Ação climática tem que acontecer na cidade, nos bairros, na rua, diz Jader Filho
O ministro das cidades reforçou, em entrevista ao Canal Gov, nesta quinta (13), a importância da população entender os efeitos da crise do clima para fazer parte do enfretamento
"As cidades têm que ser parte da solução", afirmou o ministro das Cidades, Jader Filho, em entrevista ao Canal Gov, nesta quinta-feira (13/11), ao se referir aos efeitos das mudanças climáticas. Para o ministro, as cidades têm papel central no enfrentamento à crise do clima.
Onde é que vai acontecer a mitigação? A exigência vai se dar onde? São nas zonas locais. Então, se a gente tiver a população entendendo e compreendendo a importância disso, nós já teremos um grandíssimo aliado nessa luta e nessa batalha", destacou Jader Filho.
"Outra, nós precisamos também, aqui na COP dar voz aos líderes locais. São eles que vão fazer com que os projetos, com que tudo aquilo que está sendo discutido aqui se torne uma realidade. A mitigação tem que acontecer lá na cidade, lá nos bairros, lá na rua. A adaptação tem que acontecer aonde? Lá na cidade, lá nas ruas", acrescentou.
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Assista a entrevista ou leia a seguir:
Ministro, as cidades, elas são grandes responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa, mas elas também podem ser responsáveis, ajudar a mitigar os danos desse aquecimento global?
Sem dúvida nenhuma, Graziele. As cidades têm que ser parte tanto da solução, como também a parte onde nós vamos conseguir fazer a implementação de tudo aquilo que está sendo discutido hoje aqui na COP. Se nós fizermos uma avaliação onde 80% das emissões partem das cidades, é bem verdade que no Brasil a maior parte das nossas emissões vem do desmatamento, vem das queimadas que o governo brasileiro tem feito o processo de enfrentamento.
Nos primeiros seis meses do governo do presidente Lula, o desmatamento na Amazônia foi reduzido em mais de 46%, mostrando o compromisso que este governo tem com o meio ambiente. Mas quando você imagina que das cidades, por exemplo, as emissões que saem das frotas, dos carros, dos ônibus na nossa cidade, nós precisamos descarbonizar as nossas frotas, nós precisamos fazer com que os ônibus que circulam, que circulam em primeiro, sejam ônibus que tenham qualidade, que tenham ar-condicionado, que tenham Wi-Fi, mas que sejam ônibus elétricos, ônibus que tenham menor emissão e menor agressão assim com o meio ambiente. Por outro lado, nós precisamos, por exemplo, tratar os nossos esgotos, parando de jogar os nossos esgotos nos rios, sem tratá-los e poluindo os nossos rios.
Mas isso a gente precisa de ter investimentos e o Governo Federal tem feito esses investimentos, tanto no programa de refrotas, onde nós destinamos R$ 10,5 bilhões para mudar, para renovar a frota das nossas cidades, para ter ônibus que tenham menor emissão e ao mesmo tempo tenham mais conforto para a nossa sociedade. Outro também são os investimentos que nós temos feito na questão do saneamento, seja em esgotamento sanitário, seja em abastecimento de água rural e urbano, que aí nós somamos cerca de R$ 20 bilhões destinados aos municípios e aos estados do Brasil.
O governo brasileiro tem feito muito esse papel de ajudar, de fazer com que o recurso chegue na ponta, porque como você disse, para que de fato a implementação aconteça, para que a mitigação aconteça, a gente tem que destinar financiamento aos estados e aos municípios.
Agora, sobre as cidades resilientes, a cidade ela nasce resiliente ou ela pode se tornar resiliente?
Ela pode nascer e pode também se tornar resiliente. Primeiro, como é que ela pode nascer? Se a gente respeitar o meio ambiente, não agredindo ele, o que não é o que tem acontecido, a cidade naturalmente é resiliente. O que a gente tem visto? A gente tem visto a ocupação desordenada das nossas encostas, a ocupação desordenada dos córregos, dos igarapés, dos nossos rios.
E aí o que nós temos que fazer? Fazer obras de macrodrenagem exatamente para que os alagamentos não aconteçam, não venham matar seifar vidas e também fazer as obras de contenção de encostas, para que morros não venham deslizar em cima de infraestruturas, em cima de casas, em cima de famílias. Então, já que o homem agrediu tanto o nosso meio ambiente, os nossos biomas, se hoje as nossas cidades não são resilientes, a gente precisa ajudar as nossas cidades para que as pessoas possam viver em segurança. Nós temos grandes centros urbanos, cidades centenárias.
É um desafio tornar essas cidades próprias para essa adaptação climática?
É possível sim. Primeiro, nós precisamos ter investimentos. E esse é um dos grandes temas que a gente está discutindo aqui, Graziele. Como é que as grandes economias do mundo vão financiar os países em desenvolvimento para que a gente, primeiro, a gente lute, a gente faça o processo de prevenção, mas ao mesmo tempo nós precisamos de financiamento para levar uma infraestrutura que seja resiliente, que seja sustentável às nossas cidades.
Como eu disse, com obras de macrodrenagem para evitar os alagamentos e obras de contenção de encosta para a gente evitar os deslizamentos. Uma outra obra muito importante que é feita por parte da questão dos eventos climáticos, que são as secas, que nós temos visto em muitas das regiões do nosso país.
Por exemplo, aqui mesmo na Amazônia, nós tivemos nos anos de 2023 e 2024 em diversas regiões onde rios passavam, se passou de carro. Por quê? Porque não tinha mais água por conta das secas extremas que atingiram essas regiões, coisa que nunca tinha acontecido anteriormente nessas regiões. Então, nós precisamos cuidar, levar, por exemplo, o abastecimento de água rural.
Para quê? Para dar segurança hídrica a essas famílias, porque teve gente que nessas duas secas que tiveram que andar quilômetros, 5, 6 quilômetros para poder pegar um galão de água para poder beber.
Agora o senhor conheceu um projeto em Barca Arena das crianças, um projeto que já tem ali uma nova geração se formando com essa consciência ambiental. Qual a importância de ensinar as crianças desde cedo a ter essa consciência para também a população ter adesão aos projetos de meio ambiente?
Primeiro, que eu acho que é fundamental. Vamos lá. Por quê? Porque se a população, fundamentalmente as crianças que são as futuras gerações, se elas compreenderem a importância de cuidar do nosso meio ambiente, a gente já estará dando um grande avanço nisso, nessa luta em favor do nosso planeta. Por quê? Por uma razão muito simples.
Onde é que acontece? Onde é que vai acontecer a adaptação? Onde é que vai acontecer a mitigação? A exigência vai se dar onde? São nas zonas locais. Então, se a gente tiver a população entendendo e compreendendo a importância disso, nós já teremos um grandíssimo aliado nessa luta e nessa batalha. Outra, nós precisamos também, Graziele, aqui na COP dar voz aos líderes locais.
São eles que vão fazer com que os projetos, com que tudo aquilo que está sendo discutido aqui se torne uma realidade. A mitigação tem que acontecer lá na cidade, lá nos bairros, lá na rua. A adaptação tem que acontecer aonde? Lá na cidade, lá nas ruas.
E quem é que vai fazer esse papel, se não os líderes locais, as comunidades, os prefeitos, os vereadores, os governadores? São eles que sabem o caminho, são eles que têm a informação de quais são as obras que devem ser prioritárias para que a gente alcance e deixe as nossas cidades resilientes, sustentáveis, adaptadas para que se novos eventos climáticos acontecerem, as cidades estejam preparadas para eles.
Certo. E o Ministério das Cidades está trazendo experiências para mostrar para outros países, ações, projetos, para mostrar o que tem sido feito no Brasil?
Primeiro, o PAC, que é o nosso programa de aceleração de crescimento, que é o programa de investimentos do Brasil, é exatamente isso, é para reforçar a liderança local.
Quem apresenta os projetos que são aprovados por nós, quem são? São os prefeitos, são os governadores. Como é que lá de Brasília nós vamos apontar qual é a obra prioritária que deve acontecer, por exemplo, no interior da Paraíba? Quem tem que dizer qual é a obra prioritária de dar no interior da Paraíba, do Pará, do Maranhão, do Amazonas, são as lideranças locais. O que nós precisamos, obviamente, é ajudá-los, ajudá-los tecnicamente, foi por isso que nós lançamos, a partir do Firesse, um investimento para que nós possamos financiar os projetos.
Porque o que a gente tem visto, Graziele, é que além da gente destinar o recurso, a gente conseguir o recurso para fazer a obra, nós precisamos ajudar esses prefeitos a poderem fazer bons projetos. O que a gente tem percebido é que os projetos que têm sido apresentados a nós não têm toda a solidez, não é tecnicamente preparado para que ele possa sair do papel na sua grande maioria. Existem exceções, mas o que a gente quer é que a gente tenha um banco de projetos para que quando os programas de investimento aconteçam, quando a gente receber, estão preparados para que a obra aconteça em uma velocidade mais rápida e, com isso, possa responder aos anseios da sociedade.
E dá também a esses municípios a possibilidade de ir até bancos multilaterais para que consigam investimentos, consigam financiamentos para fazer essas obras que são importantes para que a gente possa cuidar do nosso meio ambiente, para que a gente possa tornar nossas cidades mais adaptadas, para que elas sejam resilientes aos eventos climáticos extremos.
E o senhor acha que um evento como a COP, no caso a COP 30, aqui no Brasil, vai atrair a atenção da população para essas questões climáticas?
Sem dúvida nenhuma, eu acho que toda essa cobertura que a imprensa tem feito, que vocês têm feito, explicando de maneira didática a importância de nós cuidarmos do nosso meio ambiente. Por outra mão, por exemplo, nós estamos fazendo dentro do Ministério da Cidade, nós estamos dando 200 planos de redução municipal, de redução de risco aos municípios para que eles possam, além de saber quais são as obras prioritárias que têm que acontecer naquele município, também chamar a comunidade para que ela possa compreender a importância disso.
E as cenas do que a gente tem visto, Grazele, o que a gente viu agora no Paraná, o que a gente viu no ano passado no Rio Grande do Sul, se nós não tivermos preparados, a ciência aponta isso, novos eventos vão acontecer. Para isso, a gente precisa ter a comunidade perto da gente, a gente precisa ouvir mais os líderes locais e ter financiamento para que nós possamos fazer as obras necessárias para que se eventos aconteçam como aqueles que aconteceram no Paraná, que aconteceram no Rio Grande do Sul, elas estejam preparadas. Mas também a gente precisa ajudar o nosso meio ambiente.
Todos esses eventos, Grazele, e a força que eles têm acontecido se dão por quê? Fundamentalmente pelo aquecimento global, pela agressão que o homem está fazendo ao meio ambiente.
Ministro, em relação ao Minha Casa Minha Vida, existem projetos para tornar esses residenciais também mais sustentáveis?
Sem dúvida. Quando nós fazemos as obras do Minha Casa Minha Vida, inclusive ontem nós assinamos um acordo com a Caixa Econômica Federal, com o setor privado, que está na busca pela emissão zero dentro do Minha Casa Minha Vida.
Com ações concretas de reúso de água, com ações concretas para que a gente tenha uma construção, que seja uma edificação que seja mais limpa. O uso de uma energia, a partir das placas solares, a gente usa uma energia limpa também, apesar de que a nossa matriz energética é uma das mais limpas do planeta. O Brasil é campeão quando se fala na nossa matriz energética.
E ações como, por exemplo, deixar as casas com varanda mais ventiladas. Exatamente para quê? Para que a gente possa ter um conforto térmico nessas casas e, com isso, a gente reduzir as emissões para não ter necessidade de estar usando, por exemplo, ar-condicionado e outros meios. Então é disso que a gente tem discutido com o setor privado para que a gente possa ajudar, a partir do Minha Casa Minha Vida, ajudar ainda mais o nosso meio ambiente.
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