Povos indígenas

Terras indígenas reduzem o risco de doenças zoonóticas na Mata Atlântica

Florestas saudáveis, em particular aquelas geridas por povos indígenas, protegem contra a introdução de novos agentes infecciosos, diz estudo publicado em revista especializada

Agência Gov | Via Fiocruz
18/09/2025 12:01
Terras indígenas reduzem o risco de doenças zoonóticas na Mata Atlântica
Edison Bueno/Funai

Estudo publicado na revista One Health revelou que, na Mata Atlântica do Brasil, as terras indígenas desempenham um papel crucial na diminuição do risco de doenças transmitidas a humanos por animais (zoonoses). Através de dados municipais e modelos estatísticos, os pesquisadores descobriram que as terras indígenas proporcionam mais proteção contra quatro doenças zoonóticas (hantavirose, leishmaniose cutânea e visceral, febre maculosa) conforme a vegetação se torna mais densa. Na pesquisa sobre a doença de Chagas, que também foi analisada, essa correlação positiva não foi identificada.

Para se chegar a essas conclusões, foram examinados dados de 21 anos sobre as cinco doenças em questão, considerando o uso da terra, o desmatamento e a expansão da agricultura.

Conclui-se que florestas saudáveis, em particular aquelas geridas por povos indígenas, protegem contra a introdução de novos agentes infecciosos. Isso se deve ao fato de que, nessas áreas, existe uma maior diversidade de espécies e um contato mais limitado entre as pessoas e os animais que são portadores dessas doenças.   

Em áreas que são desmatadas, fragmentadas ou intensivamente cultivadas, a situação é totalmente oposta, pois a movimentação de vetores (como os mosquitos) e de animais que abrigam doenças é maior nessas regiões.   Resumindo: a maneira como utilizamos a terra tem um impacto direto em nossa saúde. 

Principais achados do artigo 

● As TIs apresentaram uma correlação negativa com a incidência de quatro doenças (hantavirose, leishmaniose cutânea e visceral, febre maculosa), o que parece sugerir um “efeito protetor” para além do fornecimento de habitat florestal. 

● Observou-se que, de um modo geral, a presença de florestas diminuiu a incidência, exceto no caso da leishmaniose cutânea, que, em certas circunstâncias, apresenta uma correlação positiva com florestas e áreas agrícolas.   

● No caso da febre maculosa, a fragmentação florestal teve um efeito limitado, mas em alguns casos, correlacionou-se a uma menor incidência de febre maculosa, sugerindo que a configuração espacial pode influenciar a interação entre vetor e hospedeiro. 

● Onde mais terras indígenas estão localizadas, verifica-se um aumento nos efeitos protetores, sugerindo que tanto a conservação quanto o manejo indígena atenuam o risco de doenças.


Fonte: The importance of Indigenous Lands and landscape structure in shaping the zoonotic disease risk—Insights from the Brazilian Atlantic Forest / One Health

Link: https://portal.fiocruz.br/noticia/2025/09/terras-indigenas-reduzem-o-risco-de-doencas-zoonoticas-na-mata-atlantica
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