O poder do sorriso: projetos de palhaçoterapia levam alegria e afeto para hospitais
Ações ajudam a reduzir a ansiedade de pacientes e a humanizar o ambiente hospitalar
Um sorriso tem o poder de quebrar a frieza de um corredor hospitalar, aliviar a tensão antes de um procedimento e, em alguns casos, transformar a experiência de pacientes, acompanhantes e profissionais da saúde. Além de espalhar sorrisos, a palhaçoterapia é reconhecida como uma ferramenta valiosa de humanização, com impactos comprovados no bem-estar psicológico e na melhoria do ambiente de cuidado.
Nos hospitais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), essa prática é incentivada, alinhando-se a uma visão integral da saúde. Iangla Damasceno, chefe substituta do Setor de Gestão da Pesquisa e Inovação Tecnológica em Saúde do Hospital de Doenças Tropicais da Universidade Federal do Norte do Tocantins (HDT-UFNT), explica os benefícios dessa prática. "A atuação dos palhaços de hospital ajuda na redução d a ansiedade, do medo, do estresse e deixa o local mais leve, facilitando a adaptação ao ambiente hospitalar e os procedimentos . Isso reduz o isolamento e promove vínculos afetivos mais positivos ”, reforça.
Formação de profissionais mais humanos
A palhaçoterapia também é um instrumento de formação. Para estudantes da área da saúde, a vivência vai muito além da técnica. "Os alunos aprendem a se comunicar com sensibilidade, empatia e criatividade. A prática reforça valores como respeito, acolhimento, escuta ativa e cuidado centrado na pessoa", completa Iangla.
Um exemplo é o Projeto de Extensão Unidade de Práticas e Ludicidade (Upalu), atuante no Hospital Universitário da Universidade Federal do Vale do São Francisco (HU- Univasf ). A coordenadora , Dulce Santos , conta que os estudantes passam por um curso de formação em técnicas de palhaçaria e atuam em escalas semanais, garantindo atendimento diário nos andares.
"Ser palhaço, para os estudantes, representa a oportunidade de olhar para os usuários como pessoas em todos os seus aspectos. Para os pacientes , é um momento de escapar da rotina pesada . Para a equipe, também representa um momento de entrosamento e de afago no meio da correria diária", relata Dulce.
A estudante de medicina Karina Moraes, de 29 anos, começou a atuar como palhaça ainda na graduação em Farmácia. Para ela, a experiência foi transformadora: "O curso de Farmácia era muito técnico e não nos ensinava a estar com pessoas, ao contrário da palhaçoterapia. Eu aprendi a lidar melhor com a minha timidez, a olhar para mim com mais carinho e, como consequência, para o outro".
Ainda segundo a estudante, o projeto não é simplesmente colocar uma roupa colorida, passar maquiagem e vestir um nariz de palhaço. “É sobre encontros. É sobre afeto. É sobre perceber o outro. E isso faz muita falta em muitos profissionais de saúde ” , enfatiza Karina.
Impacto em diferentes cenários
Os benefícios da atuação do palhaço hospitalar se estendem a todos os setores e faixas etárias, da Pediatria à Geriatria, incluindo Oncologia e unidades como a de Hemodiálise. Nadja Cândido Sens, coordenadora do comitê de humanização do Complexo do Hospital de Clínicas da UFPR, reforça que quando os palhaços surgem nos corredores do hospital, a fisionomia dos pacientes muda, e eles esquecem que estão em um ambiente hospitalar.
Ela relata uma cena marcante em que a chegada dos palhaços transformou o ambiente em uma festa junina no setor de hemodiálise. "Antes dos palhaços chegarem, estavam todos quietos. Quando eles chegaram e começaram a brincar, os pacientes começaram a conversar e a contar piadas. No final, estavam pacientes e funcionários dançando quadrilha. Foi uma mudança emocionante", conta Nadja.
Julia Schaeffer, palhaça da Roda de Palhaço, que atua no Complexo Hospitalar da Universidade Federal do Rio de Janeiro , reflete sobre a essência do trabalho: "Os palhaços e palhaças , ao longo do tempo , vêm nos lembrar de não nos levar tão a sério, da necessidade do cultivo da leveza , revelando ao mesmo tempo nossa fragilidade e a graça singular de cada existência".
Ela observa que, especialmente com crianças, quando o trabalho é bem recebido, é possível testemunhar uma mudança de atitude diante da internação, ajudando a superar procedimentos invasivos e dolorosos. Ações como essas demonstram que levar alegria aos hospitais não é um detalhe, mas uma parte fundamental do cuidado, contribuindo para repensar as instituições de saúde como espaços de vida e comunidade.
Você sabia?
O dia 10 de dezembro foi instituído como “Dia do Palhaço” pela Lei Federal nº 13.561/2017, reforça ndo a importância dessa atividade.
Sobre a Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Por Paulina Oliveira , com edição de Danielle Campos.
A reprodução é gratuita desde que citada a fonte