Trabalho e emprego

Governo atua para financiar e qualificar trabalhadores da economia solidária, afirma Gilberto Carvalho

Em entrevista à Voz do Brasil, secretário nacional de Economia Popular e Solidária fala sobre a conferência nacional do setor, que ocorre a partir desta quarta-feira (13)

Eduardo Biagini | Agência Gov
12/08/2025 09:29
Governo atua para financiar e qualificar trabalhadores da economia solidária, afirma Gilberto Carvalho
Valter Campanato/Agência Brasil
Gilberto Carvalho: 'Estamos trabalhando muito nessa perspectiva de fazer com que essa gente que está na economia solidária tenha ciência, tecnologia, conhecimento, desde o mercado até toda a questão das linhas de produção'

Fazer com que os trabalhadores da economia solidária tenham acesso às compras públicas, financiamento e qualificação para crescerem. São com estes objetivos que o Governo Federal atua para atender as demandas do setor, que produz R$ 2 bilhões ao ano. Foi o que afirmou o secretário nacional de Economia Popular e Solidária, Gilberto Carvalho, durante entrevista À Voz do Brasil de segunda-feira (11/8).

“Nós estamos trabalhando muito nessa perspectiva de fazer com que essa gente que está na economia solidária tenha ciência, tecnologia, conhecimento, desde o mercado até toda a questão das linhas de produção. Não é trivial gerir uma empresa de economia solidária. Você tem que saber de gestão”.

A outra reivindicação é o fomento público. Assim como qualquer empresa que se instala no município, ela tem ali o terreno de graça, isenção de IPTU e acesso aos bancos. Também nós, na economia solidária, queremos cada vez mais ter acesso às compras públicas e ao financiamento público, para que as empresas, de fato, cresçam”, explicou o secretário

As demandas do setor vão ser discutidas durante a 4ª Conferência Nacional de Economia Popular e Solidária (Conaes) será realizada entre os dias 13 e 16 de agosto, em Luziânia (GO). O evento, que vai ocorrer após dez anos, oferecerá subsídios para a elaboração do 2º Plano Nacional de Economia Solidária.

Com o tema Economia Popular e Solidária como Política Pública: Construindo territórios democráticos por meio do trabalho associativo e da cooperação, a expectativa é que 1.500 delegados e delegadas, como representantes de governos (federal, estadual e municipal), sociedade civil, entidades e empreendimentos de economia popular e solidária façam parte do evento.

Alternativa econômica, fundamentada na cooperação e na autogestão, a economia solidária é um setor que gera emprego e renda. Gilberto Carvalho também afirmou que ela auxilia na formalização de trabalhadores.

“Ela é mais do que apenas uma economia, ela também é uma visão de mundo. Ela procura mostrar que é possível produzir sem agredir o meio ambiente e sem explorar o outro. E propõe um novo padrão de consumo, que seja um consumo adequado aos parâmetros da nossa Terra”.

Desde os anos 90, quando começou uma onda de desemprego, a economia solidária tem sido uma forma em que os trabalhadores deixam o seu isolamento informal e se agrupam em associações e cooperativas, e assim, acessem a formalidade de um outro modo, através das cooperativas, mas recolhendo a Previdência, tendo o seu direito a férias, décimo terceiro”, disse o secretário


Assista à entrevista

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Leia a íntegra

Que setores fazem parte da economia solidária e qual a participação desse setor na economia do país?

Nós temos uma tradição no Brasil das cooperativas que tiveram grande desenvolvimento no campo. Assim como as grandes cooperativas, vamos chamar assim, empresariais, o segmento da economia solidária são as cooperativas solidárias. São cooperativas onde há, de fato, a posse dos meios de produção, do maquinário, do equipamento pelos trabalhadores e uma autogestão. Ou seja, uma gestão democrática e participativa e uma partilha igualitária dos ganhos.

Então, essa atividade se dá em várias áreas. Como já disse, o campo é o grande destaque. Então, na agricultura familiar é onde nós temos a mais ampla ocorrência de economia solidária. Até porque o governo do presidente Lula, ao criar o PAA, o Programa de Alimentação de Alimentos, e o Pnae, o Programa Nacional de Alimentação Escolar, fez um estímulo imenso às cooperativas. Porque ele compra os produtos da economia solidária.

