Bachelet defende fortalecimento da democracia para um Estado mais efetivo
Ex-presidenta do Chile abordou desafios globais e destacou a necessidade de combater desigualdades como pilares para um Estado mais inclusivo
A ex-presidente do Chile e alta comissária de direitos humanos, Michelle Bachelet, defendeu o fortalecimento da democracia para um Estado mais efetivo em sua palestra magna sobre os principais desafios globais e regionais que moldam o papel do Estado no século 21, na cerimônia de abertura do 29º Congresso Internacional do Centro Latino-Americano de Administração para o Desenvolvimento (Clad) – organização pública internacional que visa a modernizar a administração pública na América Latina e no Caribe.
O evento discute a Reforma do Estado e da Administração Pública, na sede da Escola de Administração Pública (Enap), em Brasília (DF). Em um discurso profundo e carregado de otimismo, Michelle Bachelet refletiu sobre a crise climática, as desigualdades sociais e o enfraquecimento das democracias, convocando os líderes presentes a serem agentes de transformação, e destacou os principais desafios globais e regionais que moldam o papel do Estado no século XXI.
A ex-presidenta do Chile iniciou sua fala compartilhando seu vínculo com o Brasil e sua paixão pela música brasileira. Em seguida, abordou o contexto global, classificando 2023 como o ano com o maior número de conflitos armados desde 1945. "Vivemos em um mundo com grandes desafios, grandes crises, uma quantidade enorme de incertezas e instabilidade”, afirmou, destacando que “se não formos capazes de nos integrar e de ter um multilateralismo forte, é muito provável que não sejamos capazes de superar esses tremendos desafios”.
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América Latina e os desafios da desigualdade
Ao focar na realidade latino-americana, Michelle Bachelet apontou que, embora a região tenha alcançado avanços em áreas como saúde e educação nas últimas décadas, muitos retrocessos ocorreram após a pandemia. Ela destacou que mais de 97 milhões de pessoas foram empurradas para a extrema pobreza durante a crise sanitária, o que reverteu anos de progresso na redução da desigualdade.
"A pandemia de covid-19 mostrou com toda clareza a importância dos Estados no setor público. Alguns fizeram melhor que outros, mas, se não fosse pelos Estados, a verdade é que não teria havido resposta a uma tragédia tão grande. Porque foram os Estados que buscaram soluções reais à pandemia e ofereceram respostas às necessidades dos cidadãos."
A alta comissária de direitos humanos também alertou para o aumento do autoritarismo e a fragilidade das instituições democráticas. Citando dados recentes do Latinobarómetro, ela destacou o crescimento de pessoas que preferem regimes autoritários a democracias que falham em entregar resultados. “Devemos proteger a democracia. Acredito que a democracia é o único sistema capaz de manter a paz, o único sistema que visa alcançar o desenvolvimento sustentável, atendendo às necessidades fundamentais de todas as pessoas e não apenas de algumas poucas. E isso está diretamente ligado à necessidade de termos um Estado efetivo”, defendeu.
"Acredito que há que se ter um Estado forte, musculoso, que tenha a possibilidade de responder aos desafios. Isso é o que se necessita. Mas forte também no sentido de sólido. É importante que o Estado tenha certas características para que possamos acelerar o progresso de nossos países", completou.
Um chamado à ação coletiva
A ex-presidenta chilena encerrou seu discurso com um apelo inspirador para a ação coletiva e a integração regional. “A América Latina precisa fortalecer seu diálogo e sua cooperação”, apontou. “Esta é a região com o menor nível de comércio intrarregional, e isso é absurdo. Temos tantas potencialidades e tantas possibilidades" declarou. Ao final de sua palestra, Bachelet reafirmou seu compromisso com a esperança e a transformação. “Que sigamos trabalhando com urgência, amor e respeito para garantir um futuro melhor para todos.”
Com suas palavras, Michelle Bachelet concluiu a abertura do congresso com reflexões profundas e urgentes, lançando as bases para as discussões que ocorrerão ao longo dos próximos dias. “Eu acredito que o mundo está mudando, que é um mundo complexo, com desafios enormes, mas quero convidá-los a não desistir. Que sigamos trabalhando com entusiasmo, com sentido de urgência e compromisso, com amor e respeito, para garantir a todos e todas um presente e um futuro melhores."
Sobre o Congresso do Clad
O 29º Congresso Internacional do Clad sobre a Reforma do Estado e da Administração Pública, realizado entre os dias 26 e 29 de novembro, em Brasília (DF), é promovido pelo Centro Latino-Americano de Administração para o Desenvolvimento e realizado pela Escola Nacional de Administração Pública (Enap) em parceria com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI) e a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso).
Com 150 horas de atividades na programação, o Congresso contará com mais de 700 participantes, incluindo ministras e ministros de diversos países, secretários de Estado, parlamentares, servidores públicos, sindicalistas e especialistas internacionais. Os debates e sessões têm como objetivo discutir temas como inclusão, democracia e inovação na gestão pública, alinhados às transformações necessárias para tornar o Estado mais eficiente e inclusivo.
Informações: https://clad.enap.gov.br/
Programação: https://clad.enap.gov.br/index.php/pt/programacao
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