'Não é só questão de justiça, mas também de excelência', diz Luciana Santos sobre mulheres na ciência
Ministra conversou com radialistas no programa Bom Dia, Ministra, nesta quarta-feira (12), e destacou, entre outras ações, o Prêmio Mulheres e Ciência, que será entregue a seis mulheres e três instituições

As conquistas do governo brasileiro nas áreas de ciência e tecnologia foram assunto do programa “Bom dia, Ministra”, desta quarta-feira, 12 de março. Luciana Santos, titular do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), conversou com radialistas e abordou as iniciativas que colocam o Brasil em destaque ao participar da corrida tecnológica internacional, bem como as medidas em curso para incentivar a participação feminina no setor.
Às vésperas de completar 40 anos, o MCTI prepara uma série de ações para marcar a data, ao longo do ano. Durante a entrevista, a ministra enfatizou o período de criação da pasta, que representou enorme avanço para o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. O MCTI foi criado em 1985 e teve o cientista Renato Archer como primeiro titular.
“Nos 40 anos do nosso Ministério, a gente pode festejar que foi um grande avanço e uma grande conquista para a política de ciência e tecnologia brasileira — e coincidiu com a abertura democrática do país. Logo depois, tem o Instituto do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia. Vamos fazer um ano inteiro de comemoração. O nosso Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia está em festa”, afirmou Luciana.
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QUEM PARTICIPOU — Participaram do “Bom dia, Ministra” as rádios Nacional Brasília, Amazônia e Alto Solimões (Distrito Federal); Norte FM (Manaus/AM), Banda B (Curitiba/PR); CBN Recife (Recife/PE); Verdinha (Fortaleza/CE); e Educadora (Coronel Fabriciano/MG).
Transmissão realizada pelo CanalGov
PRÊMIO — O MCTI tem investido em diversas iniciativas para estimular a participação de meninas e mulheres no campo da ciência, tecnologia e inovação. No programa, a ministra destacou as políticas públicas voltadas tanto para o acesso quanto para a permanência feminina nessas áreas.
Uma dessas iniciativas é o Prêmio Mulheres e Ciência, que será entregue nesta quarta-feira (12) a seis mulheres e três instituições científicas em diferentes categorias e áreas do conhecimento. A premiação destaca a excelência científica e tecnológica, com foco na aplicação do conhecimento em diferentes áreas, além de promover a diversidade, pluralidade e equidade de gênero no ambiente científico.
“São vários prêmios que a gente faz nessa área para estimular a participação feminina, de meninas e mulheres na ciência e na tecnologia. São meninas de diversas regiões do país. Foram R$ 500 mil que nós colocamos nesse edital do CNPq, que foi lançado no ano passado, na 1ª Semana Nacional de Ciência e Tecnologia”, detalhou.
A primeira edição recebeu 1.134 propostas, sendo 697 na categoria “Estímulo”, 410 na categoria “Trajetória” e 27 na categoria “Mérito Institucional”, refletindo a grande adesão e o interesse.
EQUIDADE DE GÊNERO — Luciana Santos mencionou que, apesar de as mulheres serem maioria nas universidades brasileiras e nas bolsas de iniciação científica, a participação feminina diminui significativamente nos níveis mais altos da carreira acadêmica. Segundo a ministra, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) está enfrentando esse desafio e implementando políticas que flexibilizam prazos para pesquisadoras que engravidam, por exemplo.
“Na área de TI ainda é impressionante. Somos 16% na área de Tecnologia da Informação, que é uma profissão do presente e do futuro, e nós queremos estimular. Então, a gente tem o Futuras Cientistas: conseguimos fazer com que 80% dessas meninas passem no Enem e mais de 70% delas escolhe a área de ciências exatas da natureza”, disse a ministra.
Além do Futuras Cientistas, programa do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) que estimula o contato de alunas e professoras da rede pública de ensino com as áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, outras iniciativas importantes para aumentar a participação de mulheres incluem a criação de bolsas Beatriz Nascimento de Mulheres na Ciência, a parceria com o Ministério da Igualdade Racial, e o programa Mulheres Inovadoras, que estimula startups lideradas por mulheres.
