Lula lamenta morte de Mino Carta. "Mostrou que imprensa livre e democracia andam de mãos dadas"
Presidente Lula divulgou nota de pesar e declarou luto oficial de três dias em todo o País. Mais tarde, no velório em São Paulo, reiterou: "O Brasil perde seu maior jornalista"

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou, nesta terça-feira (2/9), uma nota de pesar pelo falecimento do jornalista Mino Carta. Lula lembrou da trajetória que tiveram juntos ao longo de quase cinquenta anos e afirmou que o profissional fez história no jornalismo brasileiro.
"Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um País justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou.", registrou Lula na nota.
Lula fala sobre Mino e o Brasil em despedida em SP
"O Brasil perde seu maior jornalista"
Ao falar com jornalistas no velório de Mino Carta, Lula ressaltou que em todo os instrumentos de imprensa que ele criou, ele teve um comportamento do lado da democracia, do estado de direito, do lado dos trabalhadores.
"Eu sou muito grato ao Mino, porque foi meu companheiro durante muito tempo. O Brasil perde hoje o seu melhor jornalista. Acho que o Brasil precisava aprender a respeitar o Mino Carta, porque ele, na medida que ele ia crescendo, ia ficando cada vez mais progressista.
"Ele foi amigo do Golbery do Couto e Silva, do Delfim Netto, do Lula, ele foi amigo do Belluzzo. Ele foi amigo da CUT, do movimento sindical, ele foi amigo do Partido Comunista. Ou seja, todo mundo tinha que respeitar o Mino Carta. Você poderia divergir, mas você tem que levar em conta aquilo que ele falava e aquilo que ele escrevia.
"Então eu fiz questão de vir aqui, porque é a despedida de um grande companheiro. E você sabe que a gente não escolhe irmão, a gente não escolhe nem pai, nem mãe. Agora companheiro a gente escolhe. E o Mino Carta foi um cara escolhido para ser meu companheiro nesses últimos 50 anos.
Questionado pelos jornalistas a comentar sua expectativa sobre o julgamento do ex-presidente Bolsonaro e da cúpula militar denunciada por tentativa de golpe e de abolição do estado de direito. Lula respondeu não ter expectativa nenhuma – somente que espera que o julgamento se dê com base nos autos do processo e que os acusados tenham direito a exercer sua presunção de inocência.
Confira a íntegra da nota
Recebi com muita tristeza a notícia da morte de meu amigo Mino Carta, ocorrida na madrugada deste 2 de setembro. Ele fez história no jornalismo brasileiro: criou e dirigiu algumas de nossas principais revistas (Veja, Isto é, Quatro Rodas, Carta Capital, Jornal da Tarde, Jornal da República) e formou gerações de profissionais e, sobretudo, mostrou que a imprensa livre e a democracia andam de mãos dadas. Em meio ao autoritarismo do regime militar, as publicações que dirigia denunciavam o abuso dos poderosos e traziam a voz daqueles que clamavam pela liberdade.
Conheci Mino há quase cinquenta anos, quando ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na Istoé, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil. Vivemos juntos a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e as grandes transformações sociais das últimas décadas.
Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou.
Em sua memória, estou declarando três dias de luto oficial em todo o país.
À sua filha Manuela e a todos os seus familiares e os inúmeros amigos que construiu ao longo de sua vida, deixo um forte e carinhoso abraço.
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