Marion Nestle fala com o Governo sobre alimentação saudável e o poder das múltis
A conversa com a professora e autora de livros sobre o poder das multinacionais na definição do que as populações comem trouxe importantes contribuições para a realidade brasileira, que avança na promoção da alimentação saudável
O Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) recebeu a presença ilustre da professora emérita de Nutrição, Estudos Alimentares e Saúde Pública da Universidade de Nova York (New York University) e doutora em Biologia Molecular pela Universidade da Califórnia, Marion Nestle, na última sexta-feira (28.11).
A pesquisadora, conhecida autora de importante obras sobre o tema, entre elas, “Uma verdade indigesta: como a indústria alimentícia manipula a ciência do que comemos”, publicado pela Editora Elefante, esteve no centro de uma roda de conversa cujo tema principal foi o desafio dos ultraprocessados frente ao papel dos governos em garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada.
Ao lado da pesquisadora, estiveram a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, Lilian Rahal, a presidenta do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), Elizabetta Recine e, como mediadora, Paula Johns, diretora geral da ACT Promoção da Saúde.
Em sua fala de abertura, Marion apresentou o cenário atual e, segundo ela, demasiado preocupante dos Estados Unidos relacionado ao tema da alimentação, onde as grandes corporações ligadas à indústria de ultraprocessados tem investido no loob para barrar decisões de governo que venham interferir nesse mercado.
As corporações só estão fazendo o trabalho delas, que é vender seu produto – os ultraprocessados – e garantir um lucro cada vez maior para seus acionistas. Cabe a nós, como sociedade trabalhar para que as políticas públicas deem conta de educar cada vez mais as pessoas sobre os riscos reais do consumo desse tipo de produto", disse a professora.
Ela Fez uma análise crítica do papel da indústria alimentícia e do marketing nas escolhas alimentares, com foco especial nos conflitos de interesse que influenciam pesquisas científicas e políticas de saúde.
Marion coloca o alimento e a alimentação como questões políticas que demandam decisões de gestores e precisam ser enfrentadas com políticas públicas que ajam diretamente sobre a causa dos problemas, ou seja, o ambiente alimentar e os sistemas alimentares. A pesquisadora, que está no Brasil há alguns dias, destacou a experiência que conheceu em Manaus (AM), onde esteve dias atrás, referente à promoção da alimentação saudável nas escolas. “Levar alimentos saudáveis para dentro da escola é reforçar para as crianças exemplos do que é comida de verdade. Quando a indústria introduz os ultraprocessados na merenda escolar, ela quer fazer com que o consumo desses produtos faça parte dos hábitos de consumo diário das crianças, passando inclusive por cima da autoridade dos pais sobre esse assunto”, destacou.
Sobre esse assunto, a secretária nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Lilian Rahal, destacou o conjunto de ações, programas e políticas públicas que tem sido construído e implementado pelo Governo do Brasil, na direção de garantir o Direito Humano à Alimentação Adequada e Saudável. Entre elas, o Decreto que aponta diretrizes para promoção da alimentação saudável nas escolas, o Decreto que institui a Cesta Básica de Alimentos – com ênfase nos alimentos in natura, minimamente processados e processados, além de produtos da sociobiodiversidade local e exclui da lista os ultraprocessados.
A secretária apontou ainda o desafio do enfrentamento da insegurança alimentar e da má alimentação nos territórios urbanos, sobre o qual o MDS lançou a Estratégia Alimenta Cidades. Com base no estudo sobre “Pântanos” e “Desertos’ alimentares – regiões onde há grande oferta de ultraprocessados e baixa oferta de alimentos saudáveis, respectivamente – o Ministério, em parceria com grandes cidades por todo país, vem construindo rotas de implementação de políticas públicas voltadas à promoção da segurança alimentar e nutricional. Citou também, como iniciativa brasileira nessa agenda, o Marco de Referência para Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas, entre outras.
Para a secretária, a grande conquista do Brasil de sair, mais uma vez, do Mapa da Fome – feito esse que resultou de um processo importante, articulado a partir do Plano Brasil Sem Fome – traz consigo dois grandes desafios: do Brasil não voltar para o Mapa da Fome e de promover a alimentação saudável entre a população.
Para isso, conta com uma importante ferramenta, que é o recém aprovado Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, e destacou: “a nossa resposta política é ampliar a discussão, mudando o foco da responsabilidade individual para os Determinantes Comerciais e para o papel do Estado, ao propor políticas estruturantes que levem comida aonde a comida não chega e, principalmente, apoiando as cidades na proposição de ações efetivas. Com isso, o governo federal impulsiona as cidades para transformar os sistemas alimentares.”
Esse desafio, segundo a presidenta do Consea, Elizabetta Recine, deve ser enfrentado por meio da parceria entre governos e sociedade civil organizada, que, na sua opinião é o grande ator de luta pelo Direito Humano à Alimentação Adequada. “Todo momento histórico é desafiador, mas a captura de agendas como a da alimentação saudável e das mudanças climáticas traz um enorme desafio para que a gente pactue um processo de enfrentamento ao que está sendo posto, sem precedentes”, destacou Elizabetta.
A roda de conversa sobre políticas públicas, alimentação e corporações foi uma atividade promovida por meio da parceria do MDS com o portal “O Joio e o Trigo e a ACT Promoção da Saúde.
Assessoria de Comunicação - MDS
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