Igualdade racial

Lavagem do Cais do Valongo celebra memória e resistência negra

Cerimônia promovida neste sábado (26) reuniu autoridades e movimentos sociais no território histórico da Pequena África

Agência Gov | Via Palmares
28/07/2025 17:58
Lavagem do Cais do Valongo celebra memória e resistência negra

Neste sábado (26/7), as pedras do Cais do Valongo, sítio arqueológico localizado na região conhecida como Pequena África, no Centro do Rio de Janeiro, foram lavadas com flores, água de cheiro e cânticos tradicionais afro-brasileiros. A 14ª edição da Lavagem do Cais do Valongo, realizada com apoio da Fundação Cultural Palmares e conduzida pela Iyalorixá Edelzuita de Oxaguian, celebrou a ancestralidade africana e destacou a resistência histórica do povo negro no Brasil.

A cerimônia teve início com uma concentração espiritual conduzida pelo bloco Filhos de Gandhi, seguido pelos blocos Ziriguidum, MariAmas e Filhas de Gandhi. O cortejo partiu do edifício Docas André Rebouças em direção ao Cais do Valongo, reconhecido em 2017 como Patrimônio Mundial Cultural pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Lavagem do Cais do Valongo
Lavagem do Cais do Valongo

O local é considerado o maior vestígio material da chegada de africanos escravizados nas Américas, estimando-se que mais de um milhão de homens e mulheres tenham desembarcado ali ao longo de três séculos. Descobertos durante escavações arqueológicas em 2011, restos mortais de africanos escravizados deram início à cerimônia que simboliza purificação e homenagem aos ancestrais.

Além do ritual religioso, a edição deste ano incluiu um debate sobre políticas públicas antirracistas, com a participação de autoridades, lideranças religiosas e representantes de movimentos sociais. Durante o evento, foi anunciado um investimento de R$ 86,2 milhões provenientes do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD) para a requalificação do edifício Docas André Rebouças, espaço que simboliza identidade e pertencimento histórico para a região. O prédio abriga atualmente a representação regional da Fundação Cultural Palmares no Rio de Janeiro, fortalecendo a presença institucional no território da Pequena África.

Fernanda Thomaz, diretora do Departamento de Proteção ao Patrimônio Afro-Brasileiro da Fundação Cultural Palmares, destacou a relevância cultural do território: "O Valongo e a Pequena África são lugares de multiplicidade das culturas negras. Este evento é uma reafirmação constante dessa identidade."

Lavagem do Cais do Valongo
Lavagem do Cais do Valongo

A edição deste ano da Lavagem representa uma verdadeira revolução na Pequena África, trazendo renovação e um novo capítulo para o território histórico.

Para o secretário-executivo do Ministério da Cultura, Márcio Tavares, o Cais do Valongo ocupa posição central na reparação histórica brasileira: "Se o Brasil pretende ser uma democracia justa, é essencial preservar a cultura negra, valorizando a memória do povo negro como tarefa coletiva e federativa."

Ao longo do dia, o público participou de visitas guiadas, assistiu apresentações musicais e conferiu o Sarau da Pequena África, que reuniu poesia, música e artes de matriz africana, celebrando a riqueza cultural negra no país.

 

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