COP30

Cultivo sustentável de ostras no Pará é modelo de união entre comunidade ativa e Estado presente

Comunidade organizada em associação, bioma protegido por Reserva Extrativista e soma de conhecimentos ancestrais com pesquisa científica: reportagem do Canal Gov confere um exemplo de sucesso de atividade sustentável

Paulo Donizetti de Souza | Agência Gov
17/11/2025 14:00
Cultivo sustentável de ostras no Pará é modelo de união entre comunidade ativa e Estado presente
Fotos: Paulo D Souza/Agência Gov
Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá é uma das 344 Unidades de Conservação mantidas pelo ICMBio, 134 delas na Amazônia

A Vila Lauro Sodré, no município de Curuçá (PA), tornou-se um modelo bem acabado de economia e vida sustentáveis graças à permanência de comunidades originárias em seu local de origem. Ali, uma eficiente tecnologia social empregada na cultura de ostras mudou a realidade do local, no nordeste do estado do Pará, onde vivem cerca de mil pessoas.

A técnica ampliou a capacidade do cultivo de “sementes” de ostras, com baixíssima perda. Assegura um aproveitamento de mais de 90% da produção para o comércio, ante 50% pelos métodos convencionalmente utilizados. Consiste da montagem de coletores feitos de garrafas pet meticulosamente acondicionados na água, à beira do estuário – ambiente fértil para a biodiversidade que une águas doces e marinhas e mangue.

O método foi trazido pelo biotecnólogo cubano Leonardo Zayas no início deste século – a pedido do Sebrae. E transformou a vida da comunidade. “Se não fosse esse aprendizado, praticado desde o início dos anos 2000, e a nossa organização, isso aqui já tinha acabado”, diz o ostreicultor José da Silva Galvão, vice-presidente da Associação de Aquicultores de Vila Lauro Sodré.

Unidade de conservação

Além da união dos moradores para o manejo da riqueza natural local, a vila conta com a proteção da Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá. A Resex é uma das 344 Unidades de Conservação gerenciada pelo ICMBio em todo o Brasil – 134 delas em território amazônico. O Instituto Chico Mendes de Conservação de Conservação da Biodiversidade, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima foi criado em 2007 justamente com essa finalidade: gerir e proteger as unidades de conservação e promover o uso sustentável dos recursos naturais renováveis pelas comunidades tradicionais.

A reportagem do Canal Gov visitou a região. E constatou na prática o sucesso da união entre a sabedoria ancestral e a pesquisa científica. Na Resex, os moradores recebem qualificação para a gestão de seu empreendimento. E treinamento para proteger seu cultivo dos vários tipos de predadores: os naturais, como os caramujos presentes no bioma que perfuram e se alimentam de ostras; criminosos ambientais (como desmatadores); e os piratas, que tentam se apropriar dos frutos do trabalho alheio.

O oceanógrafo Renan Peixoto, pesquisador da Universidade Federal do Pará, conta que, com a ajuda de inteligência artificial, uma ferramenta chamada Iasmin, o esforço da preservação alcança também o objetivo da adaptação climática. “Com eventos cada vez mais frequentes decorrentes ora do El Niño (que prolonga períodos de seca), ora de La Ninã (mais chuvas), é preciso ampliar as capacidade da comunidade de se antecipar a surpresas”, afirma. A ferramenta estuda os níveis de salinização da água e as condições climáticas para ajudar os aquicultores com o tempo e o local de instalação dos coletores.

A reportagem de Graziele Bezerra teve a companhia do repórter cinematográfico José Carlos Golçalves, o técnico de som Bosco Leocádio e deste editor da Agência Gov. Foram ouvidos de moradores das comunidades a autoridades do ICMBio – responsáveis pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Sociobiodiversidade Associada a Povos e Comunidades Tradicionais (CNPT) e pela criação do Sítio Ramsar dos Manguezais Amazônicos. Além da organização não governamental internacional Rare, também dedicada à aprimorar o conhecimento das comunidades para a adaptação climática e as práticas sustentáveis.


Confira a reportagem do Canal Gov

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Milene Bentes do Nascimento, 37 anos, é associada da Aquavila Lauro Sodré. Faz adereços artesanais e chaveiros com cascos de ostras. "Nada se perde", diz. A família planta hortaliças e investe no açaí. A plantação "novinha" em breve deve render frutos para o comércio. As filhas Nayra, 8, e Camila, 19, querem estudar Medicina Veterinária. Nayra ainda está no ensino fundamental, mas garante que já fez a escolha. Camila já está mais próxima do sonho, e muito confiante depois de fazer a prova do Enem no último domingo.

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Reprodução Google Maps


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