Gestão

Brasil defende fortalecimento das capacidades estatais como base para o multilateralismo e a democracia

Em encontro internacional no Uruguai, ministra Esther Dweck destaca que democracias fortes dependem de Estados eficientes e cooperativos, capazes de promover equidade e fortalecer a cooperação global

Agência Gov | Via MGI
29/10/2025 16:40
Brasil defende fortalecimento das capacidades estatais como base para o multilateralismo e a democracia

A ministra da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, representou o Governo do Brasil no Encontro Internacional “Alternativas Urgentes para o Multilateralismo”, realizado entre os dias 28 e 29 de outubro, em Montevidéu, Uruguai. O evento reuniu autoridades, pesquisadores e lideranças de diversos países para debater caminhos para reconstruir a cooperação internacional e fortalecer a democracia diante de desafios globais como as mudanças climáticas, a desigualdade e a revolução digital.

Em sua intervenção no painel “Multilateralismo como democracia internacional e como internacionalização da democracia”, a ministra destacou que fortalecer as capacidades estatais é essencial para garantir a democracia e o próprio multilateralismo. “A democracia internacional começa quando cada país é capaz de oferecer à sua população um Estado que funcione, que respeite os direitos, que promova a equidade e que garanta voz aos historicamente silenciados, em uma região tão desigual. Por isso, fortalecer o multilateralismo é também fortalecer os Estados, não para isolá-los, mas para torná-los capazes de cooperar de forma soberana e solidária”, ponderou.

Para a ministra, a capacidade estatal é o alicerce tanto da justiça social quanto da legitimidade das democracias, e o multilateralismo só se sustenta quando cada país é capaz de garantir direitos e promover equidade internamente. “A democracia internacional começa quando cada país é capaz de oferecer a seus cidadãos um Estado que funcione, que respeite direitos e promova a equidade. Sem capacidade estatal, não há democracia que se sustente. E sem democracias fortes, não há multilateralismo legítimo”, afirmou a ministra.

Esther Dweck também ressaltou o papel do Brasil na defesa de uma cooperação global baseada na dignidade humana e na solidariedade entre as nações. Durante sua fala, citou duas iniciativas lançadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Coalizão de Presidentes pela Defesa da Democracia, ambas vistas pelo governo brasileiro como exemplos de multilateralismo transformador, voltado para resultados concretos e para o fortalecimento das instituições democráticas. “O Brasil saiu recentemente do Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas, um marco simbólico e material de que a ação pública pode transformar realidades quando guiada pelo compromisso político, pela capacidade institucional e pela cooperação social. Essa conquista não é só brasileira; é latino-americana. É uma prova de que a política, quando bem orientada, continua sendo o maior instrumento de justiça social que temos”, afirmou.

Ao tratar das iniciativas brasileiras em curso e da agenda de fortalecimento institucional, a ministra ressaltou que o país tem buscado promover uma nova cultura de cooperação, baseada na troca de experiências e na aprendizagem coletiva. Segundo ela, a construção de um Estado moderno e inclusivo exige integração entre diferentes esferas de governo e diálogo permanente com a sociedade e o meio acadêmico. “O governo do presidente Lula acredita que a construção de Estados mais eficientes, transparentes e participativos depende do compartilhamento de experiências e do fortalecimento de redes de cooperação entre governos, universidades e sociedade civil”, afirmou.

A ministra Esther Dweck encerra, nesta ocasião, sua gestão como presidenta do Conselho Diretivo do Clad (biênio 2024–2025), período marcado pela expansão institucional e pela consolidação de novas parcerias regionais. A agenda contou também com a presença de Francisco Legnani, intendente do Departamento de Canelones, destacando a importância da iniciativa para o fortalecimento da cooperação entre os países.

