Em entrevista, Lula analisa momento do Brasil, política habitacional e diálogo com Trump
Em entrevista à TV Mirante, presidente destacou expansão de mercados, isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil e implementação dos programas Gás do Povo e Luz do Povo

O presidente Lula fez uma análise ampla da política e da economia do Brasil e do "momento excepcional", segundo ele, vivido pelo País. O momento de colheita, como tem dito Lula, decorre da dedicação ao processo de reconstrução durante os primeiros dois aos de governo.
Em entrevista à TV Mirante, nesta segunda-feira (6/10), em meio à agenda no Maranhão, o presidente reiterou o bom momento vivido pela economia brasileira e as medidas recentes de inclusão social e estímulo ao crescimento. O Brasil está vivendo um momento excepcional, possivelmente um dos melhores. Esse país, a última vez que cresceu acima de 3%, foi quando eu era presidente em 2010. Ele só voltou a crescer acima de 3% agora que voltei à Presidência. E cresceu o PIB, cresceu a renda, cresceu o salário mínimo”, afirmou.
A entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida em Imperatriz, São Luís, o chefe do Executivo federal observou o contraste entre o cenário de paralisa que herdou e os esforços para fazer as entregas andarem: “Nós encontramos no Maranhão 22 mil moradias em 107 municípios paralisadas. Quando você está inaugurando um conjunto habitacional com 2.870 casas, você não está inaugurando apenas um conjunto habitacional, está inaugurando uma cidade. E essa cidade precisa de transporte, escola, creche, área de lazer. A gente precisa criar todas as condições”, afirmou.
Ao comentar o diálogo tido na segunda-feira (6) com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Lula definiu a conversa como "extraordinariamente boa". “Às vezes, você pensa que as coisas vão acontecer de um jeito, que não vai ter uma boa conversa, e ela acaba sendo muito amigável, de dois presidentes de dois países importantes, das duas maiores democracias do Ocidente”, afirmou. “Era preciso que a gente conversasse, colocasse os nossos problemas em torno de uma mesa. Depois dessa conversa, em que as coisas ficaram mais claras, eu disse para ele o que pensava, ele me disse o que pensava, e ficamos de marcar um encontro presencial.”
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Confira os principais trechos da entrevista.
"Momento excepcional"
NOVOS MERCADOS — Lula também ressaltou os avanços na política de comércio exterior e a ampliação de mercados internacionais para produtos brasileiros. “Nós já abrimos mais de 433 novos mercados em apenas dois anos e meio. E agora, dia 22 de outubro, vou participar do Congresso da Asean [Associação de Nações do Sudeste Asiático], com 11 países asiáticos, para defender os interesses do Brasil e vender nossos produtos para o mundo asiático. A China já é o nosso maior parceiro comercial e tudo que eu puder vender e também comprar, nós temos que fazer”, destacou.
DIVERSIFICAÇÃO – De acordo com o presidente, a diversificação das exportações e a busca por novos parceiros comerciais são estratégias centrais do governo. “A gente não pode ficar chorando por um país que não quer vender para a gente. Temos que procurar outros. E aquele que quer comprar, a gente tem que procurar também. É assim”.
IMPOSTO DE RENDA — Na entrevista para o canal maranhense, o presidente citou a aprovação por unanimidade na Câmara dos Deputados do Projeto de Lei que determina o fim do pagamento do Imposto de Renda para brasileiros que ganham até R$ 5 mil por mês. Enviado pelo Governo do Brasil ao Congresso Nacional em março, o texto compensa a isenção do Imposto de Renda com uma cobrança de até 10% de imposto para os chamados super ricos, grupo de brasileiros com rendimento tributável acima de R$ 50 mil por mês (R$ 600 mil ao ano), um grupo de cerca de 140 mil pessoas.
GÁS DO POVO — Lula comentou também sobre o Gás do Povo, que vai garantir gás de cozinha gratuito para cerca de 17 milhões de pessoas a partir de novembro. O decreto que regulamenta o programa foi assinado na última sexta-feira, 3 de outubro. A norma estabelece as regras de elegibilidade e seleção das famílias beneficiárias, priorizando aquelas em maior vulnerabilidade social e econômica. Para serem elegíveis, as famílias devem estar com o cadastro atualizado no CadÚnico e ter renda familiar per capita mensal de até meio salário mínimo.
LUZ DO POVO — Outra iniciativa voltada à proteção da renda e alívio no custo de vida das famílias brasileiras que foi citada pelo presidente durante a entrevista é o Programa Luz do Povo. A medida isenta do pagamento de energia quem consome até 80 kWh por mês e reduz a tarifa para quem consome até 120 kWh. “Essas coisas estão acontecendo porque eu fui eleito para cuidar do povo. Eu não uso a palavra governar, eu uso a palavra cuidar. E o governo existe para cuidar das pessoas que mais necessitam, das pessoas que mais precisam”, enfatizou.
“Uma conversa extraordinariamente boa”
NEGOCIAÇÕES – Os dois presidentes concordaram em prosseguir as negociações sobre temas comerciais e políticos por meio de suas equipes. Do lado norte-americano, Trump designou o secretário de Estado, Marco Rubio, para dar sequência às tratativas com o vice-presidente Geraldo Alckmin, o chanceler Mauro Vieira e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Lula reiterou o pedido de retirada da sobretaxa de 40% aplicada a produtos brasileiros e das restrições impostas a autoridades nacionais, ressaltando que “não há sentido na taxação que foi feita ao Brasil”.
DIÁLOGO — Durante a entrevista à TV Mirante, o presidente defendeu que as duas nações devem servir de exemplo de diálogo e cooperação internacional, num contexto global de tensões e desconfianças. “Brasil e Estados Unidos têm que ser exemplo ao mundo das duas maiores democracias ocidentais. A gente sabe que o mundo está de olho. Portanto, acho que ele entendeu. Fiquei bastante surpreso com a cordialidade dele”, afirmou. “Quase 600 milhões de habitantes que representamos esperam de nós que sejamos muito responsáveis e cuidadosos com os interesses dos povos que representamos”.
COMUNICAÇÃO DIRETA — Ao fim da ligação, Lula e Trump trocaram números de telefone pessoal, com o compromisso de manter contato direto sempre que necessário. “Ele me deu o telefone pessoal dele, eu dei o meu para ele, para que a gente não precise de intermediários para fazer as coisas boas para Estados Unidos e Brasil”, pontuou, ressaltando que a intenção é evitar a burocracia em questões urgentes. “Quando eu tiver um assunto político grave para tratar com o presidente Trump, ou ele comigo, não precisamos esperar que a liturgia marque data. Pega o telefone, liga um para o outro e coloca o assunto na mesa. É assim que a gente vai resolver”, disse.
CONFIANÇA — Ao comentar o cenário internacional, Lula avaliou que o mundo vive um momento de conflitos, desavenças e descrédito, e que cabe às lideranças políticas mostrar resultados e restaurar a confiança entre os povos. “O mundo está esperando que as lideranças políticas resolvam os problemas por que ele está passando. Nós estamos conversando como dois seres humanos civilizados, responsáveis pelos interesses dos nossos países”, completou.
Programas sociais
“Nós encontramos no Maranhão 22 mil moradias em 107 municípios paralisadas. Quando você está inaugurando um conjunto habitacional com 2.870 casas, você não está inaugurando apenas um conjunto habitacional, está inaugurando uma cidade. E essa cidade precisa de transporte, escola, creche, área de lazer. A gente precisa criar todas as condições”, afirmou.
DIGNIDADE — Na conversa com a jornalista Carla Lima, o presidente destacou a importância de tratar com dignidade as famílias que vivem em situação de vulnerabilidade. “O povo é pobre, mas o povo tem que ser tratado com respeito. Ninguém quer morar em chiqueiro. As pessoas querem uma casa digna, que tenha escola, médico, lugar para comprar e brincar”, declarou.
SEGURO DEFESO — O presidente também destacou o rigor na fiscalização de programas sociais no estado, como o Seguro Defeso, utilizado por pescadores artesanais durante o período de proibição da pesca. “A seriedade que a gente tem que dar nesses projetos de inclusão social é enorme. A gente tem que dar o benefício para quem tem direito. Se alguém que não tem direito usa, quem precisa não recebe. Por isso, estamos fiscalizando com seriedade. O dinheiro é do povo, voltando para o povo em forma de benefício”, afirmou.
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