Social e Políticas Públicas

Políticas públicas retiram 10,5 milhões da pobreza e da extrema pobreza em dois anos

Pesquisa do IBGE divulgada nesta quarta (3/12) consolida números que o Governo do Brasil já estimava. Sem as políticas sociais, população em situação de pobreza e extrema pobreza teria aumentado. O caminho é longo: Brasil ainda é o segundo país mais desigual em termos de distribuição de renda

Agência Gov | via IBGE
03/12/2025 14:25
Políticas públicas retiram 10,5 milhões da pobreza e da extrema pobreza em dois anos
André Oliveira / MDS
Conjunto de políticas públicas, geridas de forma integrada pelos órgãos do Governo do Brasil, enfrentam vulnerabilidade
  • Destaques

  • Entre 2023 e 2024, a proporção da população do país na pobreza (linha US$ 6,85 PPC ou R$ 694 por mês) recuou de 27,3% em 2023 para 23,1%. Foi uma redução de 4,2 pontos percentuais ou menos 8,6 milhões de pessoas na pobreza. Já a proporção de pessoas na extrema pobreza (linha US$ 2,15 PPC ou R$ 218 por mês) recuou de 4,4% para 3,5%, uma redução de 0,9 ponto percentual, ou menos 1,9 milhão de pessoas nessa situação.
  • Sem os benefícios de programas sociais, a proporção de pessoas na extrema pobreza subiria de 3,5% para 10,0% da população, enquanto a proporção da pobreza aumentaria de 23,1% para 28,7% em 2024.
  • Cerca de 25,8% das pessoas de cor ou raça preta e 29,8% das pessoas pardas eram pobres, enquanto entre a população branca essa proporção era de 15,1%.
  • Se a população idosa (60 anos ou mais de idade), que recebem aposentadorias e pensões, não tivesse acesso a esses benefícios previdenciários, a extrema pobreza nesse grupo passaria de 1,9% para 35,2% e a pobreza, de 8,3% para 52,2%.
  • Em 2022, no Brasil, o rendimento dos 20% da população melhor remunerada era cerca de 11 vezes o dos 20% com os menores rendimentos. Entre quarenta países selecionados pela OCDE, o Brasil tem a segunda maior desigualdade nesta comparação, ficando atrás apenas da Costa Rica (12,3 vezes).
  • Na população ocupada do país, a proporção de pobres foi de 11,9%. Entre os desocupados, a pobreza atingia 47,6%. Além disso, menos de 0,6% das pessoas ocupadas foram consideradas extremamente pobres, enquanto entre os desocupados a extrema pobreza chegou a 13,7%.
  • Em 2024, a pobreza foi maior entre os trabalhadores sem carteira assinada (20,4%) e por conta própria (16,0%), e menor para os trabalhadores com carteira assinada (6,7%).
  • A pobreza foi superior entre os trabalhadores da agropecuária (29,3%) e dos serviços domésticos (22,9%) e inferior no setor de administração pública, saúde e serviços sociais (4,6%).
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Entre 2023 e 2024, considerando-se os parâmetros propostos pelo Banco Mundial, a população do país em situação de pobreza (com rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 6,85 PPC por dia, ou R$ 694 por mês) recuou de 27,3% para 23,1%, uma redução de 8,6 milhões de pessoas. Foi a terceira queda consecutiva deste indicador, que vem diminuindo, anualmente, desde 2022, após atingir seu percentual mais alto em 2021 (36,8%), na pandemia de Covid-19.

A proporção de pessoas na extrema pobreza (rendimento domiciliar per capita inferior a US$ 2,15 PPC por dia, ou R$ 218 por mês) recuou de 4,4% em 2023 para 3,5% em 2024, uma redução de 1,9 milhões de pessoas extremamente pobres. São dados do capítulo da Síntese dos Indicadores Sociais sobre Padrão de Vida e Distribuição de Rendimentos. 

Os dados do IBGE somam-se à pesquisa recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que na semana passada apontou queda histórica nos índices de desigualdade social no Brasil nos últimos anos.

Ano Pessoas na extrema pobreza (US$ 2,15 PPC) Pessoas na pobreza (US$ 6,85 PPC)
(%) (mil pessoas) (%) (mil pessoas)
2012 6,6 12.985 34,7 68.390
2013 5,8 11.597 32,5 64.469
2014 5,2 10.380 30,9 61.771
2015 5,6 11.384 31,7 63.963
2016 6,7 13.697 33,7 68.545
2017 7,3 14.937 33,7 69.085
2018 7,4 15.178 33,4 68.812
2019 7,4 15.276 32,6 67.540
2020 6,1 12.613 31,1 64.737
2021 9,0 18.886 36,8 76.977
2022 5,9 12.329 31,6 66.494
2023 4,4 9.282 27,3 57.572
2024 3,5 7.354 23,1 48.948

 

Extrema pobreza seria quase três vezes maior sem programas sociais

Na hipótese de não existirem os benefícios de programas sociais, a extrema pobreza teria sido 6,5 pontos percentuais (p.p.) maior: de 3,5% para 10,0% de pessoas extremamente pobres na população do país. A ausência dos programas sociais governamentais também elevaria a proporção de pessoas pobres na população de 23,1% para 28,7%.

Leia também:
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Em 2024, a manutenção dos valores pagos pelo programa Bolsa Família em patamar superior ao período pré-pandemia de COVID-19 colaborou para a continuidade da redução da pobreza e da extrema pobreza. Além dos programas sociais, o maior dinamismo do mercado de trabalho também contribuiu para essa tendência, especialmente na redução da pobreza, mais impactada pela renda do trabalho, já que os rendimentos dos extremamente pobres têm maior participação de benefícios de programas sociais.

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Regionalmente, o Nordeste teve a maior redução anual na proporção de pobres em sua população (linha de US$ 6,85 por dia): de 47,2% em 2023 para 39,4% em 2024, uma queda de 7,8 pontos percentuais. A proporção de pobres na Região Sul foi a menor do país em 2024: 11,2%.

Pretos, pardos e mulheres têm as maiores proporções de pessoas na pobreza

Proporcionalmente, a pobreza atinge mais às mulheres (24,0%) do que aos homens (22,2%). As taxas de pobreza e extrema pobreza chegaram, respectivamente, a 4,5% e 30,4%, entre as mulheres pretas ou pardas, enquanto entre os homens brancos os percentuais foram de 2,2% e 14,7%.

As pessoas pretas e pardas, juntas, representavam 56,8% do total da população e 71,3% dos pobres do país. Entre as pessoas pretas, 25,8% eram pobres e, entre as pessoas pardas, 29,8% estavam nessa condição, enquanto a prevalência da pobreza entre as pessoas brancas era de 15,1%. Cerca de 3,9% das pessoas de cor ou raça preta e 4,5% das pardas eram extremamente pobres em 2024 (contra 2,2% entre brancos).

Metade dos aposentados e pensionistas idosos estariam na pobreza sem a Previdência Social

Entre as crianças e adolescentes de 0 a 14 anos de idade, 5,6% eram extremamente pobres e 39,7% eram pobres, proporções superiores às da população com 60 anos ou mais de idade:1,9% e 8,3%, respectivamente.

A menor taxa de pobreza entre a população idosa beneficiária da previdência social está relacionada, principalmente, ao recebimento de aposentadorias e pensões, cujos valores são periodicamente corrigidos pelo salário mínimo. Na hipótese da não existência desses benefícios previdenciários, a extrema pobreza (US$ 2,15) nesse grupo etário passaria de 1,9% para 35,2% e a pobreza (US$ 6,85) passaria de 8,3% para 52,2%.

Em 2024, o índice de Gini do rendimento domiciliar per capita para o Brasil seria 7,5% maior sem os benefícios de programas sociais, passando de 0,504 para 0,542. Os impactos da ausência de benefícios seriam maiores no Norte e no Nordeste, com o Gini crescendo, respectivamente, 14,2% e 16,4%, e passando de 0,488 para 0,557 no Norte e de 0,499 para 0,582 no Nordeste. No Sudeste e no Sul, a ausência dos programas sociais teria menos impacto, chegando, respectivamente, a 3,7% e 4,7%, com o Gini passando de 0,490 para 0,513, no Sudeste, e de 0,457 para 0,474, no Sul.

O índice de Gini é um dos principais indicadores da desigualdade na distribuição de rendimentos. Este índice varia de 0 a 1, sendo 0 a situação de perfeita igualdade e 1, de perfeita desigualdade, onde todo o rendimento estaria concentrado em uma única pessoa.

