Instituições científicas da Amazônia apresentam propostas para a COP 30
Evento em Manaus reúne representantes de mais de 50 instituições de ciência e tecnologia, movimentos sociais e entidades da sociedade civil da região

O protagonismo das instituições de ciência e tecnologia da Amazônia e a interação com os saberes locais foi um dos pontos destacados no Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia com a Presidência da COP 30, evento que reúne representantes de mais de 50 instituições de ciência e tecnologia, movimentos sociais e entidades da sociedade civil da região, e acontece durante os dias 19 e 20 de agosto na Universidade Federal do Amazonas (Ufam) .
O encontro é promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável da Secretaria de Relações Institucionais (CDESS/SRI) da Presidência da República. A iniciativa está sendo coordenada por um conjunto de instituições amazônicas: Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Universidade Federal do Pará (UFPA), Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior – Andifes (Norte), Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif/Norte), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz/MS), Instituto Evandro Chagas (IEC/MS, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) e Rede de Universidades Estaduais da Amazônia Legal (Abruem).
A abertura no dia 19 contou com representantes dessas instituições, reitores de universidades federais e estaduais da região, professores, pesquisadores e dirigentes de diversas instituições de ciência e tecnologia da Amazônia.
O principal objetivo desse encontro é apresentar um documento com propostas elaboradas por instituições de ciência e tecnologia da Amazônia, para apresentar à presidência da COP 30. A entrega do documento será feita nesta quarta-feira, 20, ao presidente da COP 30 no Brasil, embaixador André Corrêa do Lago, com a presença da primeira-dama Rosângela Lula da Silva (Janja), representantes de ministérios e órgãos federais.
O secretário executivo do CDESS/SRI, Olavo Noleto, explica que foram dois meses de preparação do documento, com participação de representantes de mais de 70 instituições de ensino e pesquisa, universidades federais e órgãos do governo, que se articularam no Mutirão de Ciências e Saberes Amazônicos pelo Clima, reunindo semanalmente discutindo os seis eixos da COP e resultando “em um processo riquíssimo de contribuições da comunidade científica da Amazônia” e que culminou nesse evento de dois dias em Manaus. “Porque uma coisa é o que o mundo vai trazer para cá de mensagem, de compromisso, de efetivação de compromisso, de pacto coletivo global; outra coisa é o que a Amazônia quer dizer para o Brasil e para o mundo”, pontua Noleto.
“A comunidade científica, inclusive, deixa claro que quem tem mais propriedade, mais condições objetivas de apontar caminhos e soluções para a Amazônia é justamente a comunidade científica da Amazônia, que não adianta falar só em floresta em pé e não pensar a qualidade de vida e o desenvolvimento sustentável do povo que vive aqui, das populações que vivem aqui, das populações ribeirinhas, indígenas, da população urbana que vive aqui no meio da floresta. Então, a comunidade científica da Amazônia faz a sua parte e dá uma supercontribuição para a COP 30”, avalia o secretário executivo do CDESS/SRI.
Representando a presidência da Embrapa, a diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia, Ana Euler, foi uma das expositoras no Encontro da comunidade científica, e defendeu que a produção científica esteja conectada às políticas públicas e às demandas reais da população. Euler afirmou que a ciência deve caminhar lado a lado com os cidadãos e suas necessidades de inovação tecnológica e inovação social. A pesquisadora também destacou a importância de fortalecer redes colaborativas e conectar saberes acadêmicos com os conhecimentos ancestrais da região. “A gente tem que fortalecer as redes colaborativas, sociotécnicas e territoriais, nos conectar com os centros de saberes que estão aí, para ter capacidade de diálogo entre a ciência que está nas universidades com a ciência que está nesse campo magnífico que é a Amazônia, com mais de 12 mil anos de histórias de ancestralidade e de pessoas trabalhando aqui”, comentou.
O diretor do Inpa, Henrique Pereira, ressaltou que a Amazônia possui uma comunidade científica ativa e capaz de produzir conhecimento crítico sobre os desafios ambientais. “É essa Academia que nos oferece um conhecimento aprofundado sobre o papel da Amazônia no cenário nacional e global, informando-nos que as raízes mais profundas das crises ambientais significativas estão no modelo de desenvolvimento vigente. Enquanto enfrentamos a luta contra as contradições desse modelo, dedicamo-nos também a produzir soluções através da ciência e da tecnologia. É importante ressaltar que essas soluções, muitas vezes, apenas superficialmente abordam o problema, buscando mitigar seus sintomas.”