Então, as cooperativas têm certeza de que elas produzindo, elas vão vender e oferecem alimento de qualidade muito ligada à agricultura orgânica e agroecológica para as escolas, hospitais e assim por diante. Mas também nós temos uma área importante, que é toda a área do artesanato. É muito artesanato feito em formas de cooperativa da economia solidária.

E um destaque importante, 75% de quem faz economia solidária são mulheres. Então, é uma economia feminina. E ela é mais do que apenas uma economia, ela também é uma visão de mundo. Ela procura mostrar que é possível produzir sem agredir o meio ambiente e sem explorar o outro. É possível comercializar sem também fazer exploração. E propõe um novo padrão de consumo, que seja um consumo adequado aos parâmetros da nossa Terra.

Como diz o Leonardo Boff, com o atual padrão de consumo nós precisaríamos ter dois globos terrestres. Só temos um, evidentemente. Então, ela se espalha em várias áreas. Inclusive, mais recentemente, também na economia digital. Os trabalhadores de plataforma também estão se organizando de cooperativas. Sejam os entregadores, sejam os motoristas de aplicativo. Enfim, em qualquer área econômica desse país. E o impacto que nós registramos no último ano é em torno de R$ 2 bilhões. Segundo a última PNAD, demonstra que em torno de R$ 2 bilhões de reais foram produzidos a partir da economia solidária.

Nas reuniões que precederam essa conferência nacional, foi possível estabelecer aí desafios. O que foi discutido foi justamente as principais demandas, que são diferentes nas regiões do país?

Nós temos uma carência enorme e uma reivindicação grande dos trabalhadores ligados à economia solidária por dois aspectos. Um deles é qualificação. Eles reclamam, e nós estamos trabalhando muito nessa perspectiva, de fazer com que essa gente que está na economia solidária tenha ciência, tenha tecnologia, tenha conhecimento, desde o mercado até toda a questão das linhas de produção. Então, é preciso, se você entregar para um grupo de catadores, uma prensa, um caminhão, uma empilhadeira, uma esteira, mas não der formação, eles não vão conseguir gerir. Não é trivial gerir uma empresa de economia solidária. Você tem que saber de gestão. Então, esse é um lado, além da própria autoconsciência de que eu estou ali plantando novos valores. Esse é um lado.

E o outro lado, que todas as 27 conferências que nós fizemos em todos os estados, graças a Deus conseguimos fazer nos 27 estados. Ainda fizemos mais 14 conferências temáticas, mulheres, meio ambiente, juventude e assim por diante. A outra reivindicação é o fomento público.

Ou seja, a economia solidária reclama que, assim como qualquer empresa que se instala no município, ela tem ali o terreno de graça, isenção de IPTU e acesso aos bancos. Também nós, na economia solidária, queremos cada vez mais ter acesso às compras públicas e ao financiamento público, para que as empresas, de fato, cresçam. Elas tenham, de fato, se consolidem. E nós temos muitos casos, se eu tivesse tempo, que eu podia contar, muitos casos muito bem-sucedidos de empresas que eram empresas normais, faliram, os trabalhadores ocuparam.

O caso da Uniforge, que é uma grande metalúrgica, além de Adema, por exemplo, os trabalhadores ocuparam e estão tocando a empresa. Então, é preciso esses dois aspectos, formação e a questão do financiamento.

Secretário, qual é a expectativa, então, para a próxima quarta-feira, quando começa a conferência? Quantas pessoas são esperadas?

Nós elegemos 968 delegados em todo o país, nessas conferências que eu mencionei, e vamos ter mais de 1 mil pessoas entre convidados. E a abertura será às 16 horas, no Palácio do Planalto, com a presença do presidente Lula, que certamente vai se comprometer em apoiar cada vez mais. Ele já apoia, mas vai apoiar cada vez mais isso que é uma economia que eu chamaria da esperança, criada lá pelo Paul Singer, uma economia que gera vida e não exclusão.

A gente tem também uma questão com a informalidade, a economia solidária como forma de reduzir a informalidade.

Desde os anos 90, quando começou uma onda de desemprego, a economia solidária tem sido uma forma em que os trabalhadores deixam o seu isolamento informal e se agrupam em associações e cooperativas, e assim, acessem a formalidade de um outro modo, através das cooperativas, mas recolhendo a Previdência, tendo o seu direito a férias, décimo terceiro. Então, a economia solidária é um caminho alternativo para a formalização do trabalho, isso é muito importante.


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