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'Estamos propondo é um fundo onde remunera por floresta em pé', diz Garo Batmanian

O diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e coordenador do Fundo Florestas Tropicais para Sempre detalhou a iniciativa em entrevista à Voz do Brasil desta sexta-feira (7)

Agência Gov
07/11/2025 19:39
'Estamos propondo é um fundo onde remunera por floresta em pé', diz Garo Batmanian
Fundação Amazônia Sustentável/Divulgação

O presidente Lula lançou oficialmente o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês), durante a Cúpula do Clima, em Belém (PA). Durante o almoço oferecido pelo governo brasileiro, o presidente convidou outras nações a apoiarem a iniciativa, que visa a fortalecer a manutenção das florestas em pé, demonstrando que sua proteção vale mais que a derrubada. 

O que nós estamos propondo é um fundo onde remunera por floresta em pé, por hectare de floresta. Então, mesmo quando o desmatamento acabar, ele vai ser remunerado. E ainda tem mais, se restaurar, aumenta a área de floresta, portanto aumenta a arrecadação que o país vai receber. Essa é uma das grandes diferenças", destacou o diretor-geral do Serviço Florestal Brasileiro (SFB) e coordenador do TFFF, Garo Batmanian, em entrevista à Voz do Brasil desta sexta-feira (7/11).

Ao todo, 53 países assinaram sua Declaração de Lançamento, um marco significativo para o fundo, que inaugura uma nova era de colaboração global entre investimentos públicos e privados, impulsionando estratégias permanentes de conservação e fortalecendo parcerias em todo o mundo para proteger os ecossistemas tropicais mais críticos.


Leia a entrevista completa:

Então, eu queria que o senhor começasse explicando para a gente o que esse fundo tem de diferente de outros que eram baseados em doações dos governos, que a gente já sabe que esse tem um formato diferente. Que formato é esse e por que ele é melhor do que esse outro formato que era baseado nas doações dos governos? 

Em primeiro lugar, uma primeira grande diferença é que ele é um fundo global. Existem mais de 70 países que têm floresta tropical.

Não dá para fazer o equivalente ao fundo da Amazônia 70 vezes, país por país. Então, o Brasil, embora tenha um terço das florestas tropicais do mundo, resolveu liderar um processo de desenvolver um fundo global que atende todas as florestas do mundo porque isso é importante para a humanidade, para o planeta. Então, essa já é uma diferença dos outros fundos que normalmente são país a país ou estado a estado, ou região a região.

O que nós olhamos, vendo o cenário dos fundos que já existem, existem dois grandes desafios. Um desafio é que os fundos não pensam na floresta em pé, eles pensam em você reduzir o desmatamento. Muito bem, ótimo.

Tem que fazer. Nós temos o fundo da Amazônia, um dos pioneiros do mundo, funciona muito bem, mas o que acontece quando o Brasil chegar no desmatamento zero? Ou o país que não teve nenhum desmatamento? Tem muitos países que não teve muito desmatamento. No dia seguinte, continua precisando investir em floresta. Precisa continuar investindo em conservação, senão o desmatamento volta. 

A melhor forma de prevenir o desmatamento, na verdade, é investir na floresta em pé.

Exatamente. O que nós estamos propondo é um fundo onde remunera por floresta em pé, por hectare de floresta. Esse é o nosso indicador. Não é pelo desmatamento evitado, é por hectare de floresta. Então, mesmo quando o desmatamento acabar, ele vai ser remunerado.

E ainda tem mais, se restaurar, aumenta a área de floresta, portanto aumenta a arrecadação que o país vai receber. Essa é uma das grandes diferenças. 

Agora, o fundo tem uma proposta também diferente, porque os países são investidores desse fundo, eles não são doadores. Ou seja, o dinheiro não está ali a fundo perdido, como se diz. 

Esse é o segundo aspecto de inovação grande do TFFF. Hoje em dia, todos dependem só de recursos de doação.

Onde está boa parte do recurso do mundo e a gente fica pedindo para botar mais dinheiro? No setor privado. Então, nós estamos criando um fundo de investimento, onde os países, como o Brasil, que vai botar um bilhão, a Indonésia, que vai botar um bilhão, a Noruega, que vai botar três bilhões, a França, que vai botar quase 600 milhões de dólares, tudo em dólar, ele serve para alavancar quatro vezes mais do setor privado. Então, só esses cinco e meio já permitem a gente alavancar mais, fazer um fundo de 22 bilhões.

Então, existe também, que não é mais a doação, ela é só aquele valor que eles dão. Doação tem que ser aprovada todo ano no Congresso, nos congressos dos países. Tem que botar no orçamento.

As demandas mundiais por doações vêm crescendo. É covid, é epidemia, é fome. Se fizer um investimento, uma vez o fundo totalmente capitalizado, você vai simplesmente receber uns juros, como qualquer fundo.

Ele se retroalimenta, né? 

Ele se retroalimenta, tem os fundos. Então, quando ele estiver totalmente capitalizado, ao longo dos anos, nós vamos poder gerar cerca de 4 bilhões de dólares ao ano. E esse é o valor que nós vamos ter para pagar um preço fixo por hectare dos países que desempenhem segundo as metas do TFFF, porque não é para todos os países.

É para todos os países que têm floresta tropical, mas que atingiram os critérios de desempenho. Então, você tem que ter um desmatamento abaixo da média mundial para poder receber os recursos do TFFF. 

O TFFF é, também, esse novo formato, uma forma de fazer os países se empenharem mais no financiamento da transição ecológica, da transição climática. Porque eu me lembro que vinha havendo muita reclamação, o próprio presidente Lula foi um porta-voz disso, mas que esse financiamento não acontecia e que ele precisava acontecer para os países pobres. Ele é uma proposta inovadora para tentar trazer esse financiamento? 

Ele é uma proposta para complementar uma fonte, que é uma fonte de receita que não tinha sido pensada, porque ficava sempre discutindo doações, mas os recursos de doações são limitados e ele serve para muitas coisas, não só para o clima, não está crescendo muito. Agora, investimentos são contabilizados diferentes, tanto que o Brasil está fazendo um investimento de um bi.

Se fosse doação, provavelmente não poderia fazer, mas é um investimento. O Brasil vai receber de volta o valor investido com o pagamento de uma taxa contratada. Então, isso no orçamento aparece de uma forma diferente, é contabilizado diferente e, portanto, não compete com as doações.

O que a gente precisa é aumentar a quantidade de recursos que vêm apoiar a floresta, transição energética. Então, nós estamos buscando uma forma de atingir uma fonte, que é o setor privado, via os investimentos, que hoje em dia não estão sendo utilizadas e fica só dependente de doação. Então, ela soma-se às iniciativas que já têm doação, ela não substitui as iniciativas que vivem de doação, aumenta o tamanho do bolo disponível para investir em florestas.

 

 


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