

Carta enviada por detento motivou a ação realizada em parceria com a Secretaria de Administração Penitenciária do Rio. Escritor e ex-detento Sagat B participou da entrega

Agência Gov | via FBN
26/06/2025 11:21
Biblioteca Nacional doa 1,5 mil livros para unidade prisional em Resende (RJ)
Divulgação
Sagat B, Australiamar e Lucchesi na busca pelas penas da literatura e do conhecimento

A última terça-feira (24) foi especial para os detentos da Cadeia Pública Inspetor Luís Fernandes Bandeira Duarte, em Bulhões, distrito de Resende (RJ). Principalmente para Australiamar Fernandes, autor de uma carta recebida pela Secretaria de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro (Seap), na qual ele pedia a doação de livros da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), para a unidade prisional. A carta chegou às mãos do presidente da instituição, Marco Lucchesi, que prontamente se dispôs a atender à solicitação.

Pela manhã, 1.500 livros chegaram à prisão onde Australiamar cumpre pena, entregues pessoalmente por Lucchesi. O pedido do detento não se limitava aos títulos associados ao Programa de Remição de Pena pela Leitura: ele pedia obras de diversas áreas do saber. Os títulos selecionados, editados pela Biblioteca Nacional, valorizam o direito à formação crítica, ao entretenimento e à reconstrução da identidade dos presos. O transporte das publicações foi viabilizado pela Seap, assim como a ida da equipe ao local.

Transformando vidas

“A ressocialização não começa por uma entrevista de um assistente social, de um psiquiatra: a ressocialização começa dentro de nós, dentro dos presos reeducandos. E essa administração nos deu um aporte, nos deu uma ajuda. O preso entende a língua de um outro preso, e o meu intuito foi passar para os demais reenducandos que há saída, há uma forma de você repensar sua vida sem ser com a arma. Quero vê-los com um livro na mão, sentados na cadeira de uma faculdade, pensando em se ressocializar de uma outra forma. Estou eternamente grato por tudo que está acontecendo hoje”, celebra Australiamar.

O pensamento do detento encontra eco na fala de um escritor que já esteve no sistema prisional. Enquanto era interno do presídio Bangu 5, Sagat B descobriu a literatura. Hoje, tem dois livros lançados - O Bandido Que Virou Artista e Amor, Substantivo Feminino - e viaja pelo Brasil fazendo palestras. O autor foi convidado pela Seap para participar da entrega dos livros em Resende. Na ocasião, ele entregou suas obras para Depósito Legal na Biblioteca Nacional.

“Poder ter acesso à literatura naquela unidade prisional mudou a minha mente, minha perspectiva. Eu pude entender melhor o meu papel como um homem negro, periférico, favelado, dentro da sociedade e, de alguma forma, me movimentar melhor dentro dela através desse conhecimento. Eu pude sair do crime, de fato”, afirma. “Há muitos jovens com 15, 16 anos que chegam numa unidade socioeducativa e acham que a vida acabou. Eu sou prova viva de que há sim possibilidade de mudança, de uma vida mais digna - porque o crime é uma questão de escolha. Vamos escolher o melhor caminho, porque sempre há essa possibilidade: enquanto há a vida há esperança”, diz.

A doação foi celebrada pelo diretor da unidade em Resende, o policial penal Douglas Lugão: “Eu tinha uma sala de biblioteca muito pequena, muito limitada, com baixíssimo acervo de títulos. Com a doação da Biblioteca Nacional, eu tenho o orgulho de dizer que agora estou com um acervo muito bom, com mais de 2 mil títulos. Além disso, também consegui ampliar, criando uma sala de leitura para aqueles presos que quiserem usufruir do espaço”, conta.

O presidente da FBN, Marco Lucchesi, fala sobre a importância da ação: “Tenho uma ideia contínua de que vamos enviar tantos livros para as prisões que não haverá mais espaço para esse modelo e, portanto, elas se tornarão grandes bibliotecas. É uma metáfora, naturalmente, mas que ressalta a importância dessa requalificação do espaço - mais que requalificação, uma conquista do espaço. Dentro de nossas casas, cada um dos quartos, corredores, têm um significado muito importante para nós. Significado que é de ordem simbólica. Assim, se pudermos também humanizar essas casas, conseguiremos dar um salto muito importante para um conceito maior, de que somos todos brasileiros, parte desse país, da democracia, da construção do futuro”, afirma Lucchesi.

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