Agricultura

O Brics é um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo, diz Lula

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (7) após o encerramento da Cúpula dos Chefes de Estado do bloco, presidente ressaltou principais pontos do encontro no Rio de Janeiro e disse ser necessária uma mudança estrutural na geopolítica internacional

Agência Gov | Via Planalto
07/07/2025 17:15
O Brics é um novo jeito de fazer o multilateralismo sobreviver no mundo, diz Lula
Ricardo Stuckert/PR

“O Brics é um novo jeito de a gente fazer o multilateralismo sobreviver no mundo. A gente não quer mais um mundo tutelado. A gente quer fortalecer o processo democrático, o processo multilateral. A gente quer a paz, o desenvolvimento e a participação social. Se a gente quiser criar alguma coisa nova no mundo, a gente vai ter que criar novos paradigmas de participação e não pode repetir os mesmos erros”.

Com essas afirmações, durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 7 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resumiu sua visão do que o Brics representa para o cenário geopolítico internacional. A Cúpula dos Chefes de Estado do bloco, encerrada hoje no Rio de Janeiro (RJ), foi a primeira a reunir 11 membros titulares e 10 países parceiros.

O encontro também contou com a participação de oito países convidados e de diversos representantes de organizações internacionais, incluindo o secretário-geral da ONU, António Guterres; a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio, Ngozi Okonjo-Iweala; o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus; e a presidenta do Novo Banco de Desenvolvimento, a ex-presidenta Dilma Rousseff.


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REESTRUTURAÇÃO INTERNACIONAL – Para Lula, o bloco – do qual fazem parte, como países-membros, o Brasil, a Rússia, a Índia, a China, a África do Sul, a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, a Indonésia e o Irã – se fortalece a cada ano como uma alternativa para uma reestruturação internacional, capaz de lidar com os crescentes desafios deste século.

“A gente não quer mais guerra fria, a gente não quer mais desrespeito à soberania, a gente não quer mais guerra. É por isso que a gente está discutindo com muita profundidade a necessidade de mudança estrutural. Inclusive no Estatuto da ONU, para que a gente possa recriar alguma coisa com base nos acontecimentos geopolíticos de 2025 e não de 1945. Aquele mundo ficou para trás”, frisou o presidente.

MULTILATERALISMO, GUERRAS E ONU – Lula voltou a defender o multilateralismo como a forma mais eficaz para um debate internacional aprofundado e para a busca de consensos. Desde a Segunda Guerra Mundial, observou o presidente, o atual modelo de governança global tem 80 anos de experiências a serem avaliadas, e é preciso discutir o que deu certo e o deu errado.

“O multilateralismo foi uma coisa que deu certo. Querem destruir. Precisamos ter consciência de que o mundo precisa mudar. Nós estamos vivendo hoje, possivelmente, depois da Segunda Guerra Mundial, o maior período de conflito entre os países. É guerra esparramada para tudo quanto é lado. A guerra Rússia e Ucrânia, quem é que negocia? Não tem uma instituição capaz de sentar na mesa, se os dois que estão em guerra, fazer uma avaliação e fazer uma proposta”, cobrou Lula.

“Cadê a instituição multilateral para colocar um fim nisso? Não existe. A ONU deveria estar coordenando, mas a ONU não pode coordenar porque ela está envolvida nisso. Quando eu digo a ONU, é porque a ONU tem três (países) no seu Conselho de Segurança que estão envolvidos nisso. Com raríssima exceção a China, que não está. Mas o restante está envolvido, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos. É por isso que nós estamos reivindicando uma mudança na governança mundial. Que participe país africano, país do Oriente Médio, que participe país da América Latina, que participem outros”, cobrou o presidente.

FMI – Outro ponto em que o Brics pode inovar, segundo Lula, é na apresentação de um novo modelo para o sistema financeiro, que contribua para que as nações em desenvolvimento, principalmente aquelas do Sul Global, possam crescer e elevar seus patamares de qualidade de vida.

“A gente não quer mudança no FMI porque eu não gosto do FMI. A gente quer mudança do FMI para o FMI ser um banco de investimento para atender a necessidade dos países mais pobres. Não é para emprestar dinheiro e levar os países à falência, como tem acontecido. Porque o modelo de austeridade que tem sido feito com outros países é fazer com que a dívida seja impagável cada vez mais”, disse.

SISTEMA FINANCEIRO – Criado em 1944, o Fundo Monetário Internacional (FMI) nasceu durante a Conferência de Bretton Woods e iniciou sua atuação em 1945, quando 29 países, entre os quais o Brasil, subscreveram o convênio constitutivo do organismo internacional. O FMI conta atualmente com 189 países-membros.

“O Banco do Brics (Novo Banco de Desenvolvimento, NDB, na sigla em inglês) serve de modelo para que a gente possa criar um novo tipo de financiamento, em que a gente possa garantir, inclusive, que em alguns países a dívida possa ser utilizada como forma de investimento em infraestrutura, no setor da saúde, no setor energético, no setor de infraestrutura. Alguma coisa tem que mudar. O que a gente não pode é continuar com a mesmice de sempre”, afirmou Lula.

07.07.2025 - Declaração à imprensa

MOEDA LOCAL – Indagado sobre as discussões para que as negociações entre os países do Brics possam ser feitas em moeda local, substituindo o dólar, Lula disse que se trata de um caminho natural, que não pode ser freado. “É uma coisa que não tem volta. Isso vai acontecendo aos poucos e vai acontecendo até que seja consolidado. Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão. Em que fórum foi determinado?”, questionou.

Lula inclusive lembrou o exemplo de Brasil e Argentina. “Em 2004, nós aprovamos um comércio entre Brasil e Argentina que poderia ser feito nas moedas locais. Eu acho que o mundo precisa encontrar um jeito de que a nossa relação comercial não precise passar pelo dólar. Quando for com os Estados Unidos, ela passa pelo dólar. Mas quando for com a Argentina, não precisa passar. Quando for com a China, não precisa passar. Quando for com a Índia, não precisa passar. Quando for com a Europa, discute-se em euro. Obviamente que nós temos toda a responsabilidade de fazer isso com muito cuidado. Os nossos bancos centrais precisam discutir isso com os bancos centrais dos outros países”, ressaltou.

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – Em um mundo cada vez mais marcado pelo uso de inteligência artificial, Lula defendeu ainda que a IA não fique limitada a apenas alguns países e algumas empresas. Para ele, trata-se de uma tecnologia que precisa ser democratizada. “É preciso que a gente, no Brics, crie um sistema de discussão em que todos possam ter acesso à inteligência artificial. Ela não pode ser uma coisa de dominação, de meia dúzia de empresas que vão controlar os bancos de dados no mundo. Eu acho que, por conta disso, o Brics está incomodando”, declarou.

DEBATES FRUTÍFEROS – Para Mauro Vieira, ministro das Relações Exteriores, a Cúpula do Brics no Rio de Janeiro conseguiu avançar em questões muito atuais para a humanidade. “Realizamos debates frutíferos ao longo das três sessões. Tratamos da reforma da governança global, do fortalecimento do multilateralismo e da inteligência artificial, do meio ambiente e da saúde”, pontuou.

“Foi adotada uma Declaração de Líderes forte e que cristaliza nosso entendimento comum sobre a reforma da governança global como um dos mais urgentes desafios na luta contra o unilateralismo. Houve um apoio claro da China e da Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança, ao maior protagonismo do Brasil e da Índia naquele órgão, o que é um avanço importante de todas as reuniões anteriores. Não nos omitimos sobre os temas mais prementes da política internacional”, concluiu o ministro.

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