Emprego CLT é sonho de jovens que buscam cursos técnicos e profissionalizantes
Pesquisa feita pela Generation Brazil mostra que 84% dos jovens que concluem cursos de qualificação oferecidos pela ONG ocupam empregos com carteira assinada e se dizem satisfeitos. Estabilidade e progressão de carreira são atrativos

Jovens entre 18 e 29 anos, que passaram pelo ensino médio e ainda sem formação em cursos superiores, querem e buscam empregos com carteira assinada, a popular CLT, sigla para Consolidação das Leis do Trabalho. Pesquisa da organização internacional Generation mostra que 84% dos jovens que passaram por seus cursos de formação profissionalizante no Brasil ocupam cargos CLT e, dois anos ou mais após a experiência, estão satisfeitos com sua colocação no mercado.
A pesquisa, divulgada em primeira mão à Agência Gov, da EBC, ouviu 461 ex-estudantes, formados entre 2020 e 2023. Segundo a ONG, além dos 84% dos ex-alunos em contratos de longo prazo com direitos trabalhistas, outros 6% estão em contratos de curto prazo, ou trabalhando por comissão ou pagamento por hora, 4% em estágio remunerado e apenas 3% como autônomos - freelancers ou empreendedores.
Logo de cara, ao ingressar nos cursos, o projeto de todos é conquistar vagas CLT – ou seja, com carteira assinada e garantia de direitos. "Podemos dizer que 100% de quem nos procura planeja ter um emprego com direitos trabalhistas", diz Andrea Mitsui, principal executiva da ONG no País.
Quem busca os cursos profissionalizantes antevê que o desafio de exercer funções especializadas, especialmente aquelas em sintonia com as tendências recentes de mercado, tem maior espaço em organizações empresariais mais bem estruturadas. A hipótese pode ser aplicada aos estudantes que buscam os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF's), mas não há pesquisa aplicada a este público específico.
• 84% dos formados nos cursos profissionalizantes estão em empregos CLT
• Destes, 85% permanecem no emprego após três anos
• 80% dos empregos CLT criados no Brasil até setembro são ocupados por jovens de até 24 anos
• 57,4% dos empregos CLT no setor industrial são ocupados por jovens de idade entre 18 e 24 anos
Porém, a relação entre empregos com qualificação técnica e juventude pode ser apreendida de recente pesquisa do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Em setembro, a indústria criou 405.493 novos postos de trabalho entre janeiro e setembro deste ano. Desse total, 57,4% das vagas foram ocupadas por jovens entre 18 e 24 anos.
Permanência no emprego
A Generation foi fundada em 2014, nos Estados Unidos, pela consultoria McKinsey & Co., com o objetivo de ajudar jovens a se inserir no mercado de trabalho e auxiliar empresas a encontrá-los. O Brasil é uma das 16 operações internacionais da ONG. Desde 2015, quando passou a atuar no Brasil, formou mais de 4 mil pessoas. Historicamente, mais de 70% estão desempregados quando buscam a Generation. A maior parte desses jovens, 71%, mora em casas com outros adultos que trabalham.
Após concluir os cursos oferecidos pela Generation, ainda segundo a pesquisa da ONG, 82% de ex-alunos no Brasil conseguem atender às suas necessidades materiais diárias e 58% conseguem poupar; 78% estão satisfeitos com sua experiência de trabalho desde a conclusão do programa e 72% estão em empregos considerados de alta qualidade. 85% continuam empregados após três anos, mostrando a sustentabilidade dessas oportunidades, segundo a ONG.
A métrica adotada pela Generation para classificar a qualidade dos empregos é simples. O salário considerado digno é cerca de 40% superior ao salário mínimo, embora haja grande variação. A referência aplicada é o WageIndicator, ajustada proporcionalmente para um adulto sozinho, explica a ONG.
O salário tem sido um dos flancos que desestimulariam os jovens a buscar empregos CLT. O ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, tem dito repetidas vezes que certas vagas à disposição no mercado não são atraentes por pagarem salários baixos para tarefas de exigências complexas.
O jovem quer respeito. Não quer um ambiente insalubre, não quer um ambiente que tenha assédio contra ele ou discriminação que possam acontecer no mercado de trabalho", diz Marinho. "E o jovem quer boa remuneração", completa.
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Ainda que parte das vagas de entrada tenha dificuldade para encontrar candidatos, as novas gerações têm acolhido os empregos CLT em grande número. "De 4 milhões e 600 mil empregos formais gerados nesses dois anos e pouco do presidente Lula, 80% dessas vagas foram preenchidas pela juventude de até 24 anos de idade", destaca o ministro, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Além do salário, o que atrai os jovens é a possibilidade de construir carreira de longo prazo e de planejar o futuro. Empresas mais estruturadas podem oferecer isso. "É a melhora na qualidade de vida dessas pessoas", diz Andrea Matsui. "Não só em saúde financeira dele, dela e da família, mas também em progressão de carreira".
A experiência da Generation confirma. "A gente vê já hoje mais de 50% dos nossos ex-alunos que se formaram há mais de dois anos crescendo na carreira, não estando mais em posições de nível de entrada, que ocupavam logo após o nosso programa", descreve Andrea.
Andrea: empresas também mudam sua concepção e constroem planos de carreira sólidos. Foto: reprodução
Os empregos CLT, na avaliação dela, "são um caminho poderoso de inclusão para o público, principalmente pensando nos mais vulnerabilizados, que não têm acesso a uma educação de qualidade, a formações, e, portanto, têm muito mais dificuldade de entrar no mercado de trabalho. Mas, para esse público, é uma porta de entrada muito boa para começar a carreira, para ter estabilidade financeira, acesso a benefícios, plano de progressão".
Mas não só. Há mudanças por parte das empresas, diz a executiva da Generation, que estimulam o plano de ter empregos CLT duradouros. "A maior parte das empresas [que tem parcerias com a ONG] constituem um plano de carreira. Então, não é só o salário de amanhã, é a carreira nos próximos cinco, dez anos", afirma Andrea.
Ideia velha
CLT como coisa do passado é uma ideia equivocada, fruto de velhos preconceitos. Os candidatos que buscam a ajuda da Generation encontram cursos de alta tecnologia, como o recente módulo em inteligência artificial, preparados para as chamadas carreiras do futuro.
Segundo Andrea, certas lições de flexibilidade estão sendo aprendidas pelas empresas, o que ajuda a contrastar a ideia de que CLT seria ultrapassada:
"O que eu acho que existe nas novas gerações é um misto de terem visto as gerações anteriores, os seus pais, o seu círculo familiar e social, tendo experiências negativas de CLT no passado, e acho que o ambiente do mercado de trabalho foi evoluindo desde então. Os jovens hoje têm esse olhar de querer mais flexibilidade, maior autonomia que as vagas CLT de antigamente, as mais tradicionais. Mas acho que o mercado foi evoluindo também, e hoje a gente vê muitas oportunidades de trabalho que já conseguem oferecer algum tipo de flexibilidade e autonomia", diz. "As empresas hoje em dia estão ficando cada vez mais inteligentes e espertas no que oferecer para os colaboradores", completa.
A chave principal dessa mudança na cultura empresarial, na avaliação de Andrea, é a elaboração de planos de carreira. "Pensando no crescimento de longo prazo desse grupo, que é um grupo majoritariamente jovem, o plano de carreira que as empresas podem oferecer. Num contexto de um contrato temporário ou um contrato PJ, o projeto acaba, a empresa não tem muito o que pensar, simplesmente rescinde. Para esses jovens, ter um lugar que pensa você como colaborador, que pensa no próximo passo, nas próximas promoções, é super-chave para o crescimento de longo prazo".
Previdência
O ministro Luiz Marinho, metalúrgico de profissão e com origem política no sindicalismo, tendo presidido o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), enxerga no emprego com carteira assinada um projeto de futuro.
"A juventude tem que planejar o seu processo de aperfeiçoamento da sua capacitação profissional, da elevação da escolaridade. Isso tem que planejar. E a CLT dá esta garantia, que o jovem vai somando no tempo: décimo terceiro, férias e a Previdência Social, que, lá na frente, vai fazer uma grande diferença na sua vida", comenta o ministro. "O que não diz para você é que na informalidade você não tem direito a nada disso".
Marinho: "A CLT dá garantias e vai fazer grande diferença na vida". Foto: Valter Campanatto/Agência Brasil
Na opinião dele, a construção de um mercado de trabalho sólido em torno dos direitos trabalhistas exige, mas também proporciona, organização das representações sindicais. E esse conjunto de fatores pode aperfeiçoar o próprio mercado. "Nós precisamos avançar ainda mais no processo de organizativo das conquistas da classe trabalhadora, e a CLT está presente no debate".
Ele cita avanços por vir: "O fim da jornada 6 por 1, por exemplo. Isso é um problemaço. Mas nós vamos arrancar o fim dessa jornada, precisamos reduzir a jornada de trabalho como um todo. Mas todo esse processo se dá em torno das organizações sindicais, para elevar o nível de conquista da classe trabalhadora brasileira, em especial para a juventude", afirma.
Empreendedorismo como antítese?
Há uma noção amplamente aceita de que parcela dos jovens simplesmente não quer emprego formal e prefere atividades sem garantias de piso salarial ou de saúde, desde que fiquem por completo livres de patrões diretos. Uma experiência da Generation, junto a uma multinacional de bebidas e a uma plataforma de entregas, mostrou outro resultado.
Um grupo de motoentregadores passou por cursos de formação profissional na área de vendas. Os empregos de entrada disponíveis eram remunerados por um salário mínimo, mais comissão. "E deu super certo, porque eles entram nesses empregos que, antes, as empresas tinham muita dificuldade de preencher - e aí vem um pouco dessa visão de a gente não acha esse profissional - e ele vêm, de uma formação nossa, para essa posição, e consegue todos esses benefícios e consegue ter, daí, uma oportunidade de carreira mais bem definida, com mais oportunidades e mais benefícios", finaliza Andrea.
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