Brasil é o segundo país com maior desigualdade de renda

Em 2022, no Brasil, o rendimento dos 20% da população com os maiores rendimentos era cerca de 11 vezes o rendimento dos 20% com os menores rendimentos. Entre os quarenta países selecionados pela OCDE para esta comparação, o Brasil tem a segunda maior desigualdade de rendimento, ficando atrás apenas da Costa Rica (12,3 vezes) e superando Chile (10,1 vezes) e México (7,8 vezes), além de Portugal e Espanha (5,5 vezes, ambos), Itália (5,4 vezes) França (4,5 vezes) e Suécia (4,3 vezes), mais próximos da média da OCDE (5,3 vezes).

Brasil tem a maior proporção de trabalhadores pobres na comparação da OCDE

A Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) considera pobres aqueles trabalhadores que vivem em domicílios cujo responsável está em idade de trabalhar e onde há pelo menos um membro ocupado, estando a renda domiciliar per capita deste domicílio abaixo de uma linha específica de pobreza (50% da mediana da renda).

Dos 40 países analisados, o Brasil apresentou a maior proporção de trabalhadores pobres (16,7%), seguido por Costa Rica (15,1%) e México (14,2%). Países como Estados Unidos (12,4%), Chile (12,9%), Espanha (11,5%), Japão (10,4%), Itália (9,3%) e Canadá (9,6%) também apresentaram proporção superior à média da OCDE (8,2%). Por outro lado, República Checa (3,6%), Bélgica (4,0%) e Irlanda (4,4%), apareceram com as menores proporções de trabalhadores pobres.

País tem 12 milhões de trabalhadores na pobreza

A metodologia do Banco Mundial considera como trabalhadores extremamente pobres e pobres aquelas pessoas ocupadas, mas que vivem em domicílios com rendimento domiciliar per capita abaixo das medidas monetárias de, respectivamente, US$ 2,15 e US$ 6,85 PPC de 2017.

A proporção de pessoas ocupadas que estavam na pobreza foi de 11,9% (ou 12,0 milhões), enquanto 47,6% (ou 3,4 milhões) dos desocupados e 27,8% (ou 17,9 milhões) daqueles fora da força de trabalho estavam nessa condição. Cerca de 0,6% (ou 585 mil) das pessoas ocupadas foram consideradas extremamente pobres em 2024, enquanto entre os desocupados a proporção chegou a 13,7% (ou 987,2 mil) e a 5,6% (ou 3,590 milhões) entre aqueles fora da força de trabalho.

Agropecuária e Serviços domésticos têm as maiores proporções de trabalhadores pobres

Entre a população ocupada, a baixa proporção de extremamente pobres (US$ 2,15) não permite que se faça uma diferenciação clara entre os grupos tratados, o que é possível fazer no caso da pobreza (US$ 6,85). As informações mais desagregadas mostram que o Norte e o Nordeste do país tinham as maiores proporções de trabalhadores pobres, abrangendo, respectivamente, 22,2% e 24,0% da sua população ocupada, em 2024. Em seguida, vinham Sudeste (7,4%), Centro Oeste (6,9%) e Sul (5,0%), as três últimas regiões com proporções abaixo do da média nacional (11,9%).

Em 2024, a pobreza foi maior entre os trabalhadores sem carteira de trabalho assinada (20,4%) e por conta própria (16,0%), e menor entre os trabalhadores com carteira assinada (6,7%). Da mesma forma, a pobreza foi mais intensa entre os trabalhadores na agropecuária (29,3%) e nos serviços domésticos (22,9%) e menos intensa na administração pública, saúde e serviços sociais (4,6%).

Mais sobre a pesquisa

A Síntese de Indicadores Sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira 2025 tem como objetivos sistematizar e apresentar um conjunto de informações relacionadas à realidade social do país, a partir de temas estruturais de grande relevância. Nesta edição, os temas estão organizados em três eixos fundamentais e complementares: Estrutura econômica e mercado de trabalho; Padrão de vida e distribuição de rendimentos; e Educação. Adicionalmente, nesta edição, são abordados grupos ocupacionais, perfil das pessoas idosas no mercado de trabalho e um estudo sobre trabalhadores pobres também conhecidos como Working-Poor .


 
Link: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/45344-8-6-milhoes-de-pessoas-sairam-da-pobreza-entre-2023-e-2024
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