Lula exalta potencial de crescimento do comércio com a Indonésia
Presidente afirma que as duas nações têm plenas condições de mostrar ao mundo a capacidade de defender interesses econômicos com diálogo e respeito mútuo. Agenda desta quinta-feira (23) abre série de compromissos no Sudeste Asiático
O presidente Lula abriu nesta quinta-feira (23/10) em Jacarta, capital da Indonésia, a agenda oficial de compromissos no Sudeste Asiático. Em visita de Estado, Lula foi recebido com honras militares e civis no Palácio Merdeka pelo presidente Prabowo Subianto, com quem se reuniu em encontros privado e ampliado. Na sequência, houve uma cerimônia de assinatura de atos e acordos e uma declaração à imprensa.
No atual cenário de acirramento do protecionismo, nossos países têm plenas condições de mostrar ao mundo a capacidade de defender interesses econômicos com diálogo e respeito mútuo”, disse o presidente
Íntegra do discurso do presidente Lula
Ao citar o volume do comércio entre os dois países, Lula ressaltou as muitas potencialidades para ampliar o fluxo de importação e exportação entre as duas nações. “Nas últimas duas décadas, nosso comércio cresceu mais de três vezes, de dois bilhões para seis bilhões e meio de dólares. Eu disse ao presidente Subianto que é quase inexplicável para as nossas sociedades como Indonésia e Brasil, que juntos perfazem quase 500 milhões de habitantes, só tenham um comércio de seis bilhões de dólares. É pouco para a Indonésia, é pouco para o Brasil”, destacou Lula.
Na trilha para mudar esse cenário, Brasil e Indonésia assinaram uma série de memorandos de entendimento. Os acordos envolvem cooperações em medidas sanitárias e fitossanitárias e de certificação na área de agricultura, além de cooperação nas áreas de energia e mineração, ciência e tecnologia, estatística e promoção comercial. Os documentos foram assinados pelos ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Carlos Fávaro (Agricultura), e pelos presidentes do IBGE, Marcio Pochmann, e da Apex, Jorge Vianna. Também houve assinatura de acordos envolvendo empresas privadas das duas nações.
Venho para cá com muita expectativa de renovarmos a parceria estratégica, estabelecer novos acordos, não apenas em comércio bilateral, mas em coisas novas, como a questão da inteligência artificial, a questão dos Datacenters, a questão científica e tecnológica, aperfeiçoar o relacionamento entre nossas universidades”, listou o presidente Lula
Exemplo
Ao exaltar as boas relações entre os dois países, Lula ressaltou que Brasil e Indonésia são exemplos num momento de incertezas no contexto global. “Vamos fazer um esforço grande para que Indonésia e Brasil se transformem em dois parceiros fundamentais na geografia econômica do mundo”, declarou Lula.
Multilateralismo
Para o presidente brasileiro, Indonésia e Brasil são referência de entendimentos que beneficiam os dois lados numa relação de comércio equitativa, com ganhos para os dois lados. “Nós queremos multilateralismo e não unilateralismo. Queremos democracia comercial e não protecionismo. Queremos crescer, gerar empregos. Emprego de qualidade, porque é para isso que nós fomos eleitos para representar o nosso povo”, resumiu.
Valorização
O presidente Prabowo Subianto classificou como uma grande honra a visita de Lula a seu país e destacou que Brasil e Indonésia formam uma força dentro do Sul Global e, por isso, a cooperação entre os dois tem valor estratégico e será valorizada e ampliada. Subianto chegou a indicar a intenção de incentivar o ensino da língua portuguesa em seu país para facilitar os fluxos comerciais entre as duas nações.
Encontros
A visita de Lula à Indonésia é a primeira de um chefe de Estado brasileiro ao país desde 2008, ano em que foi estabelecida a Parceria Estratégica Brasil-Indonésia. Entretanto, não marca o primeiro encontro entre os dois líderes. Subianto realizou visita de Estado ao Brasil em 9 de julho deste ano, após ter participado da Cúpula do Brics no Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho. Foi a segunda visita do Presidente Prabowo ao Brasil, após sua participação na Cúpula de Líderes do G20, também na capital fluminense, em novembro de 2024. O comunicado conjunto adotado durante a visita de Estado de Prabowo Subianto ao Brasil traçou diretrizes para o fortalecimento da Parceria Estratégica Brasil–Indonésia, com ênfase em áreas como comércio agrícola, segurança alimentar e nutricional, bioenergia, e desenvolvimento sustentável.
Parceria estratégica
Em 2008, Brasil e Indonésia elevaram a relação ao nível de Parceria Estratégica, a primeira do Brasil no Sudeste Asiático. Os contatos de alto nível têm se intensificado nos últimos anos e, em 2023, o ministro Mauro Vieira (Relações Exteriores) visitou a Indonésia, ocasião em que firmou o Plano de Ação Revitalizado para a Parceria Estratégica (2023-2026). O plano prevê o diálogo e a coordenação sobre temas bilaterais, regionais e multilaterais de interesse comum, incluindo áreas como defesa, comércio, investimentos, turismo e desenvolvimento sustentável.
Relação comercial
A Indonésia é um dos principais parceiros comerciais do Brasil na Ásia. O país é o 16º maior destino das exportações brasileiras e o 5º no setor do agronegócio. Em 2024, os fluxos comerciais entre os dois países atingiram o patamar recorde de US$ 6,3 bilhões, com superávit brasileiro (US$ 2,6 bilhões). Destacam-se as exportações de farelo de soja (US$ 1,66 bilhão; 37% da pauta) e açúcares (US$ 1,65 bilhão; 37%).
Mercosul
Atualmente, o Brasil busca avançar na abertura e acesso do mercado indonésio para produtos agropecuários brasileiros, bem como retomar a aproximação comercial entre Mercosul e Indonésia. As duas nações compartilham amplo potencial de cooperação no campo energético, sustentado por perfis complementares e experiências convergentes em fontes renováveis, especialmente em bioenergia e biocombustíveis.
Estratégia
Lula está na Ásia para uma ampla agenda no Sudeste Asiático até o dia 28 de outubro. Serão dois dias na Indonésia e, depois, o presidente segue para visita oficial à Malásia, no sábado (25/10), onde cumpre uma série de compromissos, entre eles a participação na 47ª Cúpula da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e reuniões correlatas, nos dias 26 a 28 de outubro, em Kuala Lumpur.
BRASIL-Asean – As relações com a ASEAN constituem eixo estruturante da prioridade atribuída pela política externa brasileira ao adensamento das relações com os países do Sudeste Asiático. Do ponto de vista econômico, a corrente comercial do Brasil com os países da ASEAN passou de US$ 3 bilhões em 2002 para US$ 37 bilhões em 2024, um aumento de doze vezes. Em 2024, o bloco foi o quinto maior parceiro comercial do Brasil no mundo, sendo também o quarto maior destino das exportações brasileiras e responsável por 20% de todo o superávit da balança comercial brasileira, com saldo positivo de USD 15,5 bilhões.
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