Terras indígenas reduzem o risco de doenças zoonóticas na Mata Atlântica
Florestas saudáveis, em particular aquelas geridas por povos indígenas, protegem contra a introdução de novos agentes infecciosos, diz estudo publicado em revista especializada

Estudo publicado na revista One Health revelou que, na Mata Atlântica do Brasil, as terras indígenas desempenham um papel crucial na diminuição do risco de doenças transmitidas a humanos por animais (zoonoses). Através de dados municipais e modelos estatísticos, os pesquisadores descobriram que as terras indígenas proporcionam mais proteção contra quatro doenças zoonóticas (hantavirose, leishmaniose cutânea e visceral, febre maculosa) conforme a vegetação se torna mais densa. Na pesquisa sobre a doença de Chagas, que também foi analisada, essa correlação positiva não foi identificada.
Para se chegar a essas conclusões, foram examinados dados de 21 anos sobre as cinco doenças em questão, considerando o uso da terra, o desmatamento e a expansão da agricultura.
Conclui-se que florestas saudáveis, em particular aquelas geridas por povos indígenas, protegem contra a introdução de novos agentes infecciosos. Isso se deve ao fato de que, nessas áreas, existe uma maior diversidade de espécies e um contato mais limitado entre as pessoas e os animais que são portadores dessas doenças.
Em áreas que são desmatadas, fragmentadas ou intensivamente cultivadas, a situação é totalmente oposta, pois a movimentação de vetores (como os mosquitos) e de animais que abrigam doenças é maior nessas regiões. Resumindo: a maneira como utilizamos a terra tem um impacto direto em nossa saúde.
Principais achados do artigo
● As TIs apresentaram uma correlação negativa com a incidência de quatro doenças (hantavirose, leishmaniose cutânea e visceral, febre maculosa), o que parece sugerir um “efeito protetor” para além do fornecimento de habitat florestal.
● Observou-se que, de um modo geral, a presença de florestas diminuiu a incidência, exceto no caso da leishmaniose cutânea, que, em certas circunstâncias, apresenta uma correlação positiva com florestas e áreas agrícolas.
● No caso da febre maculosa, a fragmentação florestal teve um efeito limitado, mas em alguns casos, correlacionou-se a uma menor incidência de febre maculosa, sugerindo que a configuração espacial pode influenciar a interação entre vetor e hospedeiro.
● Onde mais terras indígenas estão localizadas, verifica-se um aumento nos efeitos protetores, sugerindo que tanto a conservação quanto o manejo indígena atenuam o risco de doenças.
Fonte: The importance of Indigenous Lands and landscape structure in shaping the zoonotic disease risk—Insights from the Brazilian Atlantic Forest / One Health
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