Agricultura

Marte fica no Rio Grande do Norte? Para um experimento da Embrapa, sim

A 100 km da capital potiguar, no município de Caiçara do Rio do Vento, o Habitat Marte é uma instalação que simula condições espaciais no coração do Semiárido

Agência Gov | via Embrapa
08/12/2025 11:40
Marte fica no Rio Grande do Norte? Para um experimento da Embrapa, sim
Clarissa Castro/Embrapa
Pesquisadores da Embrapa na estação potiguar

Nos dias 17 e 18 de novembro, cinco pesquisadores realizaram experimentos em um ambiente bastante inusitado. A 100 km da capital potiguar, no município de Caiçara do Rio do Vento, o Habitat Marte é uma instalação que simula condições espaciais no coração do Semiárido.

Trata-se de uma infraestrutura avançada da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e coordenada pelo professor Júlio Rezende , um dos participantes da missão. A atividade foi realizada no âmbito da Rede Space Farming Brazil , coordenada pela Embrapa e pela Agência Espacial Brasileira (AEB).

Os demais pesquisadores integrantes da missão são do quadro da Embrapa. Ítalo Guedes e Juscimar da Silva , da Embrapa Hortaliças (DF), especialistas em cultivos em ambientes controlados e em fertilidade do solo, respectivamente, foram responsáveis por montar um experimento com tomates. Renato Torres, da Embrapa Agricultura Digital (SP), testou equipamentos para o monitoramento remoto de cultivos no espaço.

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Já Clarissa Castro , especialista em gestão da qualidade da Diretoria de Pesquisa e Desenvolvimento, se dedicou a elaborar um modelo de gestão voltado a esse tipo de experimento, ainda bem novo, a fim de ser usado em outras missões que envolvam ambientes de simulação aos moldes da base análoga da UFRN. Coube também à pesquisadora averiguar o cumprimento do documento orientador Gestão e Rastreabilidade, recentemente elaborado para garantir a qualidade dos resultados de ensaios e estudos da Rede Space Farming Brazil.

“A estação Habitat Marte é um ambiente de simulação no qual pesquisadores de várias áreas do conhecimento podem aplicar protocolos e pesquisas a fim de entender diferentes fenômenos passíveis de ocorrer no espaço e que necessitam ser testados primeiro aqui na Terra”, explica o professor Rezende.

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Ele conta que as estações espaciais análogas se originaram na região do Ártico, em 2001. A da UFRN começou em dezembro de 2017 e já realizou mais de 200 missões nesses oito anos. A de novembro foi chamada de Missão 226-Embrapa e recebeu até um patch próprio – representação artística em forma de distintivo usado por astronautas em seus trajes.

Embora não simulem variações de gravidade e radiação severa, por exemplo, a que estão sujeitas as bases e estações espaciais, os habitats análogos conseguem reproduzir restrições de recursos e situações psicológicas, físicas e práticas enfrentadas fora do planeta. Com essa finalidade, elas costumam ser instaladas em locais de clima extremo para emular as dificuldades climáticas espaciais. O Habitat Marte é banhado pelo sol escaldante do sertão do Rio Grande do Norte, proporcionando temperaturas máximas de mais de 40°C durante o dia.

“Esses tipos de experimentos em ambientes análogos aos do espaço são importantes para testar o comportamento de equipamentos e da própria equipe, além de ajudar a administrar recursos escassos,” declara a coordenadora da Rede Space Farming Brazil, Alessandra Favero , pesquisadora da Embrapa Pecuária Sudeste (SP).

Guedes reforça que a pesquisa agrícola espacial não traz frutos só para astronautas. “O objetivo inicial foi montar uma estrutura de cultivo em ambiente protegido ( foto ao lado ) que também pudesse ser uma ‘vitrine tecnológica’ de práticas sustentáveis para o cultivo de hortaliças pela população local”, conta o pesquisador. Ele relata que a equipe conheceu as condições locais e visitou uma horta comunitária para avaliar as espécies cultivadas e as práticas agrícolas adotadas.

Para o cientista, esse trabalho ajudou a expandir a atuação da Embrapa em uma região ainda pouco assistida. “Esse experimento também mostrou que sistemas produtivos de alta tecnologia, que economizem água e nutrientes, têm grande potencial em regiões semiáridas”, completa. Alessandra Favero reforça esse ponto, “é um dos nossos objetivos que os produtores e comunidades locais se beneficiem das tecnologias desenvolvidas por trabalhos como esse,” afirma a coordenadora da rede.

O papel do cientista da computação Renato Torres na missão foi o de testar a implantação de dispositivos de internet das coisas (IoT) para automação e monitoramento remoto de uma futura casa de vegetação. “O ambiente espacial oferece condições desafiadoras, fazendo com que novas fronteiras sejam estudadas. Isso possibilita o desenvolvimento de soluções inovadoras com potencial de tornar equipamentos e culturas mais resilientes a condições extremas”, afirma o pesquisador ao lembrar que esses resultados podem ser aplicados também para os desafios climáticos da Terra.

Yoga no espaço: assista

Clarissa Castro ainda contribuiu na missão com uma habilidade extracurricular. Instrutora voluntária de hatha yoga, há mais de uma década, a pesquisadora ministrou uma aula da prática oriental aos participantes da missão. “As condições extremas do espaço, como microgravidade, radiação ionizante e isolamento,  podem causar problemas físicos e psicossociais aos astronautas, por isso, as missões exigem um intenso programa de preparação e condicionamento e a yoga é uma das práticas integrativas que estão sendo testadas para melhorar o bem-estar e a saúde física e mental dos astronautas antes, durante e após as missões espaciais”, conta a cientista para quem as pesquisas sobre o bem-estar humano no espaço compõem uma área que pode ser desenvolvida futuramente nos trabalhos da Rede Space Farming Brazil.


Exercícios de yoga praticados no Habitat Marte gravados em time-lapse

 

Link: https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/105341508/embrapa-participa-de-sua-primeira-missao-espacial-analoga?p_auth=2dGTrAKf
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