Clad reforça integração regional

Durante a missão no Uruguai, a ministra Esther Dweck participou da inauguração do escritório sub-regional do CLAD, marco da ampliação da cooperação latino-americana. Foto: Grazielle Machado/MGI
Durante a missão no Uruguai, a ministra Esther Dweck participou da inauguração do escritório sub-regional do Clad, marco da ampliação da cooperação latino-americana. Foto: Grazielle Machado/MGI

Durante a missão, a ministra também participou da inauguração do Escritório Sub-regional do Centro Latino-americano de Administração para o Desenvolvimento (Clad), no Parque Científico e Tecnológico de Pando. A nova unidade amplia a presença da instituição no Cone Sul e fortalece o intercâmbio de experiências entre países da América Latina.

O secretário-geral do Clad, Conrado Ramos, destacou a importância da integração regional e o simbolismo da inauguração no Parque de Pando, espaço de inovação e desenvolvimento. Ele enfatizou a necessidade de modernizar a capacitação de servidores públicos e de avançar na governança de dados.

“As capacitações precisam ser diferentes. Não podemos continuar com os mesmos modelos tradicionais. Estamos tentando chegar às regiões com novos formatos de capacitação e de governança de dados. Falamos sobre inteligência artificial, mas, se não tivermos dados bem curados, não conseguiremos avançar”, reforçou.

O presidente do Parque, Eduardo Manta, explicou que o local é voltado ao fomento da ciência, da tecnologia e do empreendedorismo local.

“Talvez o mais importante - e isso transcende o próprio Clad, configurando-se como um marco para o país - é o fato de que este Parque Científico e Tecnológico foi concebido inicialmente para o desenvolvimento de ciência e tecnologia aplicadas à produção. Inovamos em ciência, tecnologia e desenvolvimento produtivo. E hoje estamos avançando de forma significativa, porque a inovação não é apenas científica ou tecnológica: ela também é institucional e de governança, dimensões fundamentais para o desenvolvimento que os países precisam alcançar”, afirmou.

Segundo Manta, o Uruguai desempenha papel estratégico na conexão entre América Latina, África e Europa, ao promover ideias e práticas inovadoras de gestão pública. “O Uruguai é um país muito importante especialmente nessa conexão do Clad entre os países da América Latina, África e Europa, pois tem muitas ideias para gestão pública. Além de ser um país conhecido por ser amigo de todos os países”, disse. “Queremos trabalhar juntos, unindo esforços nos campos da inovação científica, tecnológica e organizacional. Já temos várias iniciativas estruturadas do nosso lado e esperamos que esta cooperação siga crescendo de maneira concreta”, completou.

Diálogo e cooperação bilateral

A agenda em Montevidéu incluiu também encontros com lideranças políticas e sociais do Uruguai, entre elas Lucía Topolansky , primeira senadora do país. Durante a conversa, Lucía destacou a importância simbólica do termo servidor público, usado também no Brasil.

Ela lembrou que, ao longo do tempo, o termo foi substituído por funcionário público, o que alterou a percepção sobre o trabalho no Estado. “Servidor é quem entende a grandeza e a responsabilidade de servir”, afirmou. A reflexão se aproxima de uma das inovações do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU), que prevê curso de formação voltado a reforçar o sentido do servir e o papel de representar uma sociedade diversa.

A ministra também participou de reuniões sobre cooperação ambiental e transição justa com a vice-presidente do Uruguai, Carolina Cosse , o embaixador do Brasil, Marcos Leal Raposo Lopes, e a diretora nacional de Mudança Climática do Uruguai, María Fernanda Souza. Os encontros reforçaram o compromisso do governo brasileiro com o diálogo entre as nações e o fortalecimento das capacidades estatais, condição essencial para que os países possam encontrar soluções conjuntas para desafios cada vez mais globais.

Link: https://www.gov.br/gestao/pt-br/assuntos/noticias/2025/outubro/brasil-defende-fortalecimento-das-capacidades-estatais-como-base-para-o-multilateralismo-e-a-democracia
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte