Reduzir a concentração de renda é o primeiro passo para criar uma economia mais justa e inclusiva
No segundo painel do G20 Talks, especialistas debatem desigualdades, taxação de grandes fortunas e a construção de uma nova arquitetura financeira global
O patrimônio das seis pessoas mais ricas do Brasil equivale à renda de metade da população brasileira. O empresário Eduardo Moreira, fundador do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), fez questão de destacar essa informação ao abrir o painel Nova Arquitetura Financeira Global, nesta sexta-feira, 15 de novembro, no G20 Talks.
A atividade reforçou o protagonismo brasileiro nos debates sobre justiça social e sustentabilidade, dando a linha dos diálogos promovidos no âmbito do CRIA G20. Na abertura, Moreira ressaltou que políticas públicas — como a taxação de grandes fortunas — são essenciais para promover justiça social. "Não é possível falar de sustentabilidade sem abordar a concentração de renda e a necessidade de redistribuição econômica", ressaltou.
Com moderação do empresário, o G20 Talks ainda contou com a participação do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, da economista alemã Isabella Weber e da influenciadora Nath Finanças, nome pelo qual é conhecida a especialista em educação financeira Nathália Rodrigues.
PAPEL DO BRASIL NA REGLOBALIZAÇÃO — Galípolo trouxe uma perspectiva histórica sobre a arquitetura financeira global, explicando sua consolidação com o dólar como moeda dominante e o atual movimento de líderes globais em busca de alternativas.
Ele destacou a posição estratégica do Brasil, que busca “reglobalizar”, com foco em justiça social e sustentabilidade. Segundo Galípolo, a história recente do país, marcada por sua democracia robusta, dá ao Brasil um lugar de destaque na busca por soluções colaborativas no G20.
IMPACTO DA ECONOMIA GLOBAL NO COTIDIANO — Nath Finanças conectou o debate ao dia a dia das pessoas, explicando como fatores como a taxa Selic e a inflação impactam desde financiamentos imobiliários até a compra de alimentos básicos. “A Selic afeta diretamente a vida das pessoas, seja na compra de uma casa ou até mesmo no preço do tomate. Por isso, é urgente falar sobre educação financeira e como o Banco Central influencia nossas vidas”, argumentou.
Nath também abordou questões de gênero e raça, destacando que mulheres negras no Brasil recebem, em média, 47% menos do que a média nacional. Ela reforçou a importância de incluir esses dados na construção de políticas públicas e defendeu a regularização de práticas financeiras, como apostas esportivas, que impactam desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.
SUSTENTABILIDADE E INCLUSÃO ECONÔMICA — Isabella Weber ampliou o debate, destacando os desafios trazidos por crises globais, como a pandemia ou a guerra na Ucrânia, que exacerbam desigualdades e comprometem a sustentabilidade econômica. “Estamos vivendo um momento em que é crucial pensar em soluções colaborativas para estabilizar a economia e garantir justiça climática”, afirmou. Ela citou exemplos práticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, para ilustrar a conexão entre crises climáticas e desequilíbrios financeiros.
ESPERANÇA PARA O FUTURO DO G20 — Ao final, os participantes compartilharam suas expectativas para a cúpula do G20, que acontecerá nos próximos dias. Nath Finanças enfatizou a importância de discutir saúde mental, física e financeira no contexto da qualidade de vida dos trabalhadores.
Isabella Weber defendeu a inclusão da sociedade civil nos debates e políticas do G20. Já Gabriel Galípolo afirmou que o Brasil sairá do evento com propostas concretas para uma aliança global de sustentabilidade e justiça econômica.
O painel foi mais um passo importante na construção de um espaço de circulação de ideias, promovendo debates que almejam um futuro econômico mais inclusivo e sustentável para todos.
JANJA LULA E ALEXANDRE PADILHA — Acompanharam o painel na plateia, a primeira-dama e socióloga Janja Lula da Silva e o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais). A presença de ambos reforçou o compromisso do governo brasileiro em liderar debates sobre temas cruciais para o futuro econômico global.
O QUE VEM POR AÍ — Amanhã, 16 de novembro, último dia do CRIA G20, o enfrentamento às mudanças climáticas estará no centro das discussões dos G20 Talks. O painel do G20 Talks, moderado pelo ator e ativista Sérgio Marone, vai reunir vozes emblemáticas do ativismo climático, como a jovem Licypriya Kangujam, referência internacional na defesa ambiental, o líder indígena brasileiro Tukumã Pataxó, reconhecido por sua luta pela preservação dos territórios e culturas indígenas, e Tori Tsui, defensora da justiça climática e inclusão social.
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