"Não há solução individual para os desafios do mundo contemporâneo", diz Haddad em reunião do Brics
Ministro da Fazenda defende multilateralismo e apresenta eixos da presidência brasileira no BRICS. Encontro marca etapa final antes da Cúpula

"Não há solução individual para os desafios do mundo contemporâneo. Nenhum país, isoladamente, por mais poderoso que seja, pode dar uma resposta efetiva ao aquecimento global ou atender às legítimas aspirações da maior parte da humanidade por uma vida digna", declarou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na abertura da Reunião dos Ministros de Finanças e Presidentes dos Bancos Centrais do Brics, neste sábado 5/7, no Rio de Janeiro. O encontro marca a última etapa preparatória antes da Cúpula do Brics, que terá início neste domingo (6).
Durante a reunião, que abordou a promoção do multilateralismo, as perspectivas da economia global e o papel do BRICS, Haddad destacou que é necessário promover um "multilateralismo do século XXI", que se traduz em uma "reglobalização sustentável". Trata-se de uma reglobalização sustentável baseada no desenvolvimento social, econômico e ambiental da humanidade como um todo.
"Esse é exatamente o lugar dos Bics. O Brics é a cara do futuro", afirmou Haddad. Para construir esse futuro, o ministro explicou que a presidência brasileira do grupo estruturou suas propostas em três frentes interligadas: econômica, climática e social.
Na frente econômica, o foco está em facilitar o comércio e o investimento entre os países do BRICS, além de reforçar a coordenação sobre as reformas do sistema monetário e financeiro internacional. Haddad ressaltou o avanço do diálogo intra-BRICS em temas como parcerias público-privadas, tributação e aduanas, com atenção especial à tributação de indivíduos de altíssima renda.
Na frente climática, o ministro citou a busca por instrumentos inovadores para acelerar a transformação ecológica nos países do BRICS, com destaque para as discussões sobre o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, sigla em inglês), mecanismo voltado para a preservação das florestas tropicais.
Já na frente social, os países do Brics buscam formas de mobilizar recursos públicos e privados para garantir segurança alimentar, proteção social e ampliação de oportunidades econômicas.
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Três entregas da presidência brasileira
Haddad também elencou três entregas marcantes da presidência brasileira no Brics 2025. A primeira delas foi a participação dos novos países-membros, fortalecendo o agrupamento. "Estamos falando de alguns dos atores diplomáticos mais influentes do nosso tempo, de economias entre as mais dinâmicas do mundo e de potências demográficas e climáticas centrais para o desenvolvimento sustentável global", reforçou o ministro.
A segunda entrega foi o avanço nas negociações de declarações conjuntas, consolidando o compromisso do BRICS com o multilateralismo. Entre os destaques, o ministro mencionou o apoio do grupo à criação de uma convenção-quadro das Nações Unidas sobre Cooperação Internacional em Matéria Tributária, considerada um passo importante para um sistema tributário global mais justo, inclusivo e eficaz. Além disso, foi negociado um documento inédito, a Visão do Rio de Janeiro para o FMI, que propõe tornar o Fundo Monetário Internacional mais representativo das transformações da economia mundial e mais transparente na governança.
A terceira entrega apontada por Haddad foi a consolidação do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) como uma instituição de referência dentro do Brics, com capacidade para formular, coordenar e implementar investimentos estratégicos e políticas públicas inovadoras nos países-membros.
"Os documentos que apresentamos hoje mostram que a reglobalização sustentável é um objetivo compartilhado pela maioria da humanidade", enfatizou o ministro.
Haddad encerrou seu discurso reafirmando o compromisso do Brasil com a estabilidade e a previsibilidade em um cenário global de incertezas. Segundo ele, as instituições dos países-membros têm demonstrado resiliência diante dos desafios atuais, postura essencial para o fortalecimento do Brics e para a construção de um novo modelo de governança global.
Além da fala do ministro Fernando Haddad, o presidente do Banco Central do Brasil, Gabriel Galípolo, também frisou o compromisso do Brics com a construção de economias mais estáveis, resilientes e preparadas para os desafios do futuro.
"A parceria do Brics continua evoluindo, enfrentando novos desafios e aproveitando oportunidades com uma visão clara e pragmática", disse Galípolo. De acordo com ele, o encontro reflete o compromisso contínuo dos países de aprofundar a cooperação em áreas essenciais para a estabilidade e a resiliência das economias do grupo.
O presidente do Banco Central adiantou que, ao longo da reunião, seriam discutidos temas fundamentais como a evolução do Acordo de Reserva Contingente (CRA), os sistemas de pagamento, a segurança cibernética e as finanças sustentáveis. “São temas oportunos e essenciais para garantir que nossos sistemas financeiros sejam fortes, inclusivos e preparados para o futuro”, finalizou.
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