Economia

Haddad diz que Brasil quer e tem potencial para aumentar comércio com EUA

Ministro da Fazenda afirma que Governo Federal pode construir parceria em setores como terras raras, mas que política interna, democracia e soberania são inegociáveis. Haddad diz acreditar em reversão do tarifaço

Agência Gov
04/08/2025 18:31
Haddad diz que Brasil quer e tem potencial para aumentar comércio com EUA
Diogo Zacarias/MF

O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, afirmou que o Governo Federal está disposto a propor parcerias aos Estados Unidos em novos projetos que envolvam nichos ainda não explorados pelo comércio bilateral, como as terras raras, por exemplo. 

O objetivo dessas novas parcerias, segundo o ministro, seria não apenas manter o comércio em níveis pré-tarifaço, mas expandi-lo. Segundo o ministro, faz dois anos que o Governo vem debatendo com autoridades dos Estados Unidos a necessidade de ampliação da pauta comercial entre os países.

”Somos um país mais independente porque somos mais diversos do ponto de vista da nossa pauta de exportação. Mas, em se tratando da maior economia do mundo, o Brasil pode participar mais do comércio bilateral e, sobretudo, de investimentos estratégicos", explicou Haddad.

Nós temos minerais críticos e terras raras. Os Estados Unidos não são ricos nesses minerais. Nós podemos fazer acordos de cooperação para produzir baterias mais eficientes na área tecnológica”, disse o ministro da Fazenda.

Fernando Haddad fez a declaração ao responder se o Governo Lula, no curso das negociações com o governo Trump, pode oferecer a ampliação de produtos que interessem aos Estados Unidos. Ele reafirmou a proposta de ampliar a parceria com os Estados Unidos.

"A gama de setores em que interessa ao Brasil uma parceria com os Estados Unidos é enorme", disse, em entrevista à Band News na tarde desta segunda (4/8), o. Ao afirmar que o atual governo brasileiro tem buscado ampliar o comércio com aquele país desde o início do mandato, Haddad destacou que foram "eles que se retraíram". Segundo o ministro, "estamos há mais de dois anos discutindo que eles voltem a investir" e que a retração estadunidense se deu em toda a América do Sul, abrindo espaço para a maior aproximação de outros países e blocos, como China e União Europeia.


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Sem ingerência na política interna

Haddad disse, como em outras entrevistas, que o Brasil tem interesse em manter parcerias com todos os blocos e países possíveis. Isso inclui os Estados Unidos. "Mas não na condição de satélite, de colônia", acrescentou o ministro. Segundo Haddad, deve ser retirada dos termos propostos pelo governo estadunidense a ingerência política em assuntos internos do Brasil. "Nossa democracia não está em discussão", afirmou. "O Brasil, neste termos, não vai fazer acordo", insistiu.

Impacto do tarifaço e ajuda aos setores

O ministro disse acreditar que o tarifaço de Trump será revertido pelo Brasil. "A negociação sequer começou. Isso [o tarifaço] é uma coisa que, na minha opinião, vai mudar, com diálogo".

Porém, continua Haddad, caso as sanções propostas por Trump permaneçam, o impacto não será grande o bastante para atrapalhar o estágio atual da economia brasileira. Segundo o ministro, apenas um terço das exportações brasileiras para os Estados Unidos, o equivalente a 4% de todas as exportações do Brasil, vai ser afetado pela tarifa de 50%. E, deste um terço, "mais da metade vai encontrar destino alternativo, porque são commodities com preços regulados pelo mercado global, e não pelos Estados Unidos", argumentou o ministro. "Não vai ter dificuldade de redirecionar", garantiu.

A parte mais sensível são, ainda segundo o ministro, os produtos industriais "feitos sob medida para os Estados Unidos", que não podem ser redirecionados facilmente. "Essa é nossa maior preocupação", disse ele. Haddad adiantou que esses setores terão especial ajuda do governo. Por outro lado, disse ele, "há empresas que têm poder suficiente para redirecionar as exportações por suas próprias forças".

Haddad disse que o plano de apoio aos setores prejudicados contém uma série de propostas preparadas para as diferentes realidades e impactos, e que ajuda financeira não irá afetar o resultado primário das contas do Governo. O ministro não detalhou, no entanto, as fontes dos recursos, falando apenas em recursos não-orçamentários.

Brics e outros fantasmas

Questionado se a participação do Brasil no Brics seria a real motivação de Trump, Haddad disse discordar. O ministro disse que, se assim fosse, outros países - fora a China - que pertencem ao bloco também teriam sido ameaçados com tarifas de 50%, o que não aconteceu.

Para Haddad, a motivação maior parte de uma ação de políticos brasileiros que conspiram para prejudicar o País. "Brics não tem a ver. Não precisamos ver outro tipo de assombração", disse.

”Nós temos que procurar despolitizar o debate comercial. O comércio internacional não pode ser utilizado para interesses eleitorais de um país que quer ver o nosso país governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais, incluindo aí as terras raras, os minerais críticos. A questão da regulação das bibliotecas, a questão do Pix, por exemplo, que nós entendemos que tem que ser mantido sob a responsabilidade do nosso Banco Central."

Para o ministro, tudo isso são questões de soberania nacional, que nada tem a ver com o debate comercial. Sem citar o clã Bolsonaro, Haddad disse que a real motivação "são interesses eleitorais de um país estrangeiro que quer ver nosso País governado por forças que querem entregar as riquezas nacionais".


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