Iphan conclui etapa de conservação do acervo da antiga RFFSA em MG
Mais de 1.600 peças passaram por tratamento de conservação preventiva
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) concluiu, em sua superintendência em Minas Gerais, em Belo Horizonte, uma etapa fundamental para a preservação do acervo da extinta Rede Ferroviária Federal (RFFSA), atualmente de sua propriedade.
É uma vitória para o patrimônio cultural e para todos os brasileiros que reconhecem a ferrovia como parte da nossa identidade”, avalia Maria do Carmo Lara, superintendente do Iphan em Minas Gerais.
Iniciado em março de 2025, o trabalho envolveu ações de desinfestação e conservação preventiva de 1.607 itens e 50 fragmentos de peças de valor histórico e cultural para a memória ferroviária brasileira. Os objetos foram mapeados e passaram por higienização, estabilização, acondicionamento adequado e registro fotográfico.
O processo contemplou desde a limpeza mecânica e química até a elaboração e atualização das fichas de inventário e conservação, com registro fotográfico dos danos e indicação de tratamentos necessários. Peças em madeira com sinais de infestação passaram por bolsas de anóxia, garantindo sua preservação, enquanto conjuntos como tíquetes ferroviários foram organizados e medidos de acordo com metodologias do Arquivo Nacional.
Para Cibele Brogio de Andrade, chefe da Divisão de Gestão de Conservação de Bens Móveis e Integrados do Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do Iphan, a iniciativa vai além da preservação física. “Esse trabalho é muito importante porque garante o mapeamento e a documentação técnica de cada objeto, prevenindo a perda de informações. A partir desse diagnóstico detalhado, podemos planejar novas ações específicas e acompanhar sua preservação ao longo do tempo”, explicou.
Ela ressaltou ainda que o inventário atualizado será incorporado a um banco de dados em desenvolvimento pelo Iphan, o que permitirá gerir de forma integrada o patrimônio ferroviário. “Quando conhecemos melhor o nosso acervo, temos mais condições de articular sua inserção em exposições e ações educativas, favorecendo que a população tenha acesso ao patrimônio ferroviário brasileiro”, completou Cibele.
A execução foi conduzida pelo Grupo Oficina de Restauro, em parceria com a equipe técnica do Iphan. Segundo Adriano Ramos, representante do grupo, o desafio começou pela identificação do que já havia sido catalogado e do que ainda precisava de fichas de inventário. “Atualizamos todas as fichas com o estado de conservação, documentamos fotograficamente os danos e acrescentamos o tratamento recomendado para cada peça. Depois partimos para a higienização superficial e química, a catalogação, a marcação e o acondicionamento em locais indicados pelo Iphan”, explicou.
A ferrovia como identidade
Ele destacou ainda a diversidade e a especificidade do acervo, que reúne materiais como papel, couro, metal e madeira. “Há peças muito técnicas, difíceis de identificar, como fragmentos de motores internos. Para isso, contamos com a consultoria de um ferroviário experiente, o que nos trouxe resultados valiosos.”
Esse apoio veio de Leonardo Roque Vieira, ex-ferroviário com mais de quatro décadas de atuação na Estrada de Ferro Vitória-Minas e na RFFSA. Ele colaborou na identificação de peças e lembrou, com emoção, sua trajetória. “A ferrovia é como uma cachaça, no bom sentido: quem viveu intensamente esse trabalho guarda um sentimento forte de pertencimento. A gente tinha um sentimento de falar que era ferroviário e enchia o peito pra falar. Poder ajudar a identificar essas peças é também manter viva a história de uma profissão que marcou gerações”, disse.
Para a superintendente do Iphan em Minas Gerais, Maria do Carmo Lara, a conclusão desta etapa representa um marco na preservação da memória ferroviária nacional. “Esse acervo tem uma importância fundamental para compreendermos o papel da RFFSA no desenvolvimento do Brasil. O trabalho realizado garante melhores condições de conservação e abre caminho para futuras pesquisas, restaurações e usos em exposições. É uma vitória para o patrimônio cultural e para todos os brasileiros que reconhecem a ferrovia como parte da nossa identidade”, afirmou.
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