Ciências

Começa a chuva de meteoros mais intensa do ano, a Geminidas

As Geminidas fazem referência à constelação de Gêmeos. O parceiro do Observatório Nacional, doutor Gabriel Hickel, faz um guia completo para observar no programa “O Céu em Sua Casa"

Agência Gov | Via ON
11/12/2025 14:46
Começa a chuva de meteoros mais intensa do ano, a Geminidas
Divulgação

As Geminidas fazem referência à constelação de Gêmeos, e protagonizam a mais intensa chuva de meteoros no Brasil no ano todo, estando parcialmente visível em todo o País. A temporada de 2025 começa nesta quinta-feira (11/12), e estará em cartaz nos céus do Brasil até terça-feira (16/12).

O auge será na noite de sábado para domingo.

Esses e outros detalhes estão no guia de observação que o Doutor Gabriel Hickel, professor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI), elaborou a pedido do Observatório Nacional (ON), do qual é parceiro no programa “O Céu em Sua Casa”.

Antes de tudo, o ON explica que adota “as Geminidas” porque estrelas cadentes são o termo popular para “meteoros”. Quanto à grafia, o Dr. Gabriel complementa: “Há também quem prefira  “geminídeos”, porque o aportuguesamento do latim permite as duas formas (“idas” e “ídeos”) . No fundo, todos estão certos”.

Quando observar a chuva de meteoros Geminidas

“O melhor horário para observar a Geminidas será entre 22h e o alvorecer. Será preciso estar atento para evitar a Lua, pois o brilho atrapalha a observação dos meteoros menos brilhantes, justamente os mais numerosos”, explicou o professor Gabriel. Todos os horários aqui mencionados são de Brasília.

Assim, apesar de as Geminidas apresentarem um percentual de 30% de meteoros brilhantes, a Lua, que passará de minguante para nova, atrapalhará a observação dos mais fracos, sobretudo na segunda metade da noite.

Por isso, é recomendado observar as Geminidas entre 22:30 e meia-noite, nas noites iniciadas nos dias 11, 12 e 13 de dezembro, pois a Lua ainda estará abaixo ou próxima ao horizonte. Nas noites de 14 e 15, o melhor horário é entre 22:20 e 02:00.


Tabela 1 – Melhores noites e horários para a observação dos Geminidas

Noite

Nascer da Lua

Fase da Lua

Melhor horário

Intensidade de Meteoros

11 → 12/Dez

00:15

46 %

22:00 – 00:00

18 %

12 → 13/Dez

00:50

37 %

22:00 – 00:35

65 %

13 → 14/Dez

01:15

28 %

21:50 – 01:00

99 %

14 → 15/Dez

01:50

19 %

21:50 – 01:35

81 %

15 → 16/Dez

02:25

12 %

21:50 – 02:10

35 %

* Relativo ao pico esperado para sua região, ver na Tabela 2.

O pico da chuva está previsto para ocorrer na noite de 13 para 14 de dezembro, centrado no horário das 05:00 do dia 14. Neste ano, quem terá a melhor visão, no mundo será a parte leste da América do Norte e Caribe. Entretanto, o pico máximo desta chuva é bastante largo, com quase 12h de duração, de modo que valerá a pena acompanhar, pelo menos, nas noites anterior e posterior.

Já a tabela abaixo mostra a previsão do número de meteoros visíveis, por hora, na noite do máximo das Geminidas, em condições ideais (sem nuvem, longe de cidades e sem Lua no céu), para os estados brasileiros e Distrito Federal. A margem de erro é de 15% para mais ou para menos.


Tabela 2 – Previsão Numérica de Meteoros Visíveis para a chuva Geminidas

Unidade da Federação

Número de Meteoros Previstos*

AP e RR

86

AM, PA, MA, CE e RN

75

PI, PB e PE

72

AC, RO, TO, AL e SE

67

MT, GO, DF e BA

62

MS, MG e ES

51

SP e RJ

46

PR

43

SC

40

RS

35

* em condições ideais de observação: longe de cidades, céu aberto (sem nuvens) e sem Lua acima do horizonte. A margem de erro é de 15% para mais ou para menos.

Como observar

Para ver a “chuva” de meteoros, não é preciso ter equipamentos. “No entanto, o céu deve estar sem nuvens, o que não é muito fácil nesta época do ano, no Brasil”, alerta o professor Gabriel.

Não há região específica do céu a olhar, mas o observador terá um melhor aproveitamento se ficar com o olhar fixo nas populares Três Marias, deixando a visão periférica dos olhos trabalhar.

O ideal é procurar um lugar o mais escuro possível, longe da poluição luminosa das grandes cidades, com o horizonte livre (sem edificações, árvores ou morros próximos) e deitar-se em uma cadeira de praia, de modo a ver o máximo de céu possível.