“Esses são alguns exemplos das políticas que a gente vem desenvolvendo para a participação das mulheres, não só o acesso, mais do que o acesso é a permanência e a ascensão das mulheres na ciência e tecnologia, porque isso não é só uma questão de justiça, isso também é uma questão de excelência”, enfatizou Luciana.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL — Entre os principais projetos no marco de 40 anos do MCTI está o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), destacado pela ministra durante a conversa com as rádios. Ela enfatizou os avanços nessa área, com investimentos em infraestrutura tecnológica para o desenvolvimento de soluções em IA.
“Não é possível a gente conseguir produzir soluções em IA sem ter supercomputadores potentes. Precisamos de ter uma infraestrutura de hardware que tenha capacidade de armazenar e processar com mais rapidez. Visitei o nosso supercomputador Santos Dumont , do LNCC, que é o Laboratório Nacional de Ciência da Computação, que fica em Petrópolis (RJ). Ele simplesmente saiu da posição de estar entre os 500 mais potentes do mundo para o top 100, o que é um salto extraordinário para a própria política de inteligência artificial”, comentou.
DOMÍNIO DE DADOS — De acordo com a ministra, são mais de 35 ações de curto prazo, sendo que mais da metade delas são voltadas para a área da saúde. Outro ponto são os recursos para fortalecer a segurança e o controle dos dados nacionais, em que há um interesse global, segundo a ministra. “O grande desafio da ciência de dados é o domínio dos dados, e o Brasil tem um patrimônio que é cobiçado pelo mundo. Todas as big techs querem ter acesso ao SUS, querem ter acesso à produção da Embrapa, querem ter acesso à produção científica brasileira, e esses dados precisam ser nossos,” disse Luciana.
A ministra também citou outras obras, incluídas no PAC, como Sirius, Orion, Reator Multipropósito (RMB) e a transformação Digital em curso no país. Além disso, o país está investindo no desenvolvimento de Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs) em português — para evitar erros em sistemas de IA. Até 2026, serão investidos R$ 26 bilhões por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
CAPACITAÇÃO — Para evitar desigualdades no acesso a esse tipo de tecnologia, a ministra apontou as ações de capacitação em IA com os Centros de Competência. “Esse é um foco que temos muita preocupação, porque nós não podemos deixar que esse abismo apareça, e nós estamos investindo fortemente na capacitação. Existem 11 centros de competência no Brasil, desses nós montamos três ou quatro que são para soluções diferenciadas. Cada um desses 11 centros de competência que estão espalhados pelo país tem desafios diferentes”, afirmou Luciana.
RELEVÂNCIA — A ministra também abordou alguns desafios que o país tem superado para se destacar na corrida tecnológica. Mencionou a recomposição de fundos para pesquisa, como o FNDCT, como um dos fatores para esse destaque. “Pela diversidade que a gente tem, quando a gente investe, a resposta é muito rápida. E como nós somos um país aberto, somos um país que tem um histórico de cooperação internacional, nós também temos a capacidade de ter transferência de tecnologia que apressa a curva de aprendizado. Aliás, essa é a nossa história”, afirmou.
Luciana ressaltou que o Brasil tem uma posição relevante na ciência global, sendo o 13º em produção científica. “Temos a condição de acompanhar o ritmo das mudanças que estão acontecendo no mundo, pela nossa capacidade instalada, pela produção científica que a gente tem no Brasil, que é a 13ª do mundo. Poucas pessoas sabem disso, mas nós somos reconhecidos internacionalmente pela capacidade de produção. Precisamos traduzir isso em produtos e serviços”, destacou a ministra.
COP30 — A titular do MCTI também registrou que o ministério já deu início aos preparativos para a COP30. Um Grupo de Trabalho foi formado para definir as estratégias para a participação do ministério na Conferência climática, que será realizada em novembro. “Nós estamos totalmente integrados na preparação da COP30. Quando o presidente Lula esteve lá em Belém, eu participei, anunciando e assinando os anúncios tanto do Museu das Amazônias como também da Pesquisa em Rede, não só para o Brasil, mas também para os estados amazônicos”, disse.
BRICS — Outro evento importante e que o ministério tem grande participação é com o BRICS, que está sob presidência brasileira durante 2025. “No BRICS, o Ministério da Ciência e Tecnologia tem cinco projetos estratégicos com os chineses. Entre eles, os radioisótopos, que nós somos dependentes muito dos russos e a gente tem que diversificar e tem que ser autônomo. Então, será uma das parcerias, no caso do Radioisótopos com o BRICS. Nós estamos a todo vapor animados com essa possibilidade”, explicou a ministra.
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