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Lula: 'Tudo no Brasil se resolve com diálogo, e não ‘na pressão’. O Brasil tem que ser respeitado'

Presidente ressalta que o país não abre mão da soberania e que avalia criar um comitê com empresários para repensar a política comercial do país

Agência Gov | Via Planalto
10/07/2025 23:17
Lula: 'Tudo no Brasil se resolve com diálogo, e não ‘na pressão’. O Brasil tem que ser respeitado'
Ricardo Stuckert / PR
Lula: 'O Brasil deve ser respeitado e essa é a hora de a gente mostrar isso. A relação entre dois Estados deve ser respeitosa'

O presidente Lula reforçou nesta quinta-feira (10/7), em entrevistas ao Jornal da Record e ao Jornal Nacional, da TV Globo, que o Brasil deve ser respeitado e que há coisas que um governo não pode admitir, como a ingerência de um país na soberania de outro. A defesa, em conversas com as jornalistas Cristina Lemos e Delis Ortiz, se conecta ao anúncio da aplicação de taxas de importação de 50% sobre os produtos brasileiros, nos Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, feito pelo presidente Donald Trump, por meio de carta enviada a Lula na quarta-feira, dia 9.

Vamos tentar fazer todo o processo de negociação. O Brasil gosta de negociar, não gosta de contencioso. E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a reciprocidade”, afirmou o presidente

Lula garantiu que pretende negociar com o governo norte-americano um acordo que evite essa medida. “Tudo no Brasil se resolve com diálogo e não ‘na base da pressão’, afinal o Brasil não tem contencioso com ninguém. O Brasil deve ser respeitado e essa é a hora de a gente mostrar isso. Exigimos isso. A relação entre dois Estados deve ser respeitosa”.

Negociação

Para isso, a estratégia do governo brasileiro será atuar nas áreas diplomática, política e econômica. Lula afirmou que pretende criar uma comissão de negociação com a participação de empresários e do Governo Federal. Uma das funções seria repensar a política comercial brasileira com os Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), já vêm conversando com os Estados Unidos desde a taxação de 10% aplicada anteriormente, no início do atual Governo Trump.

Setores

“Primeiro, eu pretendo reunir todos os empresários que têm exportação para os Estados Unidos. Sobretudo aqueles que têm maior volume de exportação: suco de laranja, aço, a Embraer [Empresa Brasileira de Aeronáutica], que exporta muito para os Estados Unidos. Para ver qual é a situação deles. Vamos tentar fazer todo o processo de negociação. O Brasil gosta de negociar, não gosta de contencioso. E depois que se esgotarem as negociações, o Brasil vai aplicar a reciprocidade”, disse.

Vamos, enfim, ver quais as decisões que deverão ser tomadas, quem será afetado, como a gente pode articular novos mercados. Eu mesmo vou procurar novos mercados para os produtos brasileiros. Esse é o meu papel”, explicou Lula

OMC

O presidente garantiu que o Brasil vai recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). “A gente pode cobrar coerência dos Estados Unidos em relação à aplicação de taxas sobre os produtos de outros países. Podemos, com a OMC, encontrar países que foram taxados pelos Estados Unidos e, juntos, entrar com recursos. Há toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, vamos acionar a Lei da Reciprocidade. E vamos ter que procurar outros parceiros para comprar nossos produtos. O comércio entre o Brasil e os Estados Unidos representa apenas 1,7% do nosso PIB. Não é essa coisa que a gente não pode sobreviver sem os Estados Unidos. Não é assim”, disse.

Reciprocidade

De acordo com Lula, a Lei da Reciprocidade, aprovada no Congresso Nacional, é uma opção se as negociações não avançarem. “Primeiro, vamos tentar negociar. Se não tiver negociação, a Lei da Reciprocidade será colocada em prática. Se ele vai cobrar 50% de nossos produtos, vamos cobrar 50% dos produtos norte-americanos. “E aí, espero que os empresários estejam aliados ao governo brasileiro”, afirmou.

Virtuosa

Lula afirmou, ainda, que se Donald Trump conhecesse um pouquinho do Brasil ele teria mais respeito pelo país, afinal são 201 anos de relação com os Estados Unidos. “Uma relação diplomática, virtuosa e de benefício para ambos os lados. Eu me dei bem com todos os presidentes norte-americanos, eu me dei bem com (Bill) Clinton, eu me dei bem com (George) Bush, eu me dei bem com (Barack) Obama, eu me dei bem com (Joe) Biden”, ressaltou.

Desconhecimento

O presidente criticou, ainda, o que chamou de desconhecimento de Trump em relação à balança comercial entre os dois países.

Ele acha que os Estados Unidos têm déficit com o Brasil? Não é verdade. Se você pegar o ano passado, exportamos 40 bilhões de dólares e importamos 47 bilhões de dólares, foi um déficit para nós de 7 bilhões de dólares. Se pegarmos os últimos 15 anos, em importação e serviços, temos um déficit de 410 bilhões de dólares com os Estados Unidos. Será que a assessoria dele não tem sabedoria para explicar e evitar que ele faça uma afronta dessas?”, indagou

Ásia

Ao mesmo tempo, Lula explicou que o país, enquanto isso, procura novos parceiros comerciais. Em outubro, o presidente deve participar do Encontro da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que reunirá dez países do continente. A participação tem o objetivo de fazer parcerias estratégicas e negócios. “Se os Estados Unidos não querem comprar nossos produtos, vamos procurar países que queiram comprar”, falou.

Brics

O presidente salientou ainda que o Brasil quer ter relação com todos os países e esteve em fóruns e encontros de blocos que representam todos os continentes. Lula negou que as tarifas possam ser uma retaliação às políticas do Brics. “É engraçado, porque como ele não estava no G7, três países dos Brics foram para o G7: Brasil, Índia e África do Sul. E ainda estavam México e Coreia do Sul. Só para ter uma ideia, o Brics têm dez países que participam do G20. Qualquer dia, vou mandar a chave ao Trump para ele participar dos Brics. Se quiser vir, vamos convidar. O que não pode é ele pensar que foi eleito para ser xerife do mundo. Ele foi eleito para ser presidente dos Estados Unidos”, ressaltou Lula. “Ele pode fazer o que quiser dentro dos Estados Unidos. Aqui no Brasil, quem manda somos nós, brasileiros.”

Moeda - Lula ressaltou que a carta enviada e divulgada por Donald Trump não é mais dura do que algumas coisas que o presidente dos Estados Unidos já havia falado. “Ele chegou a dizer outro dia que se a gente criar uma moeda, ele vai punir os países. Nós temos interesse em criar uma moeda para negociação entre os países. Eu não sou obrigado a comprar dólar para fazer relação comercial com Venezuela, Bolívia, Chile, Suécia, União Europeia, China. A gente pode fazer as negociações nas nossas moedas. Ele tem que saber disso. Ele não pode falar como se fosse dono dos outros. Você não vê o Brasil desacatando e ofendendo nenhum país.”

Justiça - De acordo com o presidente brasileiro, a carta enviada por Trump fere a soberania nacional ao desrespeitar e querer interferir em processos internos da Justiça brasileira. “Aqui o Poder Judiciário é autônomo, sobretudo a Suprema Corte. E quando ele fala das empresas dele, das plataformas na internet, é importante que ele entenda que no Brasil quem estabelece as regras é o Brasil. É o Congresso Nacional, é o Judiciário. Ele não pode dizer que o Brasil não pode fazer nada com as empresas que não respeitam a legislação brasileira. Aqui, respeita!”, salientou.

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