O diretor ressaltou ainda que o encontro deixa uma mensagem importante: “Nunca fomos um vazio de conhecimento e, menos ainda, um vazio científico. A Amazônia é rica em ciência e cientistas.” e que toda essa articulação representa o fortalecimento do ecossistema científico da região e sua contribuição para o desenvolvimento sustentável do país.
“Não há alternativa para enfrentar a mudança climática sem ciência, sem tecnologia, sem apoio para a nossa ciência, sem incentivo, sem fomento à pesquisa, comentou a reitora da Ufam, Tanara Lauschner, durante a abertura. O diretor de relações internacionais da Capes, Rui Oppermann, comentou sobre a contribuição da Capes, em formar e capacitar profissionais para o meio acadêmico, construindo um ambiente propício ao desenvolvimento científico e tecnológico no País e citou que a insituição está ampliando sua atuação, buscando uma maior interação com o setor produtivo não acadêmico da sociedade, para formar profissionais qualificados para enfrentar os principais desafios do país, incluindo a crise climática. Oppermann também mencionou o programa Capes Global, que busca impulsionar a internacionalização da pesquisa brasileira por meio de redes colaborativas.
A vice-presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa ( Confap) e presidente da Fapeam, Márcia Perales, destacou o papel das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa na articulação com pesquisadores de todo o país. Destacou que essa rede fortalece a ciência, tecnologia e inovação nacional, com investimentos nos sistemas estaduais e apoio de recursos provenientes dos tesouros estaduais e de parcerias com instituições federais como Capes, CNPq, universidades e ICTs.
Como representante da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior na região norte, o reitor Francisco Ribeiro da Costa, comentou que as universidades amazônicas estão espalhadas em nove estados, cobrindo um território imenso, diverso, e tem uma missão estratégica de formar quadros locais, de produzir conhecimento enraizado na realidade amazônica e que são uma alternativa para superar a desvalorização histórica na região. Disse também que esse encontro representa um marco histórico, em que a ciência e a tecnologia amazônica dialoga diretamente com a presidência da COP.
Os participantes do Encontro da Comunidade Científica e Tecnológica da Amazônia discutiram as propostas a partir de seis eixos temáticos relacionados às pautas da COP 30, como: Transição nos Setores de Energia, Indústria e Transporte; Gestão Sustentável de Florestas, Oceanos e Biodiversidade; Transformação da Agricultura e Sistemas Alimentares; Resiliência em Cidades, Infraestrutura e Água; Desenvolvimento Humano e Social; Objetivos Transversais – Financiamento, Inovação e Governança.
As propostas são voltadas à Agenda de Ação do Mutirão Global contra a Mudança do Clima (2025–2035) e à COP 30, que será realizada em Belém (PA), em novembro deste ano. Segundo Noleto, será entregue a primeira versão agora com a carta ao presidente da COP 30, mas a Comissão de Sistematização vai terminar ainda incluindo as contribuições do encontro na versão final de mais de 400 páginas. A proposta é que além de subsidiar os debates, essa mobilização se estenda no pós-COP 30. “Porque a Comunidade Científica da Amazônia viu que pode continuar esse trabalho e que deve caminhar junto para construir soluções coletivas pactuadas pelo conjunto da Comunidade Científica da Amazônia”, disse Noleto.
Jornada pelo Clima
A diretora de Inovação, Negócios e Transferência de Tecnologia, Ana Euler, também comentou durante o evento sobre as iniciativas da Embrapa para qualificar a contribuição para a COP 30, ampliar o conhecimento da sociedade a respeito da questão climática e promover tecnologias, pesquisas e conhecimentos gerados pela ciência brasileira que contribuem para adaptar a agropecuária e mitigar e controlar emissões de Gases de Efeito Estufa (GEEs), fomentando competitividade e garantindo segurança alimentar e nutricional. Entre essas iniciativas citou a série de eventos Diálogos pelo Clima, que vem ocorrendo em todos os biomas brasileiros, a campanha Jornada pelo Clima, e o espaço de exposição durante a COP 30 em Belém, a Agrizone. “Temos recebido valiosas contribuições sobre soluções e desafios, e convido a todos a participar ativamente. A Embrapa Amazônia Oriental estará de portas abertas. Propomos, em parceria com o governo brasileiro, a criação da Casa das Agriculturas Sustentáveis do Brasil. Lá, haverá um foco especial na Amazônia, com um pavilhão de tecnologias, demonstrações práticas e uma intensa agenda de debates, incluindo a participação das agriculturas familiares e dos povos tradicionais”, explicou a diretora.
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