É preciso evitar a incidência direta da luz da Lua nos olhos, pois ofusca a visão. Não é proibitivo observar com a Lua acima do horizonte, mas, neste caso, deve-se tirá-la do campo de visão, ou virando-se para o lado oposto, ou cobrindo-a com um anteparo.

Por fim, o Doutor Gabriel sugere:

  • tenha paciência;

  • aguarde 15 minutos para os olhos se acostumarem com a escuridão;

  • observe por pelo menos uma hora para ver um número razoável de meteoros;

  • não espere um show pirotécnico.

Como se forma a chuva das Geminidas

De modo geral, as “chuvas” de meteoros são provocadas por fragmentos de cometas que ficam ao longo de suas órbitas, quando estes são aquecidos ao passarem próximos do Sol, volatizando e perdendo material. Assim, quando a Terra cruza essa esteira de fragmentos, um grande número deles entra ao mesmo tempo em nossa atmosfera, parecendo vir de um mesmo ponto do céu, o chamado “radiante”. No entanto, este não é exatamente o caso dos meteoros Geminidas. Eles são partículas (grãos de poeira e pequenas pedrinhas) que advém de um “asteroide”, o chamado 3200 Faetonte, que, misteriosamente, deixa uma esteira de material ao longo de sua órbita. Diferentemente dos cometas, asteroides são formados principalmente de rochas silicatadas, com variações de conteúdos metálicos e de compostos com carbono, a depender do seu tipo.

Asteroides não costumam perder material ou provocar esteiras de fragmentos. Contudo, estudos da última década indicam que o asteroide 3200 Faetonte é provavelmente um núcleo rochoso (~6 km de diâmetro) de um antigo cometa que já perdeu quase todo o seu conteúdo de gelos. Ejeções de matéria e caudas de poeira, emergindo dele, foram flagradas pelas sondas STEREO, quando o asteroide estava em seu periélio.

O 3200 Faetonte é do grupo de asteroides Apolo, que cruza a órbita da Terra, correndo risco de impacto futuro (nada, porém, no próximo milênio). O pequeno meteoro de Chelyabinsk, que causou tanto estrago na Rússia, em 2013, era deste grupo, o que faz da “chuva” das Geminidas, uma das mais “perigosas”. Muitos meteoros de brilho extremo são relatados pelo mundo, na época das Geminidas.

Em meados de dezembro, a Terra sempre cruza a esteira de fragmentos de 3200 Faetonte, provocando de 100 a 1000 meteoros por hora para quem está na latitude +33 graus e voltado para o radiante (ponto do céu de onde os meteoros parecem vir). As partículas da “chuva” das Geminidas entram na atmosfera com velocidades da ordem de 35 km/s, consideradas medianas, se comparadas com outras “chuvas” de meteoros; mas grandes o suficiente para provocar uma esteira de ionização (o que de fato vemos no céu), com desintegração.

O radiante das Geminidas encontra-se na constelação de Gêmeos, relativamente próximo da estrela Pollux, que faz um par no céu com a estrela Castor. Este ano, o planeta Júpiter, astro de brilho significativo, será visto não muito longe dessa posição no céu, o que ajudará os observadores menos experientes a notarem que os meteoros vão parecer vir daquele ponto.

Os meteoros Geminidas são relativamente lentos e de duração considerada “longa” (pouco maior que 1 segundo), com a maioria de brilho fraco a modesto. Os mais brilhantes apresentam o fenômeno de persistência da esteira de ionização (o material desintegrado forma uma “nuvem filamentar”, que dura alguns segundos), sobretudo no Hemisfério Sul, que vê um bom número de meteoros rasantes à atmosfera terrestre. Alguns ainda mais brilhantes e raros podem literalmente dividir-se em partes menores, produzindo lindos espetáculos. Em termos de coloração dos mais brilhantes, predomina um amarelo intenso, mas colorações verde e laranja também são relatadas.

Origem do termo “chuva de meteoros”

O termo “chuva de meteoros” passou a ser utilizado desde a famosa noite de 12 de novembro de 1833, em que os Leonidas, intensificação de meteoros que ocorre na direção da constelação do Leão, mostraram uma atividade incomum de quase mil meteoros por minuto nos céus da América do Norte. Isso chamou a atenção da população e de cientistas da época. As Geminidas não serão tão intensas quanto aquele fenômeno raro que ocorreu em 1833, mas também merecem ser acompanhadas.

Link: https://www.gov.br/observatorio/pt-br/assuntos/noticias/comeca-a-chuva-de-meteoros-mais-intensa-do-ano-a-geminidas
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