Povos indígenas

Indígenas Guarani-Kaiowá participam de oficinas de autoproteção para LGBTQIA+

Ao longo de quatro dias, 30 indígenas receberam orientações sobre como identificar e denunciar violações

Agência Gov | Via MDHC
26/11/2024 10:51
Indígenas Guarani-Kaiowá participam de oficinas de autoproteção para LGBTQIA+
João Macedo/MDHC
Os participantes receberam dicas de proteção sobre como identificar ameaças dentro e fora da comunidade

É por meio da rima que o artista indígena Douglas Fernandes Lopes, 22 anos, promove a diversidade Guarani-Kaiowá. “A homofobia habita vários lugares: na escola, na rua, em casa. Ela se manifesta a qualquer hora e lugar”, conta o integrante da Aldeia Bororo, em Dourados (MS). “A gente sofre com preconceito e perseguições, principalmente quando a gente se assume para a sociedade – inclusive com ameaças de morte dentro das aldeias”, revela.

Territórios rurais e indígenas Guarani-Kaiowá sofre com altos índices de suicídio
Territórios rurais e indígenas Guarani-Kaiowá sofre com altos índices de suicídio

O jovem rapper de 22 anos foi um dos 30 indígenas LGBTQIA+ a participar da Oficina de Autoproteção e Educação Popular em Saúde e Direitos Humanos LGBTQIA+ que ocorreu entre quinta (21) e o último domingo (24), na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), parceira do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC). A atividade visa formar lideranças locais para identificar e denunciar violações de direitos e construir um diagnóstico sobre violência contra pessoas LGBTQIA+ indígenas.

Durante quatro dias, ações de educação e conscientização sobre a prevenção e o combate à violência LGBTfóbica das comunidades Guarani Kaiowá buscaram fortalecer estratégias de autoproteção, utilizando linguagem clara e acessível, e respeitando as especificidades culturais.

Os participantes receberam dicas de proteção sobre como identificar ameaças dentro e fora da comunidade; orientações para, sempre que possível, andar em grupos; ⁠evitar ingerir bebidas alcoólicas em ambientes desconhecidos; e ⁠construir uma rede de apoio na comunidade com aliados e pessoas LGBTQIA+. Leis e encaminhamentos ao Disque 100, canal do MDHC, também foram apresentadas.

Oficinas são um desdobramento das oitivas realizadas em outubro na região
Oficinas são um desdobramento das oitivas realizadas em outubro na região

Um dos palestrantes, o coordenador do programa Bem Viver+ da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+, Wesley Lima, falou sobre o protocolo de autoproteção que inclui medidas de apoio psicológico e parcerias com grupos locais que possam ser acionados em situações de violações. “É fundamental que esse protocolo esteja conectado à realidade das aldeias indígenas do Mato Grosso do Sul”, afirma.


Troca de conhecimento

Ao todo, os encontros contaram com a participação de dez formadores convidados. Entre as atividades realizadas, também estão palestras com representantes populares que dominam a temática religiosa tradicional e a história do povo Guarani-Kaiowá, rodas de diálogos com escutas das pessoas indígenas LGBTQIA+ e grupos de discussão.

As oficinas dão visibilidade à diversidade Guarani-Kaiowá e colocam em discussão um tema delicado e que, muitas vezes, tem tirado a vida de indígenas LGBTQIA+, aponta o coordenador regional da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em Ponta Porã (MS), Tonico Benites. “O próprio movimento está aprendendo a fazer denúncias e a quem recorrer quando sofre ameaça”, aponta. “Essa atividade vem falar para os indígenas LGBTQIA+ que eles não estão sozinhos nessa luta”, reitera.

Violência e suicídio

Os territórios rurais e indígenas Guarani-Kaiowá sofre com altos índices de suicídio e diferentes formas de violência. De acordo com o relatório anual do Conselho Missionário Indigenista (Cimi) sobre a violência contra os povos indígenas, o número de casos de suicídios entre indígenas no Brasil passou de 115, em 2022, para 180, em 2023 – um aumento de 53%.

A maioria das vítimas são homens de 20 a 59 anos. O Amazonas lidera entre os estados com as maiores taxas, com 66 registros, seguido do Mato Grosso do Sul, com 37, e de Roraima, com 19.

Oitivas

Estima-se que 7 mil indígenas Guarani-Kaiowá vivam na região de Dourados
Estima-se que 7 mil indígenas Guarani-Kaiowá vivam na região de Dourados

As oficinas são um desdobramento das oitivas realizadas em outubro na região e que contou com a participação de 400 pessoas. A atividade integra o Programa Nacional de Enfrentamento à Violência e de Promoção dos Direitos Humanos das Pessoas LGBTQIA+ nos territórios do Campo, das Águas e das Florestas – Bem Viver+.

Promovida pelo MDHC em parceria com a Funai, Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (Fiocruz), Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e Secretaria de Estado da Cidadania do Mato Grosso do Sul, a iniciativa visa fortalecer a luta contra a violência e promover os direitos de pessoas LGBTQIA+.

Guarani-Kaiowá

Estima-se que 7 mil indígenas Guarani-Kaiowá vivam na região de Dourados (MS). A área de 12 mil metros quadrados foi demarcada pela Funai em 2011, mas ainda aguarda decisão judicial.

 

Link: https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/noticias/2024/novembro/no-ms-ministerio-promove-oficinas-de-autoprotecao-voltadas-a-populacao-indigena-lgbtqia
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