Museu da Inconfidência e Polícia Federal analisam escritos atribuídos a Tiradentes
Museu solicitou que a Polícia Federal analise, com técnicas de última geração, notas presentes em livro da época, que são atribuídas a Tiradentes

O Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), por meio do Museu da Inconfidência (MG), realizou no dia 11 de julho, a entrega oficial do livro Recueil des Loix Constitutives des États-Unis de l’Amérique — conhecido como Livro do Tiradentes — ao Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal, em Brasília. A obra passará por exames grafológicos no Serviço de Perícias Documentoscópicas (SEP-DOC), com o objetivo de verificar se as anotações presentes em seu interior são, de fato, de autoria de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes.
A ação é resultado de uma parceria entre o Ibram e a Polícia Federal, que busca aprofundar a pesquisa histórica sobre um dos documentos mais emblemáticos do acervo museológico brasileiro.
“Estamos indo agora ao Instituto Nacional de Criminalística, para que sejam feitos os exames grafológicos num livrinho muito curioso, que faz parte do acervo do Museu da Inconfidência. É uma coletânea das leis constitutivas dos Estados Unidos da América, que influenciaram diretamente a Inconfidência Mineira. Há indícios nos Autos da Devassa de que Tiradentes fazia anotações neste exemplar”, explicou o diretor do museu, Alex Calheiros , durante o ato da entrega.
A presidenta do Ibram, Fernanda Castro , destacou a importância do exame:
“Esse procedimento vai além da confirmação de autoria. Ele reforça o compromisso do Ibram com a preservação e aprofundamento da memória histórica do Brasil. Confirmar a caligrafia de Tiradentes neste livro é como escutar sua voz mais uma vez – por meio das margens de uma obra que influenciou uma das mais importantes revoltas contra o domínio colonial.”
Uma peça histórica transatlântica
Parte do acervo da biblioteca do Museu da Inconfidência, na seção de obras raras, o Recueil é uma coletânea das constituições dos Estados Unidos da América, publicada entre 1776 e 1789. Considerado “livro proibido” à época, foi identificado como influência direta para os conjurados mineiros e citado diversas vezes nos Autos da Devassa , o processo que incriminou os inconfidentes.
O historiador Kenneth Maxwell descreve o livro como peça central na história da Conjuração Mineira. O exemplar entregue à PF esteve com Tiradentes no momento de sua prisão e contém anotações manuscritas que, segundo relatos, teriam sido feitas por ele próprio — que recorria a amigos para traduzir trechos do francês e marcava passagens que mais o interessavam.
Após ser anexado aos Autos da Devassa , o livro teve um longo percurso até retornar a Minas Gerais. Esteve durante décadas na Biblioteca Pública de Florianópolis, de onde foi recuperado e reintegrado ao acervo do Museu da Inconfidência na década de 1980.
O diretor Alex Calheiros reforça o valor simbólico e documental da análise pericial:
“Se confirmada a autoria das anotações, o valor histórico, patrimonial e afetivo do bem se eleva enormemente, oferecendo novas camadas de entendimento sobre a atuação de Tiradentes e o pensamento iluminista que influenciou a Inconfidência.”
O exemplar já foi cuidadosamente protocolado pela Polícia Federal, que dará início aos exames técnicos. Os resultados da perícia serão comunicados ao Ibram e ao Museu da Inconfidência e devem integrar futuras ações de preservação, exposição e pesquisa do livro.
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