Ações da Embrapa e ministérios enfrentam a vassoura-de-bruxa da mandioca no Amapá e Pará

Em resposta à declaração do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) de situação de emergência fitossanitária, por meio da portaria 769/25, e à instituição do Centro de Operações de Emergência Agropecuária (COE-Mapa) portaria 1253/25, estratégias conjuntas entre Embrapa e diversos ministérios estão sendo implementadas para o enfrentamento à vassoura-de-bruxa da mandioca nos estados do Amapá e Pará, incluindo os territórios indígenas do Oiapoque, Wajãpi e Tumucumaque nas fronteiras com a Guiana Francesa e Suriname.
Participam, além da Embrapa e Mapa, os ministérios do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Povos Indígenas (MPI), Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Saúde (MS), Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), além de outros órgãos e o Governo do Estado do Amapá.
Frentes em andamento
1 – combate à insegurança alimentar com entrega de cestas de alimentos aos indígenas, agricultores familiares e demais públicos vulnerabilizados pelo avanço da doença. As entregas de cestas acontecem pelo MDS, em parceria com a Funai e o governo do estado, pois o fungo vem destruindo as roças em vários municípios;
2 – Assistência Técnica e Extensão Rural indígena, com treinamento em boas práticas de manejo e para orientação dos povos e comunidades produtoras de mandioca;
3 – Busca de recursos para o financiamento de pesquisas para soluções a médio e longo prazo, já que até o momento, não se identificaram variedades geneticamente resistentes à nova doença.
No dia 30/06, foi realizada uma reunião na Casa Civil da Presidência da República sobre a situação do avanço da vassoura-de-bruxa da mandioca e atuação integrada para controle sanitário, combate à disseminação da praga e ações preventivas para redução da insegurança alimentar nos estados do Amapá e Pará. Participaram um conjunto de instituições, entre elas representantes da Secretaria de Avaliação e Monitoramento e Assessorias da Casa Civil, Embrapa, MDA, Mapa, MDS, MPI e Ministério da Defesa, entre outras.
Neste mesmo dia, o governo federal anunciou um crédito especial para diversificar a produção de alimentos nos territórios indígenas como forma de garantir a segurança alimentar dos povos, tendo em vista que será necessário mudar a utilização das áreas em que não se pode mais produzir mandioca em decorrência do fungo.
Nos dias 7 e 8 de julho, acontece um workshop técnico-científico com o objetivo de realizar a coleta de material para análises laboratoriais no município de Amapá (AP) com a participação de pesquisadores da Embrapa Mandioca Fruticultura e Embrapa Amapá, cientistas da Universidade Estadual do Amapá e da instituição de pesquisa alemã DSMZ, como parte da cooperação Brasil-Alemanha para o diagnóstico e busca de genótipos que possam ser utilizados no melhoramento genético para a futura obtenção de variedades resistentes. Na foto, a visita de campo, realizada nesta segunda-feira, 07/07, demonstra o trabalho integrado das instituições.
A vassoura-de-bruxa da mandioca, causada pelo fungo Rhizoctonia theobromae (Ceratobasidium theobromae) foi identificada pela primeira vez no Brasil em agosto de 2024, em plantações de mandioca nas terras indígenas do Oiapoque. O Mapa confirmou oficialmente esse primeiro foco com laudo molecular. Desde então, o fungo já foi detectado também nos municípios de Calçoene e Amapá (AP) e vários outros municípios vizinhos.
Recursos do MDA contribuem com parte da pesquisaAté o momento a Embrapa vem trabalhando com recursos repassados pelo MDA, por intermédio de um Termo de Execução Descentralizada (TED), no valor de R$ 1,296 milhão para o trabalho de pesquisa e testes, que estão sendo realizados de forma participativa com os povos indígenas da região. A Embrapa Amapá recebeu, em 2024, R$349.980,25 e agora em 2025, recebeu o aporte de R$847.143,98. A autorização para atuação junto às comunidades veio das lideranças indígenas do Oiapoque, em diálogo com a Embrapa Amapá e demais equipes de pesquisa. O recurso repassado contribui com parte dos trabalhos de pesquisa que necessitam ser realizados pela Embrapa Amapá e Embrapa Mandioca e Fruticultura, entre eles: testes de pesticidas químicos e bio-pesticidas existentes no mercado, resgate de variedades nativas que ainda estão sobrevivendo em regiões não afetadas pela doença no estado do Amapá e identificação por genotipagem do material genético existente, na busca de maior conhecimento sobre a interação do patógeno - hospedeiro de modo de ação da doença. A diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia da Embrapa, Ana Euler, destacou ser de grande importância a entrega de cestas de alimentos para os povos indígenas do Oiapoque, uma vez que várias aldeias tiveram seus plantios de mandioca afetados. Outro ponto importante recomendado é a diversificação de culturas para que as comunidades possam ter fontes alternativas de alimento e renda. De acordo com a diretora, estão sendo testadas variedades disponibilizadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura e também dos próprios indígenas, as chamadas nativas. “Estamos confiantes nos futuros resultados, no entanto, temos a consciência de que pesquisa se faz a longo prazo, não é possível se obter um resultado imediato”, esclarece Ana Euler explicando que algumas variedades que inicialmente se pensava ser resistentes, mostraram sintomas da doença depois de um ano de cultivo. Outras variedades serão testadas em novos estudos. Outro ponto importante é que o trabalho no território indígena do Oiapoque já acontece há anos, seja no intercâmbio de conhecimentos para o melhoramento genético das variedades dos indígenas, seja na produção de fruticultura. “A confiança no relacionamento antigo entre a Embrapa e os povos indígenas da região tem facilitado a discussão participativa e a busca conjunta de possíveis soluções”, ressalta a diretora. |
Seminário binacional
Um seminário binacional para o controle da vassoura-de-bruxa na cultura da mandioca ocorreu em março, em Belém. O evento, que reuniu representantes do Brasil e da Guiana Francesa, teve como objetivo principal discutir estratégias de prevenção e controle dessa praga, além de compartilhar conhecimentos e apresentar soluções para minimizar seus impactos econômicos, sociais e ambientais na produção de mandioca.
O seminário contou com a participação de mais de 60 pessoas, incluindo pesquisadores nacionais e internacionais, universidades,lideranças indígenas e de populações tradicionais e agricultores familiares, além de representantes de comunidades amazônicas e autoridades públicas. O evento foi uma iniciativa de cooperação entre Embrapa e Cirad e teve a colaboração do Governo Federal, Embrapa Amazônia Oriental e governo do Pará, com o apoio de diversas outras instituições.
Participaram também representantes do Centro Internacional de Agricultura Tropical (Ciat) que tem atuação em diversos países e continentes, entre eles a Ásia, onde identificou-se no passado a primeira ocorrência da vassoura-de-bruxa, além de um país africano.
Programa Nacional de Prevenção
Em março de 2025, o Mapa instituiu o Programa Nacional de Prevenção e Controle da vassoura-de-bruxa e disponibilizou um painel atualizado constantemente sobre a localização da doença no país. Já foram realizadas 735 inspeções, 32 amostras coletadas e 45 casos confirmados até 27 de junho de 2025.
Acesse o painel aqui
Ater IndígenaO governo federal começou pelo estado do Amapá a aplicação do primeiro Programa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) construído para atender aos povos indígenas. A ação é coordenada pela Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), vinculada ao MDA. Serão beneficiadas cerca de 400 famílias, em 65 aldeias, nas Terras Indígenas Uaçá, Galibi e Juminã, dos povos Karipuna, Galibi Marworno, Palikur Arukwayene e Galibi Kali’na, localizadas no município de Oiapoque (AP). Evento de assinatura do programa ATER Indígena com a Secretaria de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Tradicionais do MDA Saiba mais: Governo federal inaugura no Amapá programa de assistência rural para povos indígenas |
O fungo não foi ainda detectado em outros hospedeiros
Como o espalhamento da doença está sendo muito rápida e já foi detectada, em junho, a Embrapa Amapá tomou a decisão de restringir a entrada de terceiros no Campo Experimental do Cerrado, localizado na BR-210, em parceria com a prefeitura de Porto Grande. O município ainda não está incluído oficialmente com a presença da doença. Saiba mais sobre esta ação acessando: Além da identificação e classificação da doença, várias informações científicas foram produzidas pelos trabalhos das equipes técnicas da Embrapa Amapá e da Embrapa Mandioca e Fruticultura, com apoio de instituições como Cirad (Centre de Coopération Internationale en Recherche Agronomique pour Développement), Ciat (Centro Internacional de Agricultura Tropical) e Instituto da Alemanha DSMZ. Conheça a Nota Técnica mais recente elaborada pela Embrapa Amapá, acessando aqui. |
Centro de Operações Emergenciais
O Centro de Operações de Emergências Vassoura de Bruxa da Mandioca - COE-MAPA Vassoura de Bruxa da Mandioca, foi instituído pelo Secretário de Defesa Agropecuária por meio da Portaria SDA/MAPA Nº 1.253, 14 de março de 2025, com o propósito de oferecer uma resposta coordenada e eficiente ao risco de surto da praga quarentenária presente Rhizoctonia theobromae - vassoura de bruxa da mandioca nos estados do Amapá e Pará. A ação tem como objetivo aprimorar o planejamento e a resposta coordenada, de forma integrada e articulada com estados, pesquisadores, institutos e outros representantes do governo federal e estadual, para enfrentamento da praga - vassoura de bruxa da mandioca no país.
-
Saiba mais sobre o trabalho da COE coordenado pelo Mapa acessando aqui.
-
Conheça a legislação que estabelece as ações emergenciais conjuntas: Portaria SDA/MAPA Nº 1.253, 14/03/2025 - Instala o Centro de Operações de Emergência Agropecuária -COE/Mapa
-
Mais informações sobre a vassoura-de-bruxa disponível aqui.
Maria Clara Guaraldo/Embrapa
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte