Confira experiência de estatais de Brasil, Alemanha, Chile, Colômbia e China na transição ecológica
Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática discute como estatais impulsionam a transição para uma economia de baixo carbono e o desenvolvimento sustentável, com experiências de diversos países

Durante o segundo painel do Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática, a secretária de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Sest), do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), Elisa Leonel, conduziu um debate sobre o papel das estatais na transição ecológica e nas estratégias de desenvolvimento sustentável.
A discussão destacou como governos, por meio da propriedade estatal, podem influenciar de forma decisiva as trajetórias de investimento e inovação, alinhando-as às metas climáticas nacionais e aos objetivos de crescimento econômico.
A secretária Elisa Leonel, abriu o painel destacando a importância de refletir a forma como o Estado organiza seus investimentos e atua como acionista e proprietário de empresas estatais”, afirmou.
A secretária também destacou que, mesmo em países onde a participação estatal foi reduzida nas últimas décadas, há um movimento de retomada dos investimentos públicos em empresas estatais. Segundo ela, esse retorno reflete o reconhecimento de que os custos e desafios da transição ecológica exigem planejamento e investimentos de longo prazo, papel no qual o Estado tem responsabilidade estratégica.
Elisa enfatizou ainda que as empresas públicas possuem papel expressivo nas economias nacionais e voltam a ganhar relevância diante das transformações produtivas e ambientais em curso.
Papel das Estatais
O professor da Universidade Sciences Po-Paris, Philippe Benoit, destacou o papel estratégico das empresas estatais na agenda climática global. Segundo ele, as estatais são atores-chave para a ação climática, embora muitas vezes sejam subestimadas. Elas estão presentes em setores essenciais, como energia, agricultura e finanças, e têm papel central no financiamento da transição para uma economia de baixo carbono.
Benoit também ressaltou que o Brasil se diferencia no cenário internacional por contar com empresas públicas responsáveis por grande parte da geração de energia renovável. “Metade do financiamento para energia limpa no mundo vem do Estado, e, na América Latina, essa proporção é ainda maior. As empresas estatais conferem mais resiliência aos países diante dos eventos climáticos, justamente por serem proprietárias das estruturas de produção e distribuição de energia”, observou. Segundo ele, essas companhias são responsáveis por grande parte da geração de energia no mundo e concentram ativos estratégicos em fontes como hidrelétricas, nuclear e grandes complexos eólicos e solares, o que as torna decisivas para o avanço da energia limpa nas próximas décadas.
Perspectivas internacionais
ALEMANHA – Marion Lange, representante do Ministério da Fazenda da Alemanha, apresentou o modelo alemão de governança pública das estatais e suas diretrizes de sustentabilidade. Ela explicou que o país adota uma gestão descentralizada, em que diferentes ministérios atuam como proprietários conforme sua área de especialização. Lange destacou ainda que o marco legal climático alemão define metas específicas, como a neutralidade climática até 2030, e que as estatais devem servir de referência para o setor privado e a sociedade, antecipando metas e impulsionando práticas de sustentabilidade.
CHILE – Daniela Severin Herrera, do Sistema de Empresas Públicas do Chile, trouxe a perspectiva chilena sobre sustentabilidade e governança corporativa. “No Chile, buscamos separar o papel do Estado como proprietário, regulador e formulador de políticas públicas, garantindo conselhos de administração independentes que não influenciem decisões estratégicas das estatais.
Para que essas empresas alcancem seus objetivos de sustentabilidade, é essencial contar com uma estrutura de governança sólida, métricas padronizadas e uma cultura administrativa que equilibre efetividade, inclusão e proteção ambiental. Apenas assim podemos medir efetivamente os resultados ambientais, sociais e de governança e avançar de forma consistente, mesmo diante de mudanças políticas”, explicou. Herrera também destacou que, em empresas com longa tradição, mudanças culturais internas e liderança exemplar são fundamentais para promover práticas sustentáveis.
CHINA – Li Jun, diretor-geral do Bureau de Responsabilidade Social da SASAC, do Conselho de Estado da China, ressaltou o papel das estatais chinesas na sustentabilidade e no crescimento econômico. “Elas coordenam políticas de emissão de carbono, fortalecem avaliações de desempenho sustentável, lideram iniciativas verdes e investem em inovação tecnológica e pesquisas em energias limpas.
Diante dos desafios ambientais, a humanidade é uma comunidade com futuro compartilhado. As estatais devem implementar políticas climáticas, apoiar a Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e o Acordo de Paris, tomando ações práticas para enfrentar as mudanças climáticas e cumprir suas responsabilidades dentro da filosofia de uma economia verde. É necessário agir em harmonia para proteger nosso belo planeta Terra”, afirmou.
COLÔMBIA – María José Naranjo, vice-presidente de Estratégia Corporativa do Bancóldex, banco de desenvolvimento empresarial da Colômbia, destacou o papel das instituições estatais no fortalecimento da inclusão financeira e do desenvolvimento econômico sustentável. “Nosso foco inicial é o financiamento de inclusão. Apoiamos microempresas em todo o país, que conta com 32 departamentos e mais de mil municípios, garantindo acesso a crédito mesmo em regiões remotas. Para isso, utilizamos produtos financeiros e não financeiros, assegurando que pequenas e médias empresas possam crescer e se desenvolver”, explicou.
Sobre o evento
O Encontro Global sobre Empresas Estatais e Ação Climática foi organizado pela Secretaria de Coordenação e Governança das Empresas Estatais do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (Sest/MGI) em parceria com a Petrobras e tem o apoio da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) e da Open Society Foundations (OSF